1. Nos dois últimos Posts referi que a imensa melhoria verificada no mercado da dívida pública dos países periféricos do Euro – Portugal incluído, obviamente – se ficava a dever, entre os factores externos, não apenas à disponibilidade, anunciada pelo BCE, em Setembro do ano passado, de intervir, se necessário e em determinadas condições, nesses mercados, mas também à política monetária ultra-expansionista do Banco de Reserva Federal Americano (vulgo FED).
2. Se, quanto ao BCE, tem sido sistematicamente referida a importância daquele anúncio para a melhoria nas condições do mercado – não faltando quem, inapropriadamente, tenha atribuído a esse factor influência exclusiva no regresso da República Portuguesa aos mercados (Fr. do Amaral, por exemplo), com isso desvalorizando outros factores, nomeadamente internos, que foram também muito úteis - já quanto ao FED, salvo este modesto 4R, não encontrei qq nota pública.
3. Não obstante, a influência do FED foi mesmomuito importante, como disse, e resulta de, em consequência da sua política de fortíssima expansão da oferta de moeda, bem conhecida, o FED ter impulsionado uma procura “desenfrada” de títulos de dívida negociáveis como já há muitos anos não se via nos EUA, e que tem sido denominada por “hunt for yield”...
4. ...”hunt for yield”, que levou a que os juros da dívida emitida no mercado americano por empresas classificadas de “investmente grade” tenham caído a pique, proporcionando rendimentos muito baixos e empurrando os investidores para zonas de risco cada vez maiores em busca de um retorno (yield) minimamente satisfatório...
5. ...ao ponto de o bem conhecido mercado dos “junk bonds” (dívida de emitentes de risco mais elevado) ter conhecido uma procura tão intensa que em 2012 a yield média baixou qq coisa como 200 pontos base (bp) e já no corrente mês teve nova queda de cerca de 50 bp, atingindo mínimos históricos de 5,7%...
6. ..e também de ( para preocupação das autoridades), terem reaparecido novas formas de dívida como por exemplo as “paid-in-kind” notes (títulos de dívida de médio/longo prazo que não oferecem quaisquer “cash-flows, de capital ou de juros, ao longo da respectiva vida, ficando o pagamento de tudo para o fim da vida do título) e os “covenant-light bonds” (títulos desprovidos dos habituais covenants, que colocam o titular na situação de poder ser surpreendido, a todo o momento, pela notícia de dificuldades do emitente, sem qq aviso prévio)...formas de dívida que fizeram voga no período anterior à crise do “sub-prime”.
7. Com esta situação e a redução dos receios quanto ao risco sistémico do Euro, os fundos de investimento americanos começaram a voltar-se para a Europa, em busca de “yields” mais decentes, tendo investido pesadamente, no corrente mês por exemplo, em dívida emitida, tanto em USD como em Euros, por bancos e por soberanos europeus (a Espanha tem aproveitado imenso)...
8. ...não surpreendendo assim a notícia segundo a qual, na emissão de dívida a 5 anos que marcou o regresso da República ao mercado, cerca de 1/3 ter sido adquirida por investidores americanos.
9. Eis pois, resumidamente (muito mais se poderia dizer, mas não neste limitado espaço), como é que o FED, admito que não propositadamente, tem sido um aliado objectivo da retoma dos mercados da dívida na Europa – para soberanos, bancos e outras empresas – contribuindo para a renovada confiança que por aqui se vai sentindo...
Este efeito deveria ser antecipado pelo FED. Se o foi qual a vantagem para os EUA? Um euro forte?
ResponderEliminarUm dólar fraco. Não é que tenha alguma vantagem, mas as rotativas têm que funcionar...
ResponderEliminarIlustre Mandatário,
ResponderEliminarTem razão o Tonibler, o resultado (não declarado mas subjacente) é um enfraquecimento do USD, no contexto daquilo a que já se chama de "currency war",em que cada País (Japão, China, Brazil, USA, Suíça, etc, etc) procura evitar a apreciação da sua moeda ou mesmo enfraquecê-la para preservar a competitividade dos seus produtos...
