1. Segundo o Boletim Estatístico do BdeP, esta semana divulgado, a Balança de Pagamentos com o exterior apresentou, no período Jan-Agosto, um EXCEDENTE de € 750 milhões.
2. Este excedente é o resultado de um défice da Balança Corrente (- € 1.733 milhões) e de um superavit na Balança de Capital (+ € 2.483 milhões), este último proveniente de transferências de capital da EU.
3. Note-se que o défice da Balança Corrente é consequência da elevada factura de juros pagos ao exterior, causados pelo endividamento da economia portuguesa e que pesam na rubrica de Rendimentos, a qual apresenta um défice elevado (- € 4.770 milhões) – enquanto que as rubricas de Bens e de Serviços, em conjunto, apresentam já um superavit de € 315 milhões, pela 1ª vez desde há mais de 15 anos!
4. Esta evolução é tanto mais notável quanto é certo que o mesmo saldo da Balança de Pagamentos, agora positivo como referido em 1, apresentou no último triénio os seguintes valores:
- Em 2009, deficit - € 17.009 milhões (10% do PIB)
- Em 2010, “ - € 15.184 “
- Em 2011, “ - € 8.975 “
5. Se me tivessem dito há 3 anos que isto iria acontecer, eu teria comentado “estão a sonhar alto”! Mas aconteceu, e o mérito desta radical mudança de desempenho da economia vai em primeiro lugar para as empresas privadas – empresários e trabalhadores – que têm vindo a realizar um esforço gigantesco de adaptação às novas condições da economia, arregaçaram as mangas e foram por esse Mundo fora à procura de novos clientes e mercados!
6. Note-se que as exportações de Bens aumentaram até Agosto 9,15% em relação ao período homólogo de 2011 e as exportações de Serviços 15,7%, isto num enquadramento internacional que, como se sabe, está longe de ser favorável. É certo que as importações diminuíram 4,3%, no mesmo período, mas sem o crescimento das exportações a Balança de Pagamentos não teria sofrido esta enorme alteração de comportamento da Balança.
7. Mas, PARADOXO dos PARADOXOS, um País sufocado por uma despesa pública opressiva, com exemplos de desperdício lamentáveis na administração central, regional e autárquica, bem como nos respectivos sectores empresariais, é obrigado, para cumprir os compromissos com os seus credores internacionais, a tributar cada vez mais aqueles que têm estado na base deste quase milagre económico...para dar ainda mais dinheiro ao Estado!
8. Pior ainda, “dia sim dia não” temos de assistir ao espectáculo de protestos de rua protagonizados pelas corporações de comensais do Orçamento – desde os ENVC até aos grupos de artistas subsidiados – reclamando que não estão sendo bem servidos, que a mesa do Orçamento deveria ser mais generosa!
9. Para cúmulo, esses protestantes quase profissionais beneficiam de toda a cobertura e mesmo do apoio explícito da generalidade dos “media”, a começar por aqueles que tb pagamos a título de prestarem um serviço público! Mas que "raio" de País, este!
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarÉ de facto notável o esforço que o sector exportador e as empresas que estão na cadeia de valor da exportação estão a fazer. É notável a capacidade de vencer as adversidades dos custos do "contexto" e os ventos menos favoráveis que sopram da Europa, assim como é assinalável a "reserva" existente no país de capital humano, criatividade, conhecimento, gestão e inovação. A necessidade de sobrevivência e o prémio obtido pelo esforço e boa gestão fazem toda a diferença na condução dos negócios. Um exemplo que deveria ser noticiado até à exaustão, não apenas porque o milagre deve ser visto por todos, mas porque é preciso abanar a consciência de muita gente...
Pois é. Pertencemos efectivamente a um raio de País! Mas julgo ser de elementar justiça identificar esses "protestantes", quanto mais não seja para que os justos não paguem pelos pecadores.
