Tornaram-se hoje conhecidas algumas das propostas constantes do relatório do FMI centrado na questão da redução dos 4 mil milhões de euros necessários para Portugal cumprir as metas a que se comprometeu, designadamente quanto ao deficite público. Nenhuma novidade. Despedimentos na função pública, redução de remunerações e pensões, aumento de taxas moderadoras e de propinas. O mesmo FMI que passa estas receitas tem vindo a alertar para os efeitos dos excessos de austeridade. Parece paradoxal. E é. Mesmo que se perceba que o regresso aos mercados depende das tendências reconhecíveis como sustentáveis para conseguir equilíbrios estruturais - das contas com o exterior mas também das contas públicas (admitindo que a redução da dívida é objetivo que não conta) -, a falta de compensação pelo lado do crescimento da economia, para o que faltam recursos, transforma a situação que vivemos numa verdadeira quadratura do círculo. E como em todas as situações dilemáticas, a ambiguidade é a arma de quem dá sinais de, aqui chegados, julgar que só resta o milagre. Porém, a ideia da mão invisível, se historicamente já se provou ser isso mesmo - irreal, numa economia como a nossa, dependente, sem automatismos, com poucos instrumentos de política e sem defesas, não há como reagir se não se encontrarem soluções concretas para arredondar as arestas do quadrado. Alimentada a economia com o progressivo cansaço e desgaste das pessoas, falta saber que energias sobrarão, então, à sociedade para reagir, e de que modo se manifestarão essas energias.
Uma nota mais. Há quem, neste contexto, diga que vê luz no final do túnel. No meu caso pode ser da vista cansada, pois o túnel descendente sinto, mas...luz?!
Não é paradoxal. O uso da palavra austeridade pode significar duas coisas, que em estados que usam moeda própria muitas vezes se confundem. Pode significar o estado não gastar ou pode significar o estado cobrar. Em ambos os casos a quantidade de dinheiro na economia pode descer e habitualmente desce, porque serve para pagar ao estrangeiro. Mas estão muito longe de ser a mesma coisa em termos económicos. Muito longe. Aliás, estado nenhum faliu por cortar nos gastos e, este sim, é um facto económico mais que provado.
ResponderEliminarCaro Dr. José Mário,
ResponderEliminaro Sr. sente que o túnel acentua cada vez mais a inclinação e não vislumbra qualquer luz no seu "fundo" (nem sequer o reflexo de um raio de sol que entre pelo lado contrário) porque o túnel que o caro Dr. atravessa, não é o mesmo em que o nosso governo, cómodamente instalado, viaja rumo à Europa. Eles vêm luz e parece que uma luz cada vez maior, julgo até que de tão intensa, essa luz os encandeia e lhes provoca uma cegueira que os torna apopleticamente errantes. Seguem uma luz que só existe por detrás das suas cegueras...
Meu caro Tonibler, sem sofismas, relembrando:
ResponderEliminar"O fórum de Davos que se realiza anualmente na Suíça está este ano a discutir a crise das dívidas na zona euro. A directora do FMI, Christine Lagarde, fez um aviso em relação ao excesso de austeridade. Na sua opinião, os cortes na despesa terão de ser "apropriados" para cada país, pois alguns "devem avançar a toda a velocidade na consolidação orçamental e outros têm espaço de manobra" - DN de 28 de janeiro de 2012.
"O Fundo lembra, numa situação como a actual, cortar demasiado no défice pode ter efeitos "grandes" no crescimento, tal como é confirmado por pesquisa e investigação empírica recente. "Quando os multiplicadores da despesa são grandes, o impacto do ajustamento orçamental no rácio da dívida pode acabar por ser adiado", alerta o FMI" - Jornal de Negócios, 17/04/2012.
Meu caro Bartolomeu, o assunto era capaz de dar um novo ensaio sobre a cegueira...
ResponderEliminarMas não creio que o Governo seja cego ou insensível. Julgo, antes, o que procurei exprimir no post, que se espera algo aconteça que contrarie o que parece lógico.
"Aliás, estado nenhum faliu por cortar nos gastos e, este sim, é um facto económico mais que provado..."
