quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quais são os limites?

É uma inevitabilidade fazer isto? O governo pretende baixar o valor mínimo do subsídio mensal de desemprego em 10%, de 419 euros para 377 euros. Serão abrangidas 150.000 pessoas. A notícia dá conta que a medida faz parte de uma proposta apresentada aos parceiros sociais que engloba reduções em outras prestações sociais. Estão em causa prestações que atingem grupos populacionais mais desfavorecidos e vulneráveis.
Uma medida a somar a uma outra “inevitabilidade” que consta da proposta do OE de 2013 que pela primeira vez impõe aos desempregados uma contribuição de 6% para a Segurança Social - uma espécie de TSU do desemprego. O resultado é um corte no rendimento disponível, muito significativo nos subsídios mais baixos. Descontaram para a Segurança Social enquanto trabalhadores para segurar um rendimento substitutivo no caso da eventualidade do desemprego. Se a medida avançar irão continuar a descontar na situação de desempregados.
É preciso ter presente que o subsídio de desemprego tem vindo a sofrer desde 2010 vários cortes, na forma de cálculo, no valor máximo, no tempo de duração. E justamente num tempo em que o desemprego tem vindo a crescer de forma galopante.
Austeridade sim, não temos como fugir dela, mas tem que haver limites à austeridade que é imposta a quem é pobre e vive no limiar da pobreza. O estado do país é de necessidade, mas não haverá gorduras públicas por onde cortar?
O Estado Social está em crise, olhe-se para o que se está a passar com a ruptura do sistema previdencial da Segurança Social. Mas se está em crise é um imperativo repensá-lo e reforça-lo no sentido de proteger as pessoas e famílias mais desfavorecidas, agora e no futuro. Estamos a assistir avulso a uma desconstrução do modelo de Segurança Social. Nas piores circunstâncias. Não nos preparámos com tempo, mas tivemos tempo para isso. Reconstrua-se diferente mas com lógica e coerência. Discuta-se o que se pretende da Segurança Social e do Estado Social que podemos e queremos ter, a sua utilidade e a repartição de responsabilidades e do esforço financeiro que exige. Assim é que não...

14 comentários:

  1. Um descalabro, cara Drª. Margarida «Assim é que não...» concordo!.
    É fundamental que a sociedade garanta a sua segurança. É com esse fim que as pessoas se reunem em sociedade e estabelecem fundos mutualistas para a constituição e manutenção dos quais, todos contribuem, cada um, de acordo com o valor dos seus rendimentos. Se existem motivos imperativos que obrigam a alterar este princípio, então, não poderão coexistir situações em que o produto das mesmas contribuições seja esbanjado na manutenção de "mordomias" atribuidas a entidades individuais.
    Ou bem que somos uma sociedade de pleno direito, ou se não somos e estamos sujeitos a decisões arbitrárias, só nos resta esperar pela revolta social.

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  3. O governo escusa-se, pelo menos aparentemente, a colocar em cima da mesa o principal entrave à inversão da tendência da espiral de endividamento em que o país caiu: os juros.

    É aritméticamente demonstrável que se a dívida ronda os 120% do PIB, se as taxas de juro se situam para lá ( e situam-se muito) do crescimento do PIB (que por agora é negativo) a dívida é imparável e o país está amarrado na antecâmara de uma bancarrota estrondosa.

    Há que cortar a despesa? Certamente, e isso foi o que prometeu Passos Coelho. É isso que também está no memorando de entendimento. Mas como é possível ignorar uma fatia que representa quase 10% do total?

    Além de impossível ignorar é infame que o norte da Europa ignore esta realidade gritante: a migração de depósitos do sul (debilitado por juros usurários) para o norte confortavelmente instalado a desfrutar taxas de juro negativas.

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  4. A taxa de juro é a primeira derivada do passivo, o crescimento do PIB a segunda do activo. Não são comparáveis, Rui Fonseca.