ResponderEliminarQuem reclama e proclama que a actual política não serve e a austeridade é desnecessária e malfazeja são os homens do regime. Da tropa soarista à tropa cavaquista, do presumido comentador Marcelo ao submarino Portas , das múmias do antigamente, Adriano Moreira, Silva Lopes, Freitas do Amaral, e etc, aos mais recentes titeres do regime, como Ângelo Correia Ferreira Leite, Alberto J. Jardim, Jorge Miranda, Pacheco Pereira, António Costa, Jorge Sampaio, para só citar alguns dos mais credenciados padrinhos e afilhados desta defunta 3ª Républica.
Não faço qualquer referência aos protestos e arruaças da esquerdalha. O lema deles, é sabido, sempre foi e continua a ser "quanto pior melhor" e, assim sendo, a contestação vinda dessas bandas só pode ser contabilizada como um voto de apoio ao Governo.
Posto isto, digam-me lá o que fez este regime e todos esses "senhores" por Portugal ao longo das últimas décadas que lhes permita assim "reclamar" e "proclamar"?
Para além das auto-estradas, das rotundas enfeitadas com pirolitos que inundam o país, do enriquecimento ilícito da classe política e não só, e do deficit astronómico que atirou Portugal para mais uma bancarrota adiada - esta já é a terceira - que mais obraram os ditos protestantes?
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ResponderEliminarEx. mo Senhor Dr. Tavares Moreira:
ResponderEliminarO seu post dá-nos boas notícias que nos deviam deixar todos satisfeitos.
Mas quanto aos comensais do Orçamento, desculpe que lhe diga, é muito curto e tendencioso.
Ora veja o comentário (retocado) que deixei noutro post anterior:
O Eng.º Macário Correia (condenado em 1.ª instância por irregularidades autárquicas graves que lhe determinaram a perda de mandato) obteve, aos 55 anos, a 3.ª reforma.
Não se pode dizer que o homem tenha tido 7 vidas como os gatos, mas que teve 3 vidas profissionais paralelas, lá isso teve. Uma das 8 às 16, outra das 16 às 24 e outra das 24 às 8 da manhã seguinte.
Senão, como podia ter obtido agora a 3.ª reforma?
O senhor Professor Catedrático da UNL Luís Campos e Cunha, aos 49 anos, espantemo-nos, 49 anos apenas, e por ter sido vice-governador do BdP durante 6 anos, só 6 anos, tem uma reforma vitalícia de 8000 euros.
Mas quantos sacrificados pelo país poderíamos acrescentar a estes dois?
Certamente que a lista seria infindável.
E o que faz o governo a estas situações imorais?
Nada.
E às rendas excessivas na energia?
E às Fundações (privadas?) inúteis que vivem do Orçamento (público)?
E às PPP?
E às gorduras do Estado?
NADA.
E o que propõe?
Cortar no RSI, nos subsídios de desemprego, nos complementos solidários dos idosos, pois estes malvados comilões que «sangram» o OE com os seus chorudos subsídios que saiam da zona de conforto, ganham demais para a sua ostensiva e imoral preguiça, enquanto tanto gestor esforçado da coisa pública e tanto autarca empreendedor se esfalfam trabalhando por três.
Estes sim, estes merecem as miseráveis reformas que têm, a sorte deles é que têm mais do que uma senão não sei como sobreviveriam.
Caro Tavares Moreira, sem querer de modo algum desvalorizar a importância do que acima disse, lembro-me de um empresário, há bem pouco tempo, ter explicado que as empresas não se tornam exportadoras do dia para a noite, é preciso muito trabalho prévio, muito investimento, muitos estudos de mercado e muitos riscos calculados para avançar. Dizia isso a proposito de se pensar que nos íamos tornar num país exportador assim de repente e que a destruição do tecido económico em curto espaço de tempo não daria espaço a uma recuperação quando a crise passar ou aliviar. Disse mesmo que poderia levar uma década a criar uma economia assente nas exportações pafra sustentar de modo sólido uma economia. DIgo isto porque, tal como ao caro Tavares Moreira, me custa muito a acreditar em milagres, sem tirar nada ao grande mérito das nossas empresas exportadoras que têm sabido conquistar mercados tão dificeis, basta ouvir muitos dos portugueses que tiveram que ir viver para bem longe, a trabalhar nessas empresas e neses mercados.