ResponderEliminarSe assim fosse, Keynes não teria passado de obscuro escriba.
A quem interessar: http://downloads.expresso.pt/expressoonline/PDF/PRT__FAD_TA_Report_on_Expenditure_Policy_Reform_Options__January_2013.pdf
ResponderEliminarKeynes era um obscuro escriba...Mas conhece algum estado que tenha falido por ter cortado na despesa??? Eu conheço um que faliu por não cortar e que já está a demorar demais a assumir de vez a falência. Já agora, o que é que Keynes disse sobre a despesa dos municípios? É que sem emitir moeda, não vejo como é que his lordship resolve a questão.
ResponderEliminarCaro JMFA,
O PSD disse que os portugueses continentais são um bando de cubanos. Quer que vá buscar a citação?
Foi pedido ao FMI um plano para me salvar, a mim, a si e a todos os outros portugueses de boa parte do encargo com os serviços comuns desta chafarica. E eles, para o caso concreto, apresentaram as soluções que são as óbvias. A Lagarde "não risca" nada.
Continua a ser óbvio que é necessário alterar este tipo de política de trabalho.
ResponderEliminarNão há que fazer crescer ainda mais o desemprego. A desestabilização social resultante dará cabo do resto do país que possa existir.
É necessário DIVIDIR o trabalho existente (o que se aplica aos empregos públicos):
http://notaslivres.blogspot.pt/2012/10/medida-3-divisao-distribuicao-do.html
Tudo isto só se justifica se:
http://notaslivres.blogspot.pt/2012/04/teoria-da-conspiracao.html
Portanto, deixa cá ver se entendi: é despedindo, é empobrecendo que nós vamos sair disto.
ResponderEliminarAliás, essa receita tem resultado em todo o lado, não é Blair?
Só falta descobrir onde exatamente.
Ora, o orçamento do MEC é cerca de 6 mil milhões e o da Saúde perto dos 8 mil milhões. Somados, perfazem um total inferior a 14 mil milhões.
ResponderEliminarO OGE ultrapassa os 70 mil milhões de euros. Claro está que é nestes setores que é preciso cortar, sobretudo no MEC, que está nos 4% do PIB. E querem que o país ande para a frente???
Se, hoje, os meus filhos já não conseguem aprender grande coisa porque os profes não conseguem ensinar (parece que passam a maior parte do tempo a tentar sossegar as 32 alminhas das suas turmas), com estes cortes suponho que é preferível eu ensiná-lo em casa. É muito provável que eu consiga melhores resultados do que a escola de Passos, Gaspar e Crato.
Para os mais distraídos, ou esquecidos, e para demonstrar a existência de subjectividade em decisões do TC e alguma "flexibilidade de critério" na interpretação da lei, fica aqui uma referência ao acórdão do TC em 2010 aquando dos cortes nos rendimentos e novos escalões de IRS previstos nos (famosos) PEC de Sócrates. Nessa altura - e recorde-se que nem estavamos sob resgate financeiro - o mesmo TC considerou serem esses cortes constitucionais em função do ”contexto de emergência financeira"...
ResponderEliminarhttp://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/01/constitucionalidade-e-quando-um-homum.html
Pode ser que a luz que alguns veem ao fundo no túnel seja o das fogueiras que os esperam para expiarem a destruição social e económica de um país inteiro.
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ResponderEliminarO ódio grassa por todo lado, há, cada vez mais, uma unimidade absoluta contra um regime que consideram corrupto. Neste ambiente, nem governo, nem oposição escapam. A situação está cada vez mais perigosa. Os que nada têm a perder são cada vez em maior número. Temo que a situação, de repente acabe por se descontrolar. O pior de tudo, pior do que uma situação economicamente sustentável, é que temos um PR frouxo e paralizado. Temo o pior!
Já li e não percebo o motivo de tanta escandaleira. Conhecendo os hábitos de leitura e de estudo dos portugueses duvido seriamente que a maioria que por ai opina tenha lido.
