A revista Economist neste artigo, publicado a semana passada, analisa os impactos da medida TSU e atribui um novo estatuto a Portugal, deixou de ser um aluno modelo para passar a ser um “exemplo dos perigos que enfrentam os governos ao tentar forçar a austeridade além dos limites de tolerância dos já sofridos eleitores”.
Austeridade e tolerância duas faces da mesma moeda. Os tempos da austeridade estão longe do fim, a dependência da Troika ainda vai durar alguns anos, as pessoas sabem que é assim. A própria austeridade está sujeita a um processo de desgaste, por isso é preciso ter muito cuidado com ela. O cansaço da austeridade já se vinha a manifestar há algum tempo, mas foi a medida TSU que provocou um choque vitamínico que libertou uma energia que estava acumulada. Alguém me dizia que não foi um choque vitamínico, causou uma espécie de AVC num corpo já débil e em sofrimento. Concordámos na parte da debilidade e do sofrimento. É necessário que as pessoas encontrem utilidade na austeridade e sintam que os sacrifícios são distribuídos de forma equitativa, não exigindo mais do que aquilo que realmente as pessoas têm para dar. O nível de tolerância à austeridade está dependente da confiança e da esperança, sentimentos que são difíceis de construir num ambiente adverso, mas muito fáceis de desbaratar. Sem uma liderança forte e na falta de consensos mínimos não se chega lá, a coesão política e a coesão social são recursos escassos que é necessário gerir com pinças, de contrário é fácil percebermos o que pode acontecer…
Cara Dr. Margarida, mesmo que as medidas de austeridade que nos sejam impostas em substituição das que haviam sido programadas, se venham a revelar menos graves e de efeito mais útil; mesmo que o governo use de equidade, estará sempre a exigir "mais do que aquilo que realmente as pessoas têm para dar". Porque as pessoas sabem que estão a dar para pagar uma dívida que não contraíram e da qual não retiraram qualquer proveito. Sabem que estão a pagar as más gestões públicas e as fraudes que ficaram sem condenação.
ResponderEliminarPor isso, a coesão política está cada dia mais débil e nunca haverá coesão entre sociedade e governo. Simplesmente porque não existe um motivo coerente, de base, que justifique o esforço que a todos é exigido. Repare a estimada autora, que tão pouco poderá o governo, ao impôr qualquer medida, por menos contundente que seja, evocar como sentido para a mesma, o enriquecimento do país. Mas, simplesmente, estarmos a pagar dívida que nos permita contraír mais dívida.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNão sou tão negativo assim. Se alguma coisa se retirou deste últimos 15 meses é que as pessoas aceitam a austeridade, desde que ela surja como uma medida necessária, minimamente equitativa e, especialmente, se veja o destino ou os resultados da mesma.
O que as manifestações evidenciaram, com maior ou menor folclore, é que o Governo não pode arrogantemente lavar as mãos do fracasso da execução orçamental deste ano e "resolver" 2013 com mais do mesmo, dirigidas a quem tem sofrido especialmente os seus efeitos. A pergunta que se "ouviu" foi "porquê repetir, se nem conseguem justificar porque falhou?!".
E como bem diz o post "ganhar a confiança" é do mais difícil de conseguir; por isso mesmo é do mais fácil de perder e com consequências frequentemente destrutivas.
"Sem uma liderança forte e na falta de consensos mínimos não se chega lá".
ResponderEliminarLá,onde?
Ao país destroçado como disse Ferreira Leite?
Os portugueses querem saber para onde vão, e já descobriram que as medidas de austeridade sobre austeridade só conduzem ao abismo.
Como é possível, depois das receitas obtidas, com o corte dos subsídios de Natal e férias dos trabalhadores da função pública e dos pensionistas, com os cortes nas funções sociais do Estado, com o aumento generalizado dos impostos, o défice orçamental atinge em 2012 um valor próximo dos 7% do PIB? Isto significa que a receita tão obstinadamente levada a cabo pelo governo é profundamente errada e só levará o país ao desastre, ao abismo.
