quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Faz falta animar a malta

Rentrée. Palavra que entrou no vocabulário político para designar o fim do período de abrandamento da atividade política, substituída pelos noticiários de factos que revelam que a inteligência e sensatez, mais do que em outras épocas do ano, também vão a banhos nesta época.
Por esta altura todos os anos se repete o ritual de um comício do PSD no Algarve, o comício da rentrée, aproveitando - creio eu - o concentrado de dirigentes do partido naquela zona. Este ano a pronúncia do líder do partido era aguardada com mais expetativa pois é ele o chefe do governo de um país assolado por dificuldades financeiras e por uma recessão económica que muitos dizem sem precedentes, cujo desfecho nem o mais arguto e laureado dos visionários economistas arrisca.
Não ouvi da boca do próprio (avesso como sou a trocar uma boa leitura ou um filme, mesmo um filme menos bom, pela assistência em direto ou em diferido de comícios), mas informam-me que Passos Coelho anunciou que em 2013 terminaria o ciclo de recessão económica. Não disse que terminava a crise, verifiquei que disse que o próximo já não seria um ano de recessão.
Socorrendo-me do muito que aprendo com os textos publicados em especial neste blogue, creio que o PM quis dizer que em 2013 não teríamos crescimento negativo da economia (curioso conceito paradoxal que parece fazer sentido). Já não foi pouco ao invés do que dizem os detratores habituais. É certo que não disse que o desemprego vai diminuir pois crescimento económico não implica necessariamente crescimento do emprego. Não disse que as políticas de austeridade e de sacrifício acabariam para o ano, pelo contrário confirmou que os inconstitucionais cortes nos subsídios de férias e de natal teriam inevitáveis sucedâneos. Não prognosticou que o fim do ciclo de extinção de empresas  estava aí, pois é do senso comum que a falta de liquidez e uma banca à defesa não criam condições para manter empresas descapitalizadas ou negócios sem mercado atual. Não prometeu, enfim, facilidades. Limitou-se a dizer que, pelas contas que faz, o PIB crescerá em 2013. Tecnicamente sairemos da recessão.
Dizem quase todos - incluindo alguns ressabiados do partido do PM - que na rentrée, confirmando os vaticínios, o líder do PSD e PM trouxe uma mão cheia de nada mesmo que o seu prognóstico se verifique, o que poucos acreditam que venha a acontecer. Eu discordo. Passos Coelho trouxe uma verdadeira novidade no discurso, pois pela primeira vez anunciou algo que as pessoas concretas vão encarar como esperançoso e animador. Se se quer evitar que à crise económica se some uma profunda crise social, é decisivo animar a malta. Faz falta. Faz muita falta.

10 comentários:

  1. Caro Ferreira de Almeida:
    Como estou consigo, quando diz que há melhores coisas do que assistir em directo ou em diferido a comícios! Também eu não assisti em directo ou em diferido. Mas ouvi nos noticiários algumas das palavras e li nos jornais algumas transcrições. O que ouvi e li mostrou-me que Passos Coelho foi realista, não foi demagogo, foi explicativo, apontou metas e objectivos, não prometeu o paraíso, nem lá perto, acenou com sacrifícios, que Passos Coelho foi honesto.
    Depois, ouvi alguns produtos estruturados realizados por comentadores e partidos políticos. Tóxicos no mais alto grau, desavergonhados, porque sem matéria subjacente. Esta devia ser o discurso do 1º Ministro. Mas não foi essa matéria que entrou nos comentários; a matéria que serviu de base aos comentários não foi o que o 1º Ministro disse, mas o que os comentadores queriam que dissesse para assim criticar. Comentadores e partidos políticos. Ah, e ressabiados do PSD, esses também bem ferozes. Uma lástima.

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  2. Realmente, na festa do Pombal, como diz a sô dona Dolores, Pedro Passos Coelho, não apareceu de mãos vazias. Acho até que foi bem claro e preciso quando afirmou que em 2013 terminaria o ciclo de recessão económica, confirmando com a profecia de ser o ano do início do fim...

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  3. Hoje passei por uma loja de animais do bairro. E ouvi esta conversa ao dono com um cliente:
    «Sr. João, então ouvi dizer que vai fechar as portas?»
    Ele respondeu-me:
    «Pois vou, isto não se vende nada, as pessoas não têm dinheiro, nem já para comer!»
    «Então e aqueles gatos angoras que ali têm?»
    «Não se vendem, são uma ninhada nacional que vendo, cada, a 300€, mas não se vendem. Se se vendessem eram prejudiciais para o país ou para as contas públicas? Não me parece e ainda faziam rodar o rendimento nacional; é como o IVA da restauração e dos pequenos negócios, que sustentava famílias e tinha um efeito discriminatório positivo não concentrador! Mas isso são medidas cirúrgicas inteligentes que escapam à inteligência das mentes privilegiadas! Dos que negoceiam no silêncio dos gabinetes e corredores! Assim, olhe, vão ser mais uns desempregados e os velhotes mais tristes por não poderem ter uma companhia. E bem que precisava de fazer umas obras na loja, passei pelo BCP, o meu banco de sempre, mas não me emprestam dinheiro para as obras. E veja lá que nos tempos áureos convenceram-me os funcionários a investir 35000€ em acções do banco e hoje valem pouco mais de 1000€. E vira-se-me a tripa de pensar que ainda dão dezenas de milhar por mês ao JG., depois de terem escondido anos a fio a verdadeira situação do banco.»
    «É o capitalismo popular no seu melhor, sr.João! Somos todos carne para canhão de umas centenas de chico - espertos que vivem em bandos! É o portugal dos provincianos que desceu à cidade!»
    «E já viu, ò cliente, que ainda há uns que acumulam às dezenas de lugares nas administrações, de todos os tipos, com reformas chorudas, enquanto o meu António com a experiência que tem e a formação que tem, vai ter de emigrar para não morrer à fome? E ainda diziam que pela qualificação é que isto mudava?»
    «Pois é, sr. João, é a sina de portugal; são os maus portugueses de todos os tempos que comandam, controlam e empobrecem. Mas de 4 em 4 anos pedem-nos votos de confiança, entremeados por 4 anos de total autismo!»