ResponderEliminarCaro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarAs grandes organizaçoes internacionais andam geralmente à solta. A tecnocracia instalada tomou conta delas: a criatura sobrepôs-se ao criador e os dirigentes passaram a figuras decorativas. Dizem umas coisas, viajam, aparecem em reuniões importantes, realizam-se desta maneira e, sobretudo, investem no seu futuro, os que têm futuro, ou num cómodo presente, os que não almejam a mais.
Por circunstância que directamente tem a ver com Portugal, aí está o exemplo acabado do FMI. Christine Lagarde diz uma coisa e a onstituição a que preside diz outra.
No fim, vão todos afirmar que dizem o mesmo. E de ambiguidade em ambiguidade nos vamos (e nos vão...) entretendo.
O FMI disse que a Irlanda e a Espanha deveriam poder ter deficits de 6% ou mais.
ResponderEliminarO FMI diz que que Portugal, apesar de ter contas externas equilibradas tem de ter deficit de 4,5% !
Sãos uns brincalhões esta malta do FMI !
Permitam-me que vos sugira (em especial a certo tonto que aqui comenta diariamente) que leiam este artigo, que é uma reflexão séria isenta.
ResponderEliminarE não foi escrito por um Esquerdalho qualquer, foi escrito por um homem de Direita, mas que, pelos vistos, não é sectário e raciocina com base na informação, no conhecimento, sem tacticismos político-partidários.
Muito menos segundo tontices de sabor «saxónico».
E não tem medo de beliscar «vacas sagradas», mesmo que pastem nos suculentos prados da mui nobre e dilecta zona de Belém.
É o post mais recente do blogue do autor.
http://pbteixeira.blogspot.pt
CAro Pinho CArdão,
ResponderEliminarVai-me desculpar mas não concordo com o tom depreciativo que dá ao facto dos técnicos não dizerem o mesmo que a Lagarde. Pelo que li até agora, espero que não nos tenha custado muito dinheiro porque aquilo que eles dizem já nós sabemos há séculos. Mas a consulta da primeira página do relatório esclarece todas as dúvidas que existam sobre as posições públicas da Lagarde e eventuais divergências entre o que está no relatório e aquilo que a Lagarde diz para enfardar uns almoços à borla. Aquilo é trabalho, não é mandar umas bocas para aparecer nos jornais.
O que nos podemos questionar, isso sim, é porque razão um organismo cujo trabalho é meramente técnico anda tão envolvido em política. E a verdade é que ninguém sabia quem era o chefe do FMI antes do DSK e este só sabe por razões de outro tipo de técnica.
A minha pergunta é simples:afinal é necessário reestruturar o Estado ou não?Queremos ou não manter um estado social em termos que permitam a sua subsistência?Queremos continuar a fazer vida de ricos como até aqui?Queremos auto-estradas à borla?Queremos 77(agora 66)generais a roçar as cadeiras?E 1500 oficiais?e 9500 sargentos para 4.500 praças?Queremos 230 deputados?Queremos reformas,como as que periodicamente publica a CGP onde em 500 reformados 450 auferem reformas acima dos 2500 Euros(alguns acima dos 5000)e muitos outros com reformas de 250/300 euritos?Queremos Presidentes de câmara com 12 secretárias,20 BMW,100 engenheiros/arquitectos a ganhar balúrdios?O que queremos afinal?Queremos novamente o mário soares a gritar ao GNR:saia-me da frente que o Povo é que manda?Queremos o seguro ou o costa da CML a comandar?Força!Só que eles com certeza não querem!Queremos que o Passos Coelho saia:se ele tivesse seguido o conselho do Pai, o Dr.António, homem avisado, nunca teria deixado fugir o sócrates para Paris, a refastelar-se e a gozar com tudo isto!Pois é:nós queremos o mundo e a lua,mas a verdade é que temos de nos cingir às nossas posses, que,afinal e infelizmente,não são nenhumas:se o FMI, o BCE e a UE não nos tivessem posto a mão por baixo,a esta hora como seria?
ResponderEliminarAconselho a ler um artigo de hoje no expresso on-line do Henrique Monteiro: vale a pena meditar no que ele escreve!
Parabéns por alguns dos comentários aqui postados; e sobretudo ao autor do artigo, que muito aprecio!