quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

2012: contas externas com saldo positivo, ao fim de mais de 15 anos!

1. Com a divulgação (hoje) do Boletim Estatístico de BdeP, para Fevereiro, conclui-se que em 2012 o saldo conjunto tanto (1) das balanças de Bens e de Serviços como (2) das balanças Corrente e de Capital com o exterior fecharam positivos: € 111 milhões no caso (1) e € 1.313 milhões no caso (2).
2. Temos assim confirmada a expectativa de uma mudança radical no desempenho da economia portuguesa a que aqui me tenho referido com alguma frequência, a qual põe termo a um longuíssimo período em que foi exibindo défices e acumulando dívida em relação ao exterior, culminando na capitulação de Abril de 2011, quando o País foi forçado a pedir um resgate financeiro à União Europeia e ao FMI para evitar uma situação de bancarrota generalizada e a implosão financeira do Estado.
3. É bom lembrar, mais uma vez, que esta mudança radical de desempenho da economia se deve, em primeiríssimo lugar, ao trabalho notável de um grande número de empresas privadas (empresários e trabalhadores) que, perante um cenário de ruptura financeira do País e de inevitável contracção económica, remando contra imensas dificuldades, não quiseram perder tempo em discussões estéreis de crescimentismo de opereta (e sofá): meteram mãos à obra, “arregaçaram as mangas”, foram por esse Mundo fora, promovendo os seus produtos e serviços e abrindo novos mercados...
4. ...tendo conseguido, num espaço de 3 anos (2012/2009), um aumento das exportações superior a 42% nos bens e a 17% nos serviços, enquanto as correspondentes importações aumentavam apenas 8,6% e 0,7%.
5. A confirmação destes dados também empresta maior credibilidade às previsões do BdeP para 2013, que apontam para saldos positivos consideráveis nestas mesmas contas, da ordem de 3% do PIB em cada um dos casos (1) e (2) atrás referidos.
6. A eventual verificação dessas previsões em 2013 remeterá para segundo plano a questão orçamental – sem obviamente deixar de merecer atenção e vigilância permanentes – pois será a prova irrefutável, nomeadamente para os credores externos, de que a economia conseguiu dar a volta e entrar num processo de desendividamento que propiciará um gradual mas seguro regresso aos mercados de financiamento externos.
7. Dir-se-á, pois, que o Sector Privado fez até agora o que lhe competia fazer – ou mesmo mais do que lhe competia – cabendo a vez ao Estado de mostrar que também é capaz de inverter as situações de défice e de endividamento...quando se sabe que a dívida pública atingiu 122,5% do PIB no final de 2012 (€ 203,4 mil milhões), sendo mais do que tempo para começar a baixar...
8. ...mas já sabemos que no Estado vai ser muito mais difícil, a defesa dos lugares à Mesa do Orçamento vem sendo feita de uma forma tenaz, persistente, ruidosa - nas ruas, no Parlamento (e outros "FORA"...), em suma em todo o sítio onde exista alguma ligação efectiva e afectiva àquela Mesa...e com a militante cumplicidade de quase toda a comunicação social (também Mesária?)...

8 comentários:

  1. emagrecer o 'monstro' é a meu ver o mais importante. de economia nada sei, mas nunca pedi dinheiro que não pudesse pagar.

    o sector primário necessita ser impulsionado para evitar a dependência externa.

    as tvs anti governamentais encontrarão mais um 'fait d'hiver' para não falar nisto. PQP

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  2. Caro Tavares Moreira,

    Primeiro, felicitá-lo pela compilação de números que está particularmente boa, muito ao seu estilo. Acho que nunca elogiei este esforço que faz por nós leitores, uma enorme falha minha.


    Depois, sem grande esforço se pode prever que várias justificações para estes números virão, a começar pela fantástica ouvida há umas semanas de que o crescimento das exportações se deve ao muito meritório trabalho de José Sócrates porque a curva vem a subir desde há uns anos valentes. O ouro vendido em desespero pelas famílias afectadas pela crise, os alimentos que não foram importados pela fome que grassa entre os professores e os maquinistas, esta política austeritarista do quero-posso-e-mando que esmaga os trabalhadores no seu poder de compra vai completar o rol para se demonstrar que, no fundo, o caminho para estes números seria o contrário.

    Finalmente, seria de relembrar que na despesa pública o trabalho feito foi ZERO! A questão orçamental vai para segundo plano é como quem diz... Há que dizer que este cenário só se consegue manter fugindo aos impostos, que não haverá maneira de os nível de fiscalidade pretendido pelo governo ser compatível com a performance privada e que o menino vai rebentar mais cedo ou mais tarde (espera-se que mais cedo). Aí sim, ficará para segundo plano porque se entrega o estado aos credores e eles que se amanhem com a massa falida.

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  3. Conforme escrevi em artigo publicado no Jornal de Negocios em 23/01, Consultando o "Prodata" verifica-se que os crescimentos dos défices comerciais estão normalmente associados a períodos de mais acelerado crescimento económico e de diminuição da taxa de desemprego. Igualmente, as reduções do défice comercial acontecem em momentos de recessão económica e crescente desemprego.