    O estado português é inviável porque não se consegue cortar a despesa onde é justo que ela seja cortada. E onde é justo é nos salários dos funcionários do estado. Como o TC e o PR impedem que isso possa ser feito, o governo faz destas como último recurso. Claro que não vai dar em nada e o resultado final será o mesmo...

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  5. Eu, á semelhança de outros milhões, desconto há já 22 anos.

    Tenho sempre,além de pagar os impostos, descontado para a Seg.Social tudo quanto é devido.

    Nestes 22 anos, reformas e subsidios de desemprego e abonos de familia, foram tb pagos com o meu contributo.

    Entretanto, corte após corte, é o que se tem visto. E nesta realidade varias questões sem resposta me assolam o espirito:

    Questão 1: Será que se eu for despedido agora...irei receber um Sub.Desemprego...á medida doque descontei, e igual a uma pessoa que cmo 5 anos de desconto, tenho sido despedida em 1995 por exemplo?

    Questão 2: Terei eu, quando chegar a altura, uma Reforma de igual tamanho, ás q agora são pagas tb com os meus descontos?

    Questão 3: Será egoismo meu, ou descontar nesta realidade é já aparentemente um "desperdicio", e a vontade de esconder o dinheiro debaixo do colchão é cada vez maior?

    Questão 4: Os contratos das PPP são mais validos que os contratos da "Seg.Social" e afins? porque é possivel cortar 10% num contrato com um trabalhador, mas não é possivel cortar 10% nas rendas da EDP , por exemplo?

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  6. parace ser sempre mais facil cortar 10% do subsidio de desemprego mais baixo do que cortar 10% das pensões acima de por exemplo 7.500€/mes...

    ah mas quem tem a pensao de 7.500€ descontou para isso, e quem tem o subsidio de desemprego nao descontou para mais?

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  7. "A taxa de juro é a primeira derivada do passivo, o crescimento do PIB a segunda do activo. Não são comparáveis,"

    Não há deriva que contrarie aquilo que é básico: Enquanto a taxa de juro da dívida for superior (e neste caso é muitíssimo) à taxa de crescimento do PIB, a relação entre dívida e PIB não pára de aumentar.
    Tanto mais que a dívida já leva um avanço de 20% sobre o PIB.

    Quanto ao resto, estamos de acordo, ainda que haja muita coisa mal explicada:

    As prestações sociais, que representam no OE cerca de 40% são consideradas, mal, despesa pública. Mal, porque os serviços públicos realizam, neste caso, apenas uma rotina de redistribuição, se, por hipótese, acabasse essa redistribuição, entregando essa missão a empresas seguradoras, por exemplo, acabariam as contribuições entregues à gestão pública. A importância relativa dos restantes items não se alterava. Aliás, a segurança social, na parte respeitante à gestão das pensões, não deveria consolidar com as contas da administração pública.

    Os juros continuariam a ser o maior sorvedouro dos recursos gerados pelo país.

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  8. Claro que não Rui Fonseca, porque o juro da dívida é pago com o PIB, não com o crescimento do PIB. E a minha dívida da casa leva mais que isso de avanço do meu PIB. O problema é essa dívida ser do estado, que não produz nada, só rouba.

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  9. Caro Bartolomeu
    Não se compreende como se avança com uma proposta desta envergadura para de imediato retirá-la com a justificação de recusa por parte dos parceiros sociais. Dá que pensar...
    Caro Pedro
    Deixou de haver garantias. As regras em vigor ao longo da carreira contributiva para a formação de direitos têm vindo a ser alteradas, com uma frequência tal que a incerteza sobre os direitos presentes e futuros é cada vez maior.
    Se hoje ficar desempregado aplicam-se as regras que hoje estão em vigor no acesso ao subsídio de desemprego e o mesmo em relação ao acesso à pensão de reforma. Quanto às pensões em particular tem havido alterações nas condições de acesso, como aconteceu com a "reforma" de 2007 que se traduziu em reduções muito significativas para os futuros pensionistas. A evolução demográfica, o modelo de segurança social e o seu financiamento, a falta de crescimento económico e o elevado nível de desemprego mostram que o sistema previdencial está em ruptura e não é sustentável. Não é uma novidade, mas a crise acelerou os efeitos.
    Caro T1
    Todos descontaram na expectativa de terem acesso a um conjunto de direitos. Deixou de haver contrato social, as regras do jogo estão a ser permanentemente alteradas. O estado de necessidade chegou com a crise, mas a necessidade de repensar a segurança social há muito que era uma exigência. É fundamental, como refiro no texto, reformar o sistema com lógica e coerência. A incerteza, a instabilidade e a imprevisibilidade não beneficiam ninguém, muito pelo contrário geram tensões muito graves entre o Estado e os cidadãos, entre gerações, entre contribuintes e a segurança social.