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  4. Já lá vai o tempo em que “cabiam” bem este tipo de eventos...

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  5. Existem momentos de comunicação directa entre eleitor e eleitos. Um deles é o voto, outro os discursos do "eleito". Estes momentos são importantes para a democracia e não devem ser desprezados.

    Existem várias maneiras de os desprezar. O voto é desprezado por exemplo com o argumento da sua rarefacção. O discurso como mera demagogia mais ou menos exemplar.

    Como o discurso do Pontal de Passos Coelho foi um dos mais importantes de 2012 decidi dedicar 43 min à sua audição e retirar as minhas conclusões.

    Aqui fica o link para quem pensa pela sua cabeça e dedica o tempo necessário à autonomia intelectual.

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  6. Anónimo10:43

    Meu caro Ilustre Mandatário, se bem percebo o alcance do seu comentário imputa-me a intenção de desvalorizar o discurso do lider do PSD. Então fiz-me compreender mal. Ao invés do que supõe considero a mensagem duplamente importante. Primeiro porque rompe com o passado recente em que outro lider, com as mesmas responsabilidades governativas do Dr. Passos Coelho, sempre pintou a situação de cor de rosa mesmo tudo quando à volta apresentava sinais de ruir. Este não disse que era o fim de desemprego, das insolvências ou da austeridade. Fugiu a essa demagogia. Segundo, Passos Coelho transmitiu a convicção daquele que é o PM, de que em 2013 terminaria o ciclo do crescimento negativo. Também fez bem pois é tempo de temperar o discurso da austeridade e do sacrifício com algum sinal que ponha freio a uma tendência crescente para o desânimo. E creio sinceramente que esse sinal vai ser entendido pelas pessoas.
    Quanto à comunicação entre o eleito e os eleitores. Tem razão. Há essas duas e muitas mais formas de promover a comunicação política. Mas este eleitor confessa a sua fraqueza: para que possa continuar a pensar pela sua cabeça não aguenta 5 minutos de um comício quase sempre convocado para mobilizar hostes partidárias a que este eleitor não pertence. Prefere ouvir o PM e os dirigentes políticos noutras qualidades e ambientes, e então fazer os seus juizos, serena e independentemente dos ruídos e das mediações.Como sempre fez.
    Espero ter clarificado agora o que pelos vistos não consegui com o post.

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  7. Meu caro JMFA, quando escrevo os comentários faço-o normalmente após ler os comentários anteriores e por isso eles reflectem uma opinião que não é necessariamente crítica da posta inicial (que às vezes já se encontra diluída pela informação posterior).

    O discurso (e não comício) de PPC foi muito mais do que as televisões passaram. O ponto particular da recuperação económica é abordado de modo muito mais prudente no início do discurso.

    Acho que foi um excelente discurso direccionado não ao militante do PSD mas ao Povo. Existem tiradas como o soundbite do fim da recessão ou do arroz que está a cozer, mas essas também fazem parte do acto e da democracia, porque a demagogia também é o sal da democracia.

    Cumprimentos, IMdR

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  8. Anónimo19:23

    Meu caro Ilustre Mandatário, acredito que o discurso de PPC tenha sido mais do que passaram as TV. Seria de espantar que assim não fosse. Exatamente por isso entendo que o PM, ou o lider partidário com responsabilidades na condução do governo, se quer que as suas mensagens sejam atendidas na substância e não sejam cortadas às postas, então deve preferir o discurso oficial, de preferência noutras tribunas. Estas que teimam em escolher, podem ser eficazes para os militantes, o que - concedo - pode não ser pouco para alguns. Ainda que, volto a dizê-lo, me pareça que o sinal de esperança que PPC quis dar, passou e foi entendido pelo comum dos portugueses que, como sabe, não vai a comícios...perdão, não assiste a discursos.

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  9. Meu caro JMFA, Percebo bem o que diz, mas não acha um pouco esquizofrénico essa variedade de discursos que têm como alvo ou as chancelarias, ou os mercados(?) ou o Povo? Havia um tempo onde os discursos tinham um outro alcance e até se estudavam. É pena em Portugal não se acalentar essa tradição.

    Cumprimentos, IMdR

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  10. Anónimo10:45

    Sim, meu caro Ilustre Mandatário, tempos em que se tinha cuidado com o que se dizia e por isso se punha conhecimento no discurso. Não por acaso, mesmo os oradores com grande facilidade na utilização do verbo não deixavam de escrever os discursos. A escrita impõe o estudo e a ponderação.

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