Procurar consensos para continuar a atirar o país para o desastre é visto aos olhos dos portugueses como profundamente idiota.
Desculpe o meu desacordo, caro Jorge Lúcio mas, até a Drª. Manuela Ferreira Leite ter dado a entrevista televisiva, não existiu nenhuma oposição frontal ao exagero das medidas governamentais.
ResponderEliminarO povo manifestou-se em maior número, depois desse acontecimento, inédito de certa forma, mas conclusivo de que, não são somente as formas de comunicar que estão na base do descontamento manifestado pelos portugueses.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarComo deve ter percebido da minha resposta, foi exactamente "ao exagero", denunciado entre outros pela Dra MFL, que creio ter crescido o protesto. E a posição de Ferreira Leite é posterior ao desgraçado anúncio "antes do futebol" do PM.
Mas creio que estamos fundamentalmente de acordo.
Exageros que mesmo fraccionados, vão recair em cima daqueles que já vivem abaixo de qualquer possibilidade, e nos vão aniquilar, caro Jorge Lúcio, sem dúvida.
ResponderEliminarChegados a este ponto, não vejo - mesmo que se opere o milagre da mobilização integral nacional - hipotese de se sair do buraco escuro e fundo onde já nos encontramos.
Cara Margarida,
ResponderEliminarA medida da TSU era suficientemente complexa para não ser entendida. Razão pela qual ninguém a entendeu. Isto para dizer que uma coisa que ninguém entende não pode ser um choque para ninguém. As pessoas nunca reagiram à medida da TSU, porque as pessoas nem sabem o que isso é. As pessoas reagiram à interpretação, errada e incompreensivelmente errada, que foi dada pelas pessoas que a vieram explicar e pela atitude do presidente da república perante o governo. O facto é que, ainda hoje, muito poucas pessoas a sabem explicar na sua extensão, mas o que não falta é quem diga 'ninguém é a favor'. Isto porque 'alguém' foi contra.
Como bem diz, a sobrevivência do estado depende da coesão dos cidadãos mas não só. Se são coesos por serem ignorantes, o estado o português não sobreviverá. E não vai sobreviver, hoje estou certo.
ResponderEliminarQuando não existe o minimo de "consenso social" (e subsequente "estabilidade social") é inutil qualquer "consenso politico" por mais vasto q seja!
A "politica" só pode funcionar dentro de uma sociedade minimamente estavel.
Esperemos que, quando os politicos actuais se conscensializarem deste promenor...não seja já tarde de mais!
porque como muito bem frisa..."desfazer" de "desestabilizar" é bem mais facil e rapido, que construir ou sustentar...a "estabilidade social"...
e pela "transversalidade" que se constacta na "rua", nas ultimas manifs, é facil concluir q já lá anda a "sociedade" toda....por enquanto "estavel"...mas já com a "insatisfação" á flor da pele!
e isto sim, começa a ficar perigoso.
Depois já se sabe...uma bola de neve pode travar-se enquanto bola...quando se transforma num avalancha só há um caminho: sair da frente!
Daqui a um ano, aqui estaremos a comentar, mais uma vez, o falhanço das medidas do governo e o novo aumento de impostos que o governo estará a preparar.
ResponderEliminar«Como é possível,... o défice orçamental atinge em 2012 um valor próximo dos 7% do PIB?»
ResponderEliminar1º. Pela desorganização a que foi conduzido o Estado/AdmPúbl, que atingiu o MF; desorganização X falta de controlo X multiplicação de chefias com as mudanças de governo (este é o XIX GC);
2º. Pela política manhosa do estudante em Paris: uma série de iniciativas para as TV's, elefantes brancos do tamanho das PPP, que iriam começar a ser pagas um dia (2013?): um amontoado de ruinas à vista.