    Os desequilíbrios da balança comercial traduzem a diversidade de padrões de consumo e poupança em diferentes países. Um acréscimo do défice comercial significa normalmente uma maior procura doméstica e maior investimento. Ou seja, o crescimento económico influencia a balança comercial e não o inverso.

    As importações são tão benéficas quanto as exportações. Permitem-nos consumir uma maior variedade de produtos e a preços mais baixos. Ao mesmo tempo, estimula a concorrência, inovação e produtividade das empresas.

    Sem as importações, os custos de produção das empresas seriam mais elevados e maior seria a pressão para reduzir salários e trabalhadores. Nesta medida, as importações contribuem directa e positivamente para a manutenção do nível de emprego em Portugal.

    O artigo completo esta disponível aqui: http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas//detalhe/y__g__c__i__ex__im.html

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  4. Vai-me desculpar, caro Telmo Azevedo, mas não compreendo a sua afirmação "As importações são tão benéficas quanto as exportações."
    E não compreendo pelo simples motivo que, à excepção da matéria-prima necessária para a produção daquilo que pudessemos exportar, tudo o que seja importado, retira à produção interna, o mercado de que tanto necessita.
    Não se esqueça que tudo aquilo que produzimos e que não exportamos, deve ser defendido, e defendido de diferentes formas, a começar pela carga fiscal a que está sujeito, seguindo pela regulação dos preços de mercado. Sim, porque essa estória do mercado livre promover a concorrência e esta, por sua vêz, estimular a inovação e a produção, é muito bonito, mas não numa conjuntura como a que actualmente condiciona a nossa economia.

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  5. Caro Tavares Moreira,

    Se a Balança Comercial e Corrente estão positivas então está na altura de parar com mais Austerismo, que provoca desemprego e pobreza excessivos.

    Está na altura de deixar a economia respirar, reduzindo o desperdicio no estado , essencialmente no estado não social, de forma gradual, ao mesmo tempo que se reduziriam o IRC, e o IVA neste caso em sectores de forte incorporação de mão-de-obra nacional.

    Se não se fizer isto a destruição da economia irá continuar com perdas para todos, incluindo nos sectores de transacionáveis que perdem animo e economias de escala internas.

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  6. Absolutamente, caro Floribundos, absolutamente!
    Mas convém notar que o sector primário só reduzirá a dependência externa se produzir a custos competitivos em relação ao exterior, doutro modo não reduzirão qualquer dependência...

    Caro Tonibler,

    Em 1º lugar, nada tem de enaltecer o trabalho que por aqui vou deixando, como já terá percebido faço-o exclusivamente por gosto (não dever, obviamente)cívico e se os comentadores o aproveitam, tanto melhor para mim e para eles.
    Quanto à explicação que terá ouvido quanto ao contributo de Sexa
    "JS" para o incremento das exportações, eu devo admitir que o "explicador" em causa se estivesse a referir às exportações dos nossos concorrentes...
    Essas, sim, foram estimuladas por Sexa e de que maneira!

    Caro Paulo Pereira,

    Embora não subscrevendo a 100% as suas teses, devo confessar que desta vez subscrevo em parte razoável.
    Mas custa-me entender que, ao mesmo tempo, sustente a necessidade de redução do desperdício na despesa do Estado, e clame contra aquilo que designa de austerismo...
    (se existe austerismo, ou seja excesso de austeridade, por definição não deveria existir desperdício).

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  7. Caro Tavares Moreira,

    Este governo pouco fez em matéria de cortes no desperdicio, excepto nos ministérios da saude e educação.

    Os casos da RTP e das PPP's são uma prova evidente do fracasso do governo neste campo.

    O Austerismo revelou-se num colossal aumento de impostos, que retirou pressão sobre a necessidade de reformar o estado.

    Mas acima de tudo o Austerismo demonstra ignorância sobre o funcionamento da economia, pois fixa-se em objectivos de redução do deficit publico absurdos e perniciosos.

    Vou ler os resultados da execução orçamental de Janeiro para ver se a tendência se mantêm.

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  8. Caro Paulo Pereira,

    Curiosa a sua maneira de balancear a acção do Governo, neste domínio: acha que fez pouco, dando dois exemplos em que terá feito alguma coisa (Saúde e Educação) e exactamente outros dois em que nada fez (RTP) ou fez menos do que devia fazer (PPPs).
    Com dois exemplos de cada lado, a conclusão é de que pouco fez ou de que fez assim-assim??
    Parece-me pouco lógica a conclusão, julgo que deveria mencionar pelo menos mais uns 5 ou 6 casos em que o Governo tenha feito pouco ou nada e acrescentar que, para além da Saúde e da Educação, nada nais foi feito...para poder concluir, de forma lógica, que o Governo pouco fez...
    Ainda está a tempo, certamente, basta assim o querer...

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