Sai ladeado do tempo, assusta-me a sua companhia. Ainda bem que me ignora. Prepotente. Insensível aos desejos, surdo aos pedidos, não precisa de esperar ou de adiar o que quer que seja. Não necessita vangloriar-se do seu poder, isso sabe ele muito bem. Mesmo assim deixei que me acompanhasse. Paro. Descanso na subida, ele também para, não para descansar, não precisa, ele é dono de tudo. A brisa suave da tarde obriga-o a esvoaçar mesmo à minha frente e as andorinhas põem-se em cima às cavalitas. Ao fundo, as duas serras embrulhadas em névoa adormecem, escapando aos seus efeitos.
Curioso, pensa-se no tempo e ele obedece, fica mais lento, mais dócil, não sei se ele sente isso, mas eu sim. Somos feitos da mesma substância, mas eu penso, ele não, penso nele e na vida. É a mesma coisa, tempo e vida, não os compreendo, mas sinto-os. Eis aqui, a meu lado, uma vida que foi feita de tempo, tempo que não respeita a sua vida. Mas eu obriguei-o a parar. Por momentos? Sim. E agora? Agora libertei-o, não é fácil mantê-lo preso, mas só até ao momento em que um dia da vida de um ser humano se transforme na eternidade. Nessa altura desaparece o tempo. Ainda bem que não é eterno.
Tempo e espaço, dois mistérios que nos acompanham. Um, eterno, outro infinito.Que o homem vem dominando a pouco e pouco: vai vivendo mais e vai chegando à lua e vai enviando foguetões a marte. Poderá o homem tornar-se cada vez menos temporário e menos finito? Até que ponto poderá o homem dominar tempo e espaço e colocá-los à sua disposição? Será isso algum dia possível?
ResponderEliminarEsperemos que um dia alguém consiga responder a estas questões e a outras. Entretanto, para "enganar" o tempo, vamos fazendo perguntas..
EliminarO tempo não guarda o que é feito à pressa porque isso pertence ao efémero
ResponderEliminarCurioso o conceito, vindo de um "just-in-time" :).
EliminarPartindo do pressuposto que a mente conhece limites - ou que, mesmo fingindo não os conhecer, ignorando-os - conclui-se que se acha restricta, confinada ao espaço do universo, não sendo portanto independente. Partindo também do pressuposto que o tempo e o espaço, se acham isentos desses limites, ficando assim, livres e infinitos; vimo-nos obrigados a saltar para o colo de Newton e a pedir-lhe que nos confie por inteiro o seu segredo, a sua teoria acerca do tempo absoluto, o tempo universal, omnipotente, e omnipresente.
ResponderEliminar;)
Saltar para o colo de Newton não me seduz muito... ;)
EliminarTambém temos o ditado popular:
ResponderEliminarCadelas apressadas parem cachorros cegos!
Sempre ouvi isso, mas desconfio que haja cadelas apressadas! Os cachorrinhos nascem cegos, surdos, mas têm um tacto muito desenvolvido. Acontece em muitas espécies que a maturação de certos órgãos se faz fora do ambiente uterino. Presumo que quem tenha inventado este provérbio não tenha tido conhecimento desse fenómeno e daí ter julgado que houve "pressa" porque os olhos ainda não se tinham formado completamente.
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