3º. Pela falta de vergonha, que pode levar Mr Cravinho a ir debitar palermices aos ignorantes e inconscientes membros do circo de S. Bento.
Somos assim.
Toino,
ResponderEliminarO povo ignorante não compreendeu; os sindicas não compreenderam; os empresários não compreenderam; o presidente não compreendeu; o CDS não compreendeu; a oposição não compreendeu.
Porém, o Passos e o Gaspar entenderam, bem como o Toino.
Porque não fazes como o xuxas que o Passos pôs na CGD queria fazer e te piras daqui para fora?
Ah, também mamas, não é? Mas em mim não. Vai falar com o Croice!
Ouvi há pouco C. Lagarde dizer, de forma muito clara, que se as circunstâncias se alteraram também se devem ajustar as políticas e que os países em grandes dificuldades de crescimento devem, disse ela, devem, reduzir os ritmos de ajustamento. Não disse que não era preciso continuar os esforlos, mas veio alertar para que os resultados não vão ser os que se pensavam e que isso deve ser considerado.Não há luminados nesta matéria, ninguém tem certezas nenhumas e o mundo está muito confuso, a situação da Espanha terá contribuido para este novo olhar sobre os bem e os mal comportados. A política, tal como a economia, tem os seus tempos, a vida das pessoas corre depressa e obriga a agir mais rápido e tantas vezes precipitadamente, masó importante é que este artigo que a margarida aqui traz, e o que se começa a dizer em voz alta, descubra novas e melhores soluções.
ResponderEliminar...desculpem as gralhas.
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarA Lagarde diz isso porque não é a ela que o dinheiro está a ser tirado. Não é ela que paga o estado ineficiente, as CGD, as RTP's ou a dívida criada por décadas de imbecilidade colectiva. Ela só nos empresta dinheiro para conseguirmos pagar. Como qualquer credor, interessa-lhe receber. Mas o que interessa, verdadeiramente, é quem paga.
E parece claro nesta fase do campeonato que não há ninguém disponível para pagar. Não depois das últimas semanas. É tempo de começar a preparar a descida de divisão.
Julga a Dr. Margarida que a revolta da Maria da Fonte se deu devido à proibição de realizar enterros dentro de igrejas. Qual o kê? Foi devido à fome, isso sim, e à papelata ladroeira, é como chamavam essa reforma fiscal, o IMI desse tempo. Claro que o escravelho da batata também ajudou. O povo estava era farto de maçónicos (tal como hoje). Nada lhe valeu a liderança forte de Cabral, nem o golpe perpetrado por Cavaco, perdão, por D. Maria II, para salvar os maçónicos. Claro, que a guerra civil prolongou-se, e se não fosse a intervenção da troika, perdão, da Quádrupla aliança, outro galo cantaria.
ResponderEliminarComo já o afirmei, tudo isto vai ser doloroso física (a sociedade, pessoas concretas) e anímicamente (nas abóbadas da Democracia).
ResponderEliminarExplico.
Perante uma Constituição que tem como letra e espírito que :
-o Crescimento é ilimitado;
-os Desejos são Direitos a cumprir no tempo sob dinheiro presente e futuro;
--o Direito da Propriedade é maleável em face de realidades conflituantes (dos desejos em luta entre si);
...só restará o Conflito. A meu ver, a des-institucionalização. Drama e tragédia.
