sexta-feira, 13 de julho de 2012

A alegria de gastar

Hoje ouvi um programa creio que na TSF sobre o sentimento dos espanhóis na crise, alias, dos portugueses que vivem em Espanha. Todos falaram da mudança de hábitos, da falência de lojas, restaurantes e cafés, da quebra da “movida” e da transferência do hábito de beber copas para as ruas, agora compra-se as bebidas nos supermercados e juntam-se os grupos nos passeios e nos parques a beber cerveja. Mas, a certa altura, um cidadão resumiu o assunto – “Já não se gasta dinheiro com alegria”.
Talvez o esplendor das décadas que acabámos de viver se possa resumir dessa maneira, o prazer de consumir, de poder comprar, de gastar sem pensar muito na utilidade da despesa ou na falta que o dinheiro faria no futuro. Acreditámos na felicidade de ter dinheiro, de o dinheiro ser fácil de obter, mesmo que emprestado a juros que logo se vê como se pagam, acreditámos que o crescimento prometido estava garantido e que a Europa se iria impor como o mercado mais próspero e avançado do Universo.
Convenhamos que todas as políticas e discursos europeus foram convincentes, ao ponto de gerações inteiras terem acreditado nessas vozes de sereia. Agora, foi-se essa alegria e está muito difícil encontrar outras que a substituam. Já não sei que filósofo dizia que “o pior na desgraça é já termos sido felizes”. Ou seja, mudar uma sociedade de consumo para uma regra de pobreza e privação cria uma infelicidade profunda, ao menos enquanto existir a memória dessa prosperidade.

15 comentários:

  1. Cara Drª Suzana,
    Penso que a frase proferida pelo cidadão, no programa de radio que ouviu, tinha como disse, o sentido da utilidade da despesa.
    As facilidades em obter dinheiro, que a cara Drª refere, retiraram a uma boa parte dos cidadãos, o sentido dessa utilidade.
    Se pensarmos no tempo passado recente dos nossos pais, reconhecemos fácilmente esse sentido, independente da maior ou menor abundância de meios económicos que possuíssem.
    Mas tudo isto se alterou, devido à gula incontida dos bancos.
    Recordo-me de em certa altura me dirigir ao banco onde possuo conta, com a intenção de saber condições para contrair um empréstimo. Pretendia fazer umas obras de remodelação na minha habitação e, depois do projecto e dos orçamentos, sabia que iria necessitar de uma determinada quantia. Como essa quantia era de valor reduzido, a funcionária do banco que me atendeu, tentou convencer-me a contrair um empréstimo de maior valor, aliciando-me, perante a minha recusa, com a possibilidade de com o dinheiro excedente, poder viajar ou trocar de carro.
    Quase que nos zangámos, devido à insistencia da senhora, mesmo após as minhas repetidas recusas.
    Ora perante esta crise por que passamos e recordando-me desse episódio, percebo perfeitamente porque razão muitas pessoas se encontram completamente falidas, ainda por cima, acrescentando o facto do aumento do desemprego.

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  2. É mesmo a "cara" da TSF...Entrevista um marmelo qualquer e passa ser notícia. Ou escolherem aquele que interessa ser notícia.

    Já deixei de ouvir esse lixo "jornalístico" há anos e espero que a falta de "publicidade" do estado mate essa porcaria de vez.

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  3. Belo apontamento, Suzana. Uma prosperidade a que nem todos tiveram acesso, mas que agora pagam como se tivessem tido. É o problema das crises e das suas terapias, a factura não é paga necessariamente por quem as causou ou que delas se tenha servido ou beneficiado, pelo contrário muitos dos que ficaram de fora do consumismo pagam agora injustamente a factura que não lhes é devida.

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  4. Cara Suzana:
    Há mar e mar e há ir e voltar. E mais marés que marinheiros. E depois da tempestade vem a bonança. Não se pode esquecer a sabedoria de milénios. Também há muito que há ciclos económicos. O mal não é eterno.

    Caro Bartolomeu:

    Diz que "tudo isto se alterou, devido à gula incontida dos bancos". Não. Tudo isto se alterou devido à gula incontida dos políticos por votos, que os levou a gastar o que o país não tinha. Espalhando a esmo dinheiro alheio, pensando que não era para pagar.
    Foi o excesso de despesa pública, não o excesso de despesa privada, que levou a esta situação.
    Claro que há casos, infelizmente muitos, de endividamento pessoal excessivo. Gula de alguns bancos, que não mediram o risco. Mas gula também de quem se endividou, sabendo que não o podia fazer.
    Caro Tonibler:
    Claro que há uma selectividade ideológica na escolha dos entrevistados. Chama-se a isso critério jornalístico pautado pela objectividade.