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarnenhuma empresa se torna o que quer que seja da noite para o dia. O facto é que hoje qualquer empresa portuguesa concorre com as estrangeiras, mesmo a jogar me casa. Não é preciso transformação nenhuma para que as empresas se tornem exportadoras. Só é preciso levantar a cabeça e olhar para o outro lado. Porque as pessoas já são de nível europeu, o produto já é de elevada qualidade e o preço é muito bom apesar de tudo. Claro que sem o estado português agora é preciso convencer as pessoas a comprar em vez de pagar a um político qualquer. Se é desta transformação de que se fala, há sempre mercados onde a prática comercial é semelhante, embora seja difícil de atingir o nível de Portugal.
Adicionalmente, as exportações têm vindo a crescer consistentemente desde o princípio do século, não é exactamente uma coisa do dia para a noite. Só que com o estado a parar de estoirar dinheiro a economia começa a funcionar de facto e o fenómeno é ampliado.
Cara Margarida,
ResponderEliminarUma boa síntese, a do seu comentário! Tb concordo que este exemplo deveria ser objecto de amplo debate, até à exaustão, como sugere - porque não por exemplo ocupar uma edição do Prós e Prós - mas como não se trata de lavar roupa suja ou de chorar sobre leite derramado...não é assunto!
Caro Pável Rodrigues,
Não tenho nada a opor a que sejam lembrados todos esses contributos/contribuintes para o estado de confusão que tem vindo a ser diligentemente construído na praça...
E deixe-me dizer-lhe que o seu último parágrafo é excelente!
Caro Um Zero à Esquerda,
Curto e tendencioso? Quando digo a começar em...e a acabar em...sou curto e tendencioso?
Eu limitei-me a citar dois exemplos, dos mais emblemáticos, dentro do folclore protestante, não pode concluir que sou curto ou que sou tendencioso.
O Senhor acrescenta um rol de casos, nada tenho contra esse rol que tb não esgota o tema - e eu não o acuso de ser curto nem tendenciso porque entendo que não tenho esse direito!
Cara Suzana,
Eu tenho de lhe dizer, muito sinceramente, que considero esta mudança de desempenho da economia portuguesa o acontecimento mais importante dos últimos 20 anos da nossa história económica.
E, tal como refiro na resposta à Margarida, acima, creio que só temos de lamentar que o projecto de mendicidade a que a comunicação social doméstica se entregou de alma e coração, desde há algum tempo, não permita que este acontecimento tenha a relevância mediática que merece!
E acredite que esta mudança tem subjacente muitíssimo trabalho - isto não se faz com discursos nem com sessões solenes, faz-se com muito esforço, sacrifício e engenho - a que o Estado responde com o prémio do agravamento da tributação para gerir os recursos com o talento que nós conhecemos...e sempre em nome da equidade, pois claro!
Parece que ao menos o esforçado Ministro da Economia está entendendo isto e procura, com os escassos meios de que dispõe, encontrar algum incentivo para quem está nesta frente de combate...
Caro Dr.Tavares Moreira:
ResponderEliminarOs meus mais sinceros parabéns pelo excelente artigo!
Desejo-lhe a continuação da boa forma que este artigo evidencia!
Um abraço!
Albérico Lopes
Seria interessante comparar as reformas na Nova Zelândia na segunda metade dos anos 80...
ResponderEliminarQuanto aos pedintes e mendigos do OE, parece que além de auto-estradas a mais também há universidades a mais... um reitor até já diz que a coisa está chegando ao osso, mas o osso do OE é que eles não largam..
Caro alberico.lopes,
ResponderEliminarSeja bem-vindo por estas bandas, apareça mais vezes e espro seus comentários na especialidade!
Ilustre Mandatário do Reu,
Como bem saberá a mesa do Orçamento é de uma extensão inaudita, ganharia facilmente um Guiness se todos se juntassem - ocuparia facilmente a AE Lisboa-Porto, em toda a sua extensão desde antes da Portagem de Sacavém até depois da dos Carvalhos...
