quinta-feira, 14 de junho de 2012

O rigor e o tambor

O enviesamento da informação, fazendo de nós todos tolos, é cada vez mais insuportável. Sobretudo quando vem da RDP, serviço público que pagamos, para informar com rigor.
A propósito do Relatório do Observatório da Saúde, que conclui por indícios de racionamento na prestação de cuidados, a RDP emitiu, esta manhã, uma reportagem feita em dois hospitais. Ia no carro e ouvi. Cito de cor, mas o sentido é autêntico.
Jornalista: Então a saúde está a sair-lhe caro? Adivinha-se a resposta: os medicamentos, as deslocações, um rosário de dificuldades.
Jornalista, agora para outro doente: Então está a diminuir as suas idas ao médico? As taxas moderadoras...
Pois é, dizia o doente, se ganhasse bem, vinha mais vezes…agora com as taxas moderadoras…
E continuou o rol de perguntas da mesma espécie e teor, feitas de encomenda para a resposta pretendida.
Especialmente reveladora foi a resposta do doente que dizia que sem taxas moderadoras iria mais vezes ao médico. Mas não foi precisamente para evitar consultas por tudo e por nada que se instituíram em todo o mundo as taxas moderadoras? Que, em todo o caso, não atingem os mais necessitados, nem certas doenças, como se sabe.
À tarde, e a propósito do fecho da Maternidade Alfredo da Costa, uma reportagem com entrevista à Presidente de uma qualquer Plataforma contra o encerramento. Pergunta da jornalista: O que é que o encerramento põe em causa? 
Claro que ninguém esperaria que a resposta fosse diferente da que foi: punha em causa o serviço, os utentes, os funcionários, a qualidade, etc, etc.  
Informação com perguntas fechadas que naturalmente encerram em si a resposta, não é rigor. É mero tambor, de sons e slogans repetitivos ao serviço de interesses políticos ou corporativos. Lamentável que a RDP, serviço público que pagamos, se preste a ser um mero tambor e voz desses interesses.

4 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,

    gostava também de fazer notar o facto do Observatório da Saúde apresentar suspeitas de indícios naquilo que deveria ser já nomeado para o prémio de excelência da administração pública. Um observatório que não observa, suspeita. Devia talvez ser o "Suspeitório da Saúde".

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  2. Brilhante, caro Tonibler!
    Um Observatório que, à falta de observação, fala de suspeição, e à falta de factos, fala de indícios, é mesmo um Suspeitório.
    Suspeita, logo existe!

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  3. recebi esta notícia no meu e-mail.Alguém me quer informar,com verdade,se corresponde à verdade?
    «"Em 1980 Cavaco Silva, então ministro das Finanças,
    Sobe os gastos orçamentais, valoriza o escudo, aumenta as importações. O défice das transacções correntes sobe de 5% do PIB em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa aumenta de 467 milhões de contos em 1980 para 1199 milhões em 1982. Perante o descalabro, em 1983, o novo governo da AD vê-se obrigado a subir as taxas de juro 4 pontos, e a vender 50 toneladas de ouro para financiar as contas externas. O desnorte é total.
    Desmantelamento do sector das pescas, silvicultura e da agricultura em Portugal, a troco de ajudas financeiras da UE. A maioria dos agricultores e pescadores passaram a receber para não produzirem, arrancarem árvores (vinhas, oliveiras, árvores de fruto, etc.) ou abandonaram a sua actividade piscatória, contribuindo desta forma para o aumento da dependência alimentar de Portugal de países como a Espanha e França.
    Entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva e o governador do Banco de Portugal ao tempo Tavares Moreira".
    Agradecido

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  4. Caro Francisco Carvalho:
    E respondeu ao e-mail?

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