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  5. Caro Dr. Pinho Cardão, apontei a gula dos bancos, como sendo "um" motivo. Não o único.
    Mas diga-me o caro Amigo, por favor. Acha que os portugueses estariam no mesmo aperto se a tempo, o governo interviesse, regulando e protegendo o endividamento privado?
    É claro que sei, que uma coisa leva a outra e que no final, os que ganham são somente os bancos e os políticos governantes, porque assim se cria uma falsa riquesa e atrás dela vêm outras falsidades, muito convenientes à política e a quem dela retira dividendos.
    Insisto;
    Consegue o meu estimado Amigo, Dr. Pinho Cardão imaginar, como estaríamos (toda a sociedade) se - quando o empréstimo fácil de dinheiro começou a estender os seus tentáculos e a levar à contracção de crédito sobre crédito, sobre crédito, sobre crédito, cidadãos que viviam de um ordenado médio, muitos com um agregado familiar constituído por filhos pequenos - as entidades reguladoras agissem, se o governo legislasse, se impusesse regras de contenção, se impedisse o aparecimento de publicidade enganosa, aliciante e pressistente ?
    O(s) Governos poderiam da mesma forma ter contraído créditos excessivos, terem ggerido mala despesa, terem de recorrer a medidas recessivas, mas os cidadãos, os motores do país, não estaríam como estão com as bielas empenadas, os segmentos gastos e os cilindros riscados, em suma; sem acompressão suficiente para fazer andar o veículo...

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  6. Suzana: nada e novo a nao ser que depois do " flagelo automóvel", da " intensidade televisao" e da " rapidez internet" tinha de voltar a calma de " olhar os lírios do campo.E a seu tempo outro consumismo voltara para nos relembrar que " os nórdicos" nao só teem mais frio como teem menos calor nas ondas de calor consumista.Esta Europa onde estamos, potenciou os nossos vícios e prometeu-nos o céu se consumíssemos.Agora cobra-nos o facto de nao exportarmos sol low cost:))

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  7. Caro Bartolomeu:
    Pergunta-me se acho " que os portugueses estariam no mesmo aperto se a tempo, o governo interviesse, regulando e protegendo o endividamento privado?".
    Claro que não. E esse é o melhor argumento para "eliminar" o seu argumento quanto à responsabilidade dos Bancos. Estes actuam no quadro legal e regulamentar em vigor. E, se não actuam, devem ser penalizados.

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  8. Pois, caro Dr. Pinho Cardão mas; como nem uma coisa nem outra sucedem...
    Ou seja, os bancos actuam de acordo com um "figurino" que não os penaliza, quando actuam irresponsávelmente... e nada os impede de seduzir enganosamente os clientes, assim como de lhes cobrar taxas absurdas e serviços inexistentes, ficamos sempre no mesmo limbo, com a agravante; sempre que um banco vai à falência, o Estado suporta os prejuízos.
    Ora diga-me lá o meu estimado Amigo, se conhece alguma empresa privada que depois de falir, tenha sido ressuscitada pelo Estado?!
    Eu, não!

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  9. Tantas, caro Bartolomeu, que o Estado não deixa falir.
    Quanto a Bancos, só conheço um, que o governo PS não deixou que uma administração (de M.Cadilhe) o reestruturasse, e também não o deixou falir.

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  10. ;))))
    Ok, caro Amigo, sendo assim... acho que ficou tudo dito.
    ;))))

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  11. Então já conhece dois, outro que o estado mandou para lá um administrador da Caixa.


    O que é outro mistério, não querem deixar falir o banco e mandam para lá administradores da Caixa? Não se percebe...

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  12. Ora, caro Tonibler... isso é uma prova de que não temos um governo iconoclasta...
    ;)))

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  13. Esperem, já conto 3 bancos...

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  14. Quatro, com o BPP...

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  15. Caro Bartolomeu, ainda na altura do governo do Eng. Guterres começou a alertar-se para a escalada de endividamento das famílias, salvo erro até se criou nessa altura um gabinete de acompanhamento dos endividados.No entanto, tudo continuou como se se tratasse das "cassandras" do costume. Depois, é o que se sabe,quem não se endividava não "aproveitava" a circunstância, os reguladores regulavam outras coisas, enfim, tudo convergiu para que se continuasse alegremente nesta rota. Como se dizia naquele documentário Inside Job, se todos estavam a ganhar porque é que se havia de parar?
    Caro Tonibler, é melhor parar de contar...!
    Margarida, agora é preciso secar a liquidez dos que não se deixaram arrastar para a falência, ao mesmo tempo que se confirma a necessidade de haver poupanças, contradições, claro, mas é a necessidade.
    Pinho cardão, sem dúvida, não há mal que nunca acabe nem bem que sempre dure, o pior é enquanto não acaba ou não se sabe como é que acaba.
    Caro Francisco, mas havemos de exportar eletricidade do vento, por exemplo, ou exportamos outras energias como a dos jovens que não encontram emprego por cá, não tenho nada contra a vida bucólica ou a simplicidade dos hábitos, mas ser velho, só e pobre e terrível.

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