Isto tb sucede num novo "paradigma" económico, em que a preocupação pela inflação desapareceu para dar primazia a outros objectivos como sejam o emprego e as exportações...
Entramos já, claramente para mim, numa nova era da política económica, em que por exemplo os abncos centrais vão perder uma boa parte da influência de que gozaram nas ultimas décadas...
A consequente subida do rácio euro/dólar, não produziu o efeito oposto reduzindo a competitividade da economia europeia dace à americana?
ResponderEliminarCaro Dr. Tavares Moreira, sem querer deixar de reconhecer todo o mérito que o seu post possui, penso no entanto, que não podemos deixar-nos tomar pela tentação de olhar o presente, sem ter em conta o passado. Quero dizer com isto, que o presente não nasceu hoje, aqui e agora, e que é fruto da exclusiva acção de alguém ou de um grupo de algéns.
ResponderEliminarO nosso século, como sabe o meu estimado Amigo, conheceu três "eras" que apesar de distintas, foram resultado da adaptação e renovação da anterior e a todas elas estiveram adstrictas grandes convulsões sociais.
A era indústrial clássica, após a 1ª guerra mundial, criou um modelo Organizacional em que o trabalhador era considerado um recurso da produção, como uma máquina, uma ferramenta, ou um equipamento. Na era indústrial neoclássica, a seguir à segunda guerra mundial, o conceito organizacional alterou-se, passando o trabalhador a ser considerado como uma fonte viva de inteligência, aproveitável com o fim de dinamizar, inovar e competir. Esta mudança de paradígma, deu lugar à era da informação. Melhor dizendo, à era da velocidade de comunicação. O desenvolvimento e aperfeiçoamento da tecnologia informática, permite hoje às organizações, efectuar operações comerciais e financeiras, em segundos, de qualquer parte do mundo, para qualquer parte do mundo. Como o mundo não encolheu de tamanho, pelo contrário, passámos a estar todos mais próximo uns dos outros.
E se essa proximidade por um lado é globalmente benéfica, por outro é extremamente... ameaçadora.
Então, deste ponto de vista, caro Dr. Tavares Moreira, eu não considero que o FED tenha "ajudado" os mercados da Europa, mas sim, que estaja a proteger-se, limitando os mercados europeus, sobretudo os mais frágeis e dependentes.
Mas é claro, quem sou eu...
Caro Antonio Barreto,
ResponderEliminarA apreciação do Euro versus USD é um fenómeno relativamente recente, ao longo de 2012 o câmbio destas moedas não mostrou grandes variações, andou quase sempre entre 1,20 e 1,30 (USD/€).
Quanto à política ultra-expansionista do FED, já vem de há mais de 3 anos.
Posso citar-lhe o exemplo das exportações portuguesas para os USA que até Novembro registaram um grande crescimento, mais de 27% em relação ao ano anterior, que evidencia não ter existido influência da taxa de câmbio no comércio bilateral.
Caro Bartolomeu,
O meu ilustre amigo é livre de considerar o que muito bem entender, nomeadamente que o FED esteja a proteger-se (não sei de quê, confesso), limitando (como?) os mercados europeus...e eu pretendi apenas, neste Post, descrever uma realidade que me parece objectiva e simples de entender.
Quanto ao FED e à sua política ultra-expansionista, tenho a percepção de que não vai durar muito mais tempo...mesmo com o Japão a tentar, por todos os meios, enfraquecer o Yen versus USD (e não só)...
Pois não contraponho a sua opinião, quanto à previsão de duração das politicas financeiras "ultra"-expansionistas, cujas, do meu ponto de vista, assentam no vazio, logo, insustentáveis.
ResponderEliminarQuanto à questão que apresentei no comentário anterior, que o caro Dr. Tavares Moreira me deu a honra de responder, pego ali no poema de Alberto Caeiro e ilustro a velha questão do acharmos algo bonito ou feio, consoante o ângulo de que observamos:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
;)
O cambio é o reflexo da competitividade, não o contrário.