E tinham de ficar bem apertadinhos para caberem todos!
Há efectivamente "pedintes e mendigos" do OE, para usar a sua expressão, por tudo quanto é sítio ou canto, talvez a BAYER pudesse dar uma ajuda no assunto...
A malta não tem dinheiro, logo compra menos, logo é preciso importar menos. Assim sendo, a balança externa alivia.
ResponderEliminarQual é o grande segredo, afinal? O empobrecimento de parte dos portugueses.
Mas, como vocês sabem, o problema da balança não é a chave da questão, nem as exportações, que vocês omitem se manterem em «alta» graças à venda maciça de ouro e que não vão continuar assim porque, lentamente, a Europa vai regredindo.
É possível, nestes números, retirar o peso da venda de ouro (não somos produtores) e de derivados refinados do petróleo (que tem custos de importação significativos a montante)? Bem como a queda no consumo de viaturas que será, certamente, conjuntural, pelo menos numa parte da redução?
ResponderEliminarCaro Gonçalo,
ResponderEliminarA questão que coloca tem pouco interesse, com a devida vénia. Só seria relevante se as exportações de ouro e de refinados do petróleo tivessem começado em 2012 o que, como bem saberá, não é verdade.
A muito simples análise que aqui apresento é obviamente em termos diferenciais, como terá reparado - aumento de exportações de bens e de serviços, diminuição de importações. É pouco relevante, nesta perspectiva, saber se estamos a vender ouro e refinados, o que interessa é saber quanto aumentaram (se aumentaram) as exportações desses produtos. e, provavelmente, terão aumentado + ou - em linha com as exportações de outros bens...
É obvio que a queda do consumo de bens duradouros, viaturas nomeadamente, tem influência no comportamento das importações de bens que, como referi, estão caindo 4,3% (até Agosto).
Caro Stoudemire,
O que é mais relevante é o crescimento das exportações de bens e de serviços, muito mais do que a quebra das importações.
Em relação às vendas de ouro o iliustre comentador comete o erro "naive" de raciocinar em termos estáticos, como se as vendas de ouro se tivessem iniciado no corrente ano, o que é obviamente falso.
Como já referi em comentário anterior (para Gonçalo) o que interessa não é sabermos quanto (em valor) ouro estamos a vender este ano, mas a relação entre as vendas de ouro este ano e no ano anterior.
Já reparou há quantos anos começou a "febre" das lojas de compra de ouro?
E, perdoe-me a observação, mas não podemos discutir estes assuntos como se estivessemos a discutir futebol!
«Em relação às vendas de ouro o iliustre comentador comete o erro "naive" de raciocinar em termos estáticos,»
ResponderEliminarJá o ilustre autor do post não é nada näif ao ignorar completamente o comportamento das exportações portugueses desde o início do século (uma dica: foram sempre a crescer até 2008, e depois do tombo que levaram nessa altura, voltaram a um crescimento linear quase perfeito) e fazer de conta que tudo isto se deve a algo que os empresários portugueses com o apoio dos messias que estão no governo tomaram no último ano.
Caro aspioresfrancesinhas,
ResponderEliminarA referência ao "apoio dos messias que estão no governo" é exclusivamente de sua autoria...não escrevi nem subscrevo tal conclusão, se o Senhor é um obcecado situacionista, eu não sou, tento pensar pela minha cabeça!
Quanto ao comportamento das exportações desde o início do século, a que propósito são aqui chamadas?!
Nesse caso, porque não avaliar as exportações desde o início do século XIX?
boa noite
ResponderEliminarpode-me informar se esta situação que descreve também sucedeu na Grécia?
desde já obrigado
António Godinho
Caro amg,
ResponderEliminarA informação de que disponho é de que a Grécia continua a apresentar um elevado (embora decrescente) défice externo: caem as importações mas as exportações tb caem...
No site do IMF - country info - Greece - pode encontrar informação detalhada sobre o tema.
Muito obrigado pela sua atenção
ResponderEliminarCumprimentos