Em 1999 foi desencadeado um inquérito sobre uma eventual conspiração entre as tabaqueiras para esconderem do público os efeitos nocivos do tabaco. Durante mais de cinquenta anos as tabaqueiras fizeram um cambalacho notável de modo a promover os seus produtos utilizando inclusive aditivos com o objetivo de provocar maior dependência. Agora, finalmente, foram condenadas a admitir publicamente o que fizeram nesse sentido. O Supremo Tribunal norte-americano foi contundente obrigando à retratação pública focando cinco pontos, efeitos adversos para a saúde, as consequências para os fumadores passivos, o poder aditivo da nicotina, a mentira sobre os produtos light e os erros publicitários sobre estas mentiras. Durante dois anos terão de comunicar as suas atividades através da comunicação social e dos próprios maços de cigarro. Vai ser muito interessante ler as novas frases. A reação das tabaqueiras foi curiosa, pediram escusa às medidas de correção, porque consideram que estas decisões têm apenas o objetivo de as envergonhar e humilhar. Coitados! O juiz não se comoveu perante o desabafo de quem matou através do tabaco e ganhou fortunas com isso.
A publicidade enganosa é uma realidade muito preocupante, não obstante códigos e mais códigos de ética para quem promova os seus produtos e, também, alguma legislação que se vai produzindo, sobretudo nos países nórdicos, onde há uma refrescante atividade em regulamentar nesse sentido.
A saúde é uma preocupação global, mantê-la é uma necessidade e retomá-la, quando a perdemos, um imperativo que nem sempre é fácil de alcançar. Tudo isto custa muito dinheiro, mas há quem faça dinheiro, claro, à sua custa, caso do tabaco, como vimos, ou vendendo produtos com efeitos “positivos” na mesma. Este último aspeto merece algumas reflexões.
Há dois fenómenos em crescendo que têm atraído a atenção, a medicalização da sociedade e a transformação de certos produtos alimentares em medicamentos, os denominados nutracêuticos. Quanto à medicalização, o objetivo é considerar a maioria das pessoas como "doentes" ou portadores de fatores de risco que devem ser corrigidos. Ontem éramos "normais", hoje, com as mesmas características, passamos a ser "anormais". Se fugirmos à tirania da norma aparece sempre alguém a dizer que corremos risco de adoecer ou morrer prematuramente. Como a maioria tem medo destas coisas, porque o risco até existe, só que por vezes é tão desprezível que nem merece correr os riscos da terapêutica, procura e aceita o que lhe é prescrito. No tocante aos nutracêuticos as coisas são ainda mais interessantes, muitos produtos que nos alimentam e que dão prazer passaram a ser "fonte de saúde", caso do café, chá, vinho (como dizia o outro, "só tinto"!), chocolate, azeite, águas minerais, certos "tipos" de maçã e iogurtes com propriedade milagrosas a fazer inveja à Nossa Senhora de Fátima, entre muitos outros. Considero este comportamento como uma forma de estímulo ao consumo dos mesmos de forma a tirar proventos económicos. Os produtos em questão têm, efetivamente, algumas das propriedades que são anunciadas. No entanto, acho muito curioso que alguns cientistas façam a divulgação dos seus achados através de press releases na comunicação social a qual, reparo, tem uma apetência "notável" para estas coisas, não sei se estimuladas ou não pelos industriais dos diferentes ramos. De qualquer modo, há uma certa perversidade económica na forma como são publicitados certas "descobertas", o abuso de algumas das propriedades de diferentes produtos e o aproveitamento da credulidade das pessoas associada ao fabrico diário de "doenças", as quais assustam qualquer mortal.
Uma área que precisa de ser corrigida para bem de todos, à exceção dos que têm certos interesses...
A indústria cosmética é outra área onde a publicidade é vergonhosamente enganosa. E como é lucrativa!
ResponderEliminarQuando se quer negar as realidades sem fazer má figura, o processo costuma ser o mesmo: contrata-se 0,1% de homens da ciência que porão em dúvida provas sobre os malefícios do tabaco ou causas do aquecimento global.
ResponderEliminarPois é, ao ponto de uma pessoa ir ao supermercado e já nem saber o que comprar, leva-se um tempão a ler as letras miudinhas e a relacionar com os anúncios. A crise, no entanto, torna-nos mais críticos em relação às maravilhas de certos produtos e lá nos vai orientando para a natureza, mais barato e mais seguro.
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