ResponderEliminarOs USA têm que pagar o défice público que têm, o FED é a troika deles e tem que andar a imprimir dinheiro para pagar à bruta a dívida pública, que é uma forma de cobrar impostos a quem trabalha bem para dar dinheiro a quem trabalha mal. Obviamente, isto vai dar cabo da competitividade americana(se continuar) e, naturalmente, vai ainda cavar mais o cambio. Mas se o produto americano for mau, não há cambio que o torne melhor.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarÉ sempre um prazer trocar ideias consigo, o meu amigo delicia-nos com essas ousadas incursões pelo terreno da poesia mais inspirada...desarma-nos, em suma!
Aí a nossa (minha pelo menos) capacidade argumentativa desfaz-se, desaparece, como uma nuvem batida pelo vento!
Quem sabe se um destes dias não vamos assistir a comunicados do BCE e do FED, normalmente maçadores, monótonos, áridos,agora escritos em poesia, seguindo a esteira de Bartolomeu?
Caro Dr. Tavares Moreira, desde que as consequências desses relatórios na nossa finança, não venham a ser explicadas, em verso, pelo nosso ministro Gaspar, tudo bem.
ResponderEliminarDoutra forma, não me aprece que após dizer, sobre o tempo necessário para fazer. E depois... já cá não temos a poetisa Natália Correia, para lhe espevitar a adrenalina conceptual.
;)))
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNão temos a saudosa Natália Correia, com a sua tão feraz energia poética, mas temos talentos das artes económicas, como Artur Baptista da Silva, que tanto deliciou algumas das mentes mais "brilhantes"País...
Lembra-se do incandescente título "O que diz Artur e o Governo não quer ouvir", da autoria de um renomado cérebro da nossa praça?
Assim, não é preciso, nem conveniente, a explicação ser dada pelo ministro V. Gaspar, outrém o poderá substituir com vantagem segura!
O sentido de humor que o caracteriza, apesar de conhecido, surpreende-me sempre, caro Dr. Tavares Moreira.
ResponderEliminarDe que "figurão" o Sr. se foi lembrar...
Mas olhe que foram muitos os enganados, inclusive o jornalista do Expresso que conta com uma "tarimba" profissional de várias décadas.
Mas já agora, a título de curiosidade; o meu caro Amigo crê que existe alguém capaz de substituir com vantagem, o ministro Gaspar? Pessoalmente estou "Seguro" que não! Nem que um D. Sebastião, por acção de um milagre venha a dar à "Costa".
;)))
O figurão é o próximo presidente da república, se ainda sobrar alguma. Como este líder da esquerda não se pode recandidatura, venha o outro....
ResponderEliminarSim, delenda
Nada que se possa considerar impossível de acontecer, caro Tonibler.
ResponderEliminarEstou a lembrar-me daquele que prometia dar um Ferrari a cada português que votasse nele.
E olhe que ainda conseguiu reunir um bom par de votos...
;)))
Não conseguiu porque se recusou a entregar as assinaturas que sei de fonte segura ter reunido, levou ao TC uns caixotes com cromos carregados por burros, uma honra claramente excessiva. Se ao menos todos tivessem esse espirito patriótico certamente a composição do estado português seria diferente, tal como o seu destino.
ResponderEliminarDelenda
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNão vislumbro, por ora, nenhum candidato credível para se ocupar do métier de Vítor Gaspar...uma vez que o famoso Artur BS se encontra fora de combate, vítima da inveja dos que ontem o aplaudiam freneticamente, e seria, inquestionavelmente, a pessoa mais preparada para levar por diante um projecto alternativo e estruturado de Crescimentismo, com pés, tronco e cabeça...
Consta mesmo que já teria assegurado a colaboração de Luís de Mattos, como responsável da Economia, para fazer brotar, do chão, os recursos necessários para financiar, à revelia dos credores, uma fase imparável de obras públicas.
Quanto ao "salvador" que der à costa, o próximo que surgir será para resolver os problemas do Sporting, que têm prioridade sobre os da República!
Caro Tonibler,
Verifico que assume, em pleno, a postura de Catão, o Antigo, com esse finale em "delenda"...só flata mesmo o Bethleem...