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  10. O Eng.º Macário Correia (condenado em 1.ª instância por falcatruas autárquicas) obteve, aos 55 anos, a 3.ª reforma.
    Não se pode dizer que o homem tenha tido 7 vidas como os gatos, mas que teve 3 vidas profissionais paralelas, lá isso teve. Uma das 8 às 16, outra das 16 às 24 e outra das 24 às 8 da manhã seguinte.
    Senão, como podia ter obtido agora a 3.ª reforma?
    O senhor Professor Catedrático da UNL, Luís Campos e Cunha, aos 49 anos apenas, e por ter sido vice-governador do BdP durante 6 anos apenas, tem uma reforma vitalícia de 8000 euros.
    Mas quantos sacrificados pelo país poderíamos acrescentar a estes dois?
    Esta gente do RSI e dos subsídios de desemprego querem tudo, malvados comilões, que percam agora 10% que ainda ganham demais para a sua preguiça.

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  11. Margarida,

    em resposta ao T1, afirmou e bem que : "Deixou de haver contrato social, as regras do jogo estão a ser permanentemente alteradas. "

    Mas mesmo perante isto eu pergunto:

    - Memorando com a Troika - não é despesa é Obrigação.

    - PPPs - não é despesa, é Obrigação.

    - Rendas da EPD - não é despesa, é Obrigação.

    - Obrigações sociais (Sub.Desemprego+Reformas...) não são Obrigações, são Despesa.

    ___________________________________
    creio q o paradigma actual é mesmo este.

    Mas assim sendo, eu, no que puder tambm irei cortar na minha "Despesa".

    Assim, em vez de poupar agua e tomar banho mais rapido...ou ler durante o dia para poupar luz...ou comer menos - em vez de fazer isto vou cortar na minha "DespesaPublica".

    Ou seja, em 2013 direi ao Gaspar que por via da Crise pagarei de IRS menos 10%. Da Seg.Social, tb vou cortar na Despesa e pagar menos 15%. Das propinas da escola da minha filha, tb vou cortar na Despesa, e pagar menos 20% das mesmas.

    E pronto, eles que absorvam os cortes, porque tenho de cortar "gorduras"!


    É este o paradigma do Governo "Liberal" que temos...só as Obrigações Sociais que advem directamente das constibuições efectivas das pessoas é que são Despesa Publica.

    Tudo o que sejam contratos com a Banca são Obrigações q os Estado se obriga a perpetuar...tudo o que são Obrigações sociais são despesa.

    Eu por mim, já tou memo a desistir! e por este andar, começo a acreditar ser cada vez mais util mandar garrafas e pedras...do que manter a civilidade num sistema destes!

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  12. "O problema é essa dívida ser do estado, que não produz nada, só rouba"

    Pois se assim é, apresente queixa na polícia!

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  13. Já se apresentou. Já está aí o administrador judicial e espera-se o encerramento lá mais para o verão...

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  14. O Reformista voltou a acordar. Exactamente pela Reforma do Estado Social.
    já não há como lhe escapar. Gaspar dixit
    Pode ser uma oportunidade ou uma catastrofe

    www.oreformista.blogspot.com


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