Metáforas fáceis, frases com impacto imediato, citações polémicas, palavras
equívocas. Eis o material de que se fazem as parangonas, os primeiros lugares
dos alinhamentos dos noticiários, os motes dos posts em blogues ou o centro dos
debates. A política nestes últimos dias tem vivido assim, do sound bite para jornalista
captar e transformar em “notícia”. O político experiente sabe bem o que cativa os media.
Conhece o jornalismo e os jornalistas que temos e percebe que não é a realidade bem traduzida,
claramente explicada, tão pouco a revelação dos pressupostos e fundamentos da medida que
tomou ou do rumo que quer traçar, que lhe vai permitir passar a mensagem ou sair-se bem
na discussão. Sabe bem que uma frase
bombástica vale mais que mil imagens. E sabe também que o efeito de propagação é sempre tanto mais garantido quanto mais chocante for o arremesso verbal.
Aliás, político que não seja capaz de transmitir a mensagem
através da simplificação quase nihilista da realidade, será sempre tido como mau comunicador, ainda que se lhe reconheça competência. A prazo, um condenado.
Quem está atento ao comportamento dos políticos percebe, no
entanto, que o recurso sucessivo ao sound bite é uma prova de fraqueza. Todavia, é destas fraquezas que se faz a força dos mais resistentes políticos. Se se pensar um pouco descobre-se que apesar da coleção de desaires e não raro do acumular de responsabilidades na situação que vivemos, são os políticos que recorrem a esta técnica que sistematicamente são ouvidos e bastamente citados, condicionando a agenda e o debate.
Porquê este gosto pelo bombástico, ainda que quase sempre despido de conteúdo? Certamente pelo facto de os destinatários preferirem a mensagem simples e direta, com algum dramatismo, impacto e polémica à mistura, do que à explicação ou até à revelação da realidade. Também porque a comunicação social se apercebe do efeito garantido da frase acutilante, muito maior do que o da elevação da mensagem.
Mas a triste verdade é que, normalmente, o sound bite não passa de um biombo que disfarça a falta de ideias. O momento que o País atravessa é bem o testemunho disto. Centramo-nos na discussão sobre o sentido e alcance da frase enigmática, sobre a
semântica da palavra. Raramente sobre a solução para os problemas.
A juntar à crescente pobreza material, esta técnica
traduz também uma acentuada pobreza da política e dos políticos que temos. Da democracia, em suma.
Presumo que o meu estimado Amigo deve conhecer a cidade de Bragança e a sua medieval "Domus Municipalis". Uma construção de forma poligonal, toda construída em granito, sobre uma monumental cisterna e coberta por um telhado de forma pentagonal. No interior podemos ver em todo o redor da sala, ancorado na parede, um simples banco de granito também, onde tomavam assento as pessoas que, reunidas, decidiam os assunto referentes ao burgo.
ResponderEliminarDecidiam, discutindo, num ambiente mágico, como que em suspensão sobre a água e ao mesmo tempo, pairando-lhe sobre as cabeças, uma estrela pentagonal.
Seria impossível, num ambiente destes, pessoas reunidas, não encontrarem as soluções que buscavam.
;)
Caro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarDiz o meu amigo, e bem, " que essa tècnica do soundbyte traduz também uma acentuada pobreza da política e dos políticos que temos". É verdade, mas para pior. A avaliar pelo uso, não se trata de pobreza, trata-se de miséria. Políticos low cost, políticas miseráveis.
Há dias voltei a ver o debate entre Mário Soares e ÁLvaro Cunhal, de que ficou para a História a célebre frase "olhe que, olhe que não". A preto e branco, sem cenários, os dois frente a frente num tempo em que não passava ainda pela cabeça de ninguém discutir o tom das gravatas ou o ângulo da cara mais fotogénico, ou a brancura do sorriso. Longo discorrer sobre os assuntos, tempo para cada um sem se atropelar,um verdadeiro prazer de ouvir mas enfim, aquilo a que hoje chamaríamos uma grande maçada e em que as pessoas desligariam o écran ao fim de 5 minutos. Não sei se o que é feito para a comunicação social esgota o pensamento ou as estratégias reais da política, espero sinceramente que não. Mas que a modernidade e a voracidade dos media, que é preciso alimentar ao ritmo que impõem, obriga a que haja ao menos um discurso minimalista e de efeitos bombásticos, isso obriga. O grave é se a política se esgota nisso, e já é suficientemente grave que assim pareça.
ResponderEliminar"...a modernidade e a voracidade dos media, que é preciso alimentar ao ritmo que impõem, obriga a que haja ao menos um discurso minimalista e de efeitos bombásticos..."
ResponderEliminarSe houvesse um bom naipe de Santana's Lopes, que soubesse deixar os pivot's a falar-sozinhos nos momentos cruciais, veria a cara Dr. Suzana, como as "estratégias" se alterariam num ápice.
;)
Aquilo a que tenho assistido ultimamente é que, tanto o emissor (o político) como o jornalista, são cúmplices na notícia. O primeiro porque vai para além da própria notícia; o segundo porque aproveita o que lhe é oferecido, dispensando-se do exercício intelectual de “fabricar” ele próprio um bom cabeçalho…
ResponderEliminarAlguma vez os meus caros dedicaram uma hora do vosso tempo a ver um debate presidencial americano? Eu vi um, uma vez, o W. Bush com o Gore e passados 20 minutos já estava a pensar "bolas. será que estes gajos são só isto?". Passada uma hora eu só dizia "Estes tipos em Portugal eram mortos, passados e cozinhados em 5 minutos!!"
ResponderEliminarIdeologia já não existe, aquela coisa do Cunhal e do Soares a esgrimirem ideias era uma estupidez porque, à parte a beleza da rectórica, estavam ambos tecnicamente errados. Política é economia e economia não é passível de opinião, é. Cada vez mais se está na evidência de que não existem duas soluções certas e por isso ideologia é uma coisa perigosa e cara. Como ouvirmos um tipo da JSD a discursas com a solução para o país, aquela que nenhum dos 200 mil técnicos superiores do estado com 20 anos de experiência não se lembraram.
Política é isto. É convencer as pessoas, não das ideias que temos, mas que temos as mesmas ideias que eles. É rebaixar-se à ignorância do votante e corroborar toda a imbecilidade que defenda.
Solução? Simples, o estado não pode ter as mãos nas coisas importantes a não ser em casos de emergência.
Já vi ditaduras começarem com menos desculpas. Safa, que grande democrata....
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