sábado, 15 de dezembro de 2012

Matança de crianças


Sou frequentemente assaltado não pela dúvida mas pelo desespero face a acontecimentos que não consigo entender, sobretudo se as vítimas não têm qualquer responsabilidade ou participação. Sou frequentemente assaltado pela tristeza e até incompreensão face ao sofrimento atroz que atinge muitas pessoas, sobretudo os mais pequenos, inocentes vilipendiados perante uma natureza indiferente ao homem, embora não a possa considerar como cruel. A crueldade é própria apenas de alguns humanos quando cometem crimes hediondos, como foi o caso de mais uma matança de crianças. Não é a primeira vez que tal acontece, outras já ocorreram e muitas mais irão acontecer no futuro, testemunhando a perversidade da natureza humana praticamente imune a todos os códigos de conduta e princípios religiosos. Assalta-me a angústia dos que pretendem justificar tamanhos e criminosos atos, de que deus não tem nada a ver com isto. Argumentam que o homem é dotado de livre arbítrio e como tal o único responsável pelos seus atos. Uma opinião que não é mais do que uma tentativa para desresponsabilizar o divino quando perguntamos como foi possível que o criador deixasse que tal acontecesse.
A matança das crianças ocorreu no mesmo dia em que fui assistir à festinha de natal de um neto. Pais, avós, irmãos, amigos e muitos familiares comungaram durante algum tempo, absorvendo uma alegria suave, prazenteira e acolhedora junto dos pequeninos. Soube-me bem e preencheu aquela lacuna existencial que constantemente me assalta de dia para dia. Depois da festa soube que tinha ocorrido uma matança de crianças. Mais uma loucura. A mente de alguns humanos é muito estranha. A nossa espécie mata em nome de tudo inclusive da loucura e da maldade. 
Fala-se tanto de milagres, fala-se tanto de d(D)eus e e(E)le esquece-se da sua criação, deixando que crianças sucumbem às mãos de um louco. A resposta é sempre a mesma: "são insondáveis os desígnios de deus"! Considero estar perante uma resposta perversa e cruel.
Invoca-se a divindade a torto e a direito e, no entanto, surgem acontecimentos desta natureza que afligem qualquer um de nós. Olho e encontro uma vazio inexplicável, indiferente às aspirações, desejos e ambições de uma espécie consciente, frágil, inconstante, arrogante, humilde, amorosa e perversa ao mesmo tempo.
O divino pode servir para muitos, mas não chega para mudar e ajudar a humanidade, a indiferença é tão visível, tão dolorosa, tão palpável que só me resta gritar-lhe, mas não vale a pena, somos frutos de um acaso que se transformou em necessidade. É com base nesta última que iremos continuar, tentando projetar alguma espiritualidade, criatividade e beleza para quem sempre manifestou indiferença. À falta de amor divino devemos oferecer a poesia dos seres humanos, dos que ainda sabem construir e adorar a vida, umas vezes com alegria e outras com sofrimento. 
Que mais posso dar? Apenas um pensamento para as crianças e um abraço para os pais. 

15 comentários:

  1. Não foi assim há tanto tempo que um outro massacre aconteceu. Junho ou julho deste ano em Aurora, EU.

    Enquanto o governo americano não alterar a política de porte de armas...

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  2. É curioso que o meu amigo traga deus à baila mas se esqueça do diabo.

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  3. Não compreendo a sua observação a propósito do diabo.

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  4. Se falamos de deus não nos podemos esquecer do diabo. Não conheço tradição religiosa onde não existam os dois. O livre arbítrio existe por isso mesmo.

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  5. Não vale a pena falar dele, anda por aí à vista de todos. Não acha?

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  6. Cada fala do que quer. Eu apenas não compreendo porque critica deus e não o diabo.

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  7. Tem razão. Cada um fala do que quer. E eu falo do que quero e quando quero.

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  8. e quantos daqueles pais sao a favor do porte de armas ao abrigo da emenda nao sei quantas la da constituiçao deles?

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  9. Esse é um aspeto essencial. A sua llmitação poderá minimizar os efeitos negativos do uso e mau uso das armas. Para um europeu é inconcebível a facilidade de acesso a armas como acontece nos Estados Unidos. Uma obscenidade constitucionalmente consagrada!

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  10. E ainda bem porque o podemos apreciar.

    É certo que às vezes aqui o comentamos, tal como a língua se espraia no palato na maré cheia de um vinho mais adstringente.

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  11. É pena não poder apreciar, também, os seus textos.
    O senhor gosta de apreciar, ainda bem, pelo menos fico a saber alguns dos seus prazeres...

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  12. Anónimo11:50

    Este fala em matança como se estivesse a falar de porcos...

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  13. Anónimo11:55

    "É certo que às vezes aqui o comentamos, tal como a língua se espraia no palato na maré cheia de um vinho mais adstringente."

    Porra, que imagem tão poderosa!

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  14. Eu usei o termo apreciar no sentido de estima, apreço e não de avaliar ou de dar um preço. O que o meu amigo escreve não tem preço, nem acho que a literatura se quantifique. O 4R é um dos meus prazeres sim senhor.

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  15. Obrigado na parte que me diz respeito.

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