ResponderEliminarEstou quase de acordo consigo, caro Conservador, embora o problema não está na espírito da Constituição mas no espírito dos homens, sobretudo no das elites, ou melhor na falta dele.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminar“As pessoas sabem que estão a dar para pagar uma dívida que não contraíram e da qual não retiraram qualquer proveito”, Caro Bartolomeu parece-me uma afirmação sobre um outro país que não o nosso. Onde estavam as pessoas que votaram nos governos que contraíram dívida e promoveram o consumo e o investimento fácil? É evidente que muitas pessoas que hoje estão a sofrer os efeitos da austeridade não beneficiaram do país das mil maravilhas. Podemo-nos questionar sobre como devem ser atribuídas as responsabilidades, quem tem e quem não tem. A coesão política está a esboroar-se com grandes culpas no cartório dos políticos e dos partidos. Continuam as disputas políticas do tudo ou nada perante o estado de necessidade em que nos encontramos. A política está descredibilizada e as instituições também. As pessoas não têm em quem acreditar, perderam a confiança. É muito grave. Uma sondagem realizada pela Universidade Católica sugere que o número de portugueses desiludidos com a democracia chega aos 87%.
Caro Carlos Sério
Os consensos mínimos a que me refiro não poderiam ser no sentido do desastre. Por vezes também há acordo na asneira, mas obter um denominador comum é um exercício necessário. Se olharmos para trás verificamos que nos tem faltado esse denominador comum, um caminho bem estabelecido, aceite e compreendido por todos, sobre o que queremos fazer, como devemos fazê-lo.
Caro Tonibler
Tem razão, as pessoas “nem sabem o que isso é”. Mas quem é que tem de explicar as medidas políticas que anuncia? Têm que ser bem explicados os seus méritos, dado que as pessoas têm, como refere, uma dose de ignorância que não lhes permitiu ir mais longe do que ver na medida TSU uma injustiça.
Caro Pedro
Concordo, a sociedade está insatisfeita e o equilíbrio da estabilidade é, como tento explicar no meu texto, muito difícil de obter, mas não é impossível.
A população não pode estar satisfeita com a austeridade que está a ser aplicada. Não a recusou porque em devido tempo percebeu que era necessária. Mas ficou à espera de ver resultados, de sentir que os sacrifícios não seriam inúteis. Por outro lado, as pessoas precisam de saber para onde vai o país, para lá da Troika, qual o papel que cada um pode e deve ter para um objectivo final. Quando à austeridade se segue mais austeridade sem resultados positivos pelo caminho é previsível que o nível de tolerância desça.
Caro Bmonteiro
Temos um manifesto problema estrutural: dificuldade e incapacidade em reduzir a despesa pública, em reformar o Estado, em nos governarmos com o que produzimos.
Suzana
Também ouvi as declarações. Mas não há muito tempo ouvi a mesma responsável dizer que os países com programas de ajustamento devem cumprir custe o que custar os compromissos assumidos. Estes discursos ziguezagueanos são prejudiciais porque mostram falta de convicções sobre como lidar com a crise. Tenho esperança que desta vez outras vozes se juntem à Senhora Lagarde e levem a sério as preocupações que ela agora manifestou.
Caro Bonaparte
Uma coisa é certa, se não fosse a intervenção da Troika o país teria entrado na bancarrota, não sendo difícil imaginar o que nos teria acontecido.
Caro Conservador
Acredita mesmo que a culpa é da Constituição?
ResponderEliminarQuanto a isso não tenho ilusões. E mais, temos que pagar as dívidas, disso não tenho dúvidas. Mas há medidas mais eficientes, menos dolorosas socialmente e muito mais justas. Ora, não foi essa opção do governo. Lamento que assim seja, pois tenho razões pessoais que me leva a ter consideração para com O 1º Ministro.
Caro Tonibler, como sabe, eu acredito na política, na importância da acção política e nos movimentos, ás vezes bem lentos, que consegue fazer movimentar o que parece imóvel. As intervenções de L., tal como as que se sucedem dos vários sectores pagantes e emprestantes, têm um sentido político, é uma prova de forças, de tendências, de alarmes, de ameaças. Mas reconheço que é pelo menos tão aparentemente absurda como muitos dos diálogos entre economistas :)
ResponderEliminarMargarida, esperemos que sim, não acredito que o FMI queira sair desta confusão descredibilizado, ou a senhora não falaria tão claro. E, claro, o caso espanhol fala mesmo muito alto...