É idosa, de idade avançada, terá cerca de 90 anos, vive sozinha num quarto andar sem elevador, num prédio degradado de um bairro antigo e bonito de Lisboa. O apoio domiciliário de uma IPSS e as voluntárias de uma associação amiga ajudam-na diariamente a satisfazer necessidades básicas e fazem-lhe alguma companhia. Há uns dias atrás estava quase sem conseguir falar por causa de uma carta do senhorio que o carteiro se encarregou de lhe entregar em mão, sabia que não era coisa boa, já lhe tinham falado do aumento das rendas, que não se preocupasse porque as pessoas idosas com baixos rendimentos seriam poupadas. Ficou aflita.Teve a sorte de uma das voluntárias ter formação jurídica e se ter oferecido para analisar a carta enviada pelo senhorio para depois decidir o que fazer.
É chocante ver pessoas idosas em filas que se formam às 7h da manhã à porta da Associação dos Inquilinos Lisbonenses - exibidas há uns dias atrás pelas televisões - a pedirem auxílio sobre o que fazer às notificações dos senhorios que lhes aumentam as rendas, à espera de uma palavra amiga que as informe que foi engano, tudo não passa de um grande susto. As pessoas idosas, com fraca capacidade de por si só compreenderem o que se passa, quais os seus direitos e os dos senhorios, sem informação e muitas vezes vítimas de desinformação, enchem-se de medo de perderem um dos poucos “haveres” que têm. São pessoas com rendimentos baixos, normalmente beneficiárias de pensões mínimas, doentes e sozinhas que precisam de ajuda. Hoje em dia para conhecer a lei quase que é necessário tirar um curso. Se os mais novos não o fazem, o que se pode esperar das pessoas idosas? Ignorar a situação não é próprio de um país civilizado.
A mais pura das verdades. Outra coisa bem diferente é a lei das rendas que tem que ser implementada!
ResponderEliminarCaro Luís Moreira
ResponderEliminarA lei tem que ser implementada, mas é importante que o governo encontre rapidamente soluções para que as rendas de inquilinos em situação de carência económica sejam apoiadas pela segurança social.
Num país civilizado,
ResponderEliminarcom dirigentes experientes e maduros:
a)Esta Lei das Rendas, (as anteriores serviram para que mnistros/secretários de Estado e deputados, disfarçassem estar a trabalhar), devia ter sido acompanhada por;
b)Uma campanha de esclarecimento, TV e Juntas Freguesia, Centros Saúde, Panfletos caixas correio;
c)Avisando pessoas dificuldades, p/se diirigirem ás JF;
d)Onde seria levado a cabo Levantamento Situação/Casos a ponderar; (Sem esquecer responsabilidade famíliares idosos em dificuldades)
e)Daria algum trabalho ás JF. Pois é.
X)Nada tendo de liberal, mas dado as inutilidades das LR anteriores (sempre tão perfeitas), talvez ter desatado o Nó Górdio:
Deixar o mercado sem qq lei.
Com um programa previsto para apoios se/quando justificados.
PS: acontece, estarmos em Portugal.
Ingovernáveis.
País canalha...
ResponderEliminarEstamos demasiado habituados a que a lei diga tudo, preveja tudo, imponha todos os limites e nuances possíveis aos comportamentos. É inacreditável que as pessoas não sejam capazes de avaliar por si próprias o que é a atitude decente, o que devem ou não fazer. A maior parte dos senhorios devem conhecer os inquilinos e poder avaliar o seu modo de vida e a capacidade que têm de pagar aumentos súbitos de rendas e, salvo ódios ou sentimentos hostis, seria fácil agirem com moderação e decência em vez de esperarem que a lei incluísse alíneas sobre alíneas a delimitar exactamente cada atitude. Humanidade e decência não devem depender da lei, devem vir da formação de cada um e da sua normal sociabilidade. Aquilo a que se assistiu foi terrível, um sinal de dependência total do dirigido legislativo para garantir que não nos pisamos uns aos outros. Uma coisa é a lei permitir, liberalizar, outra é ignorar a situação dos que, por uma razão ou por outra, dependem do nosso bom senso e do respeito pela vida dos outros. Confesso que fiquei escandalizada também com a reacção de que a lei é que não està bem feita, o que faltou foi a capacidade de usar a liberdade que a lei conferiu depois de décadas de imposições que conduziram a esta dessponsabilização de cada um pelos seus actos.
ResponderEliminarDe acordo.Falta solidariedade na nossa sociedade. E a ideia das juntas de freguesia anteciparem é boa...
ResponderEliminarO nosso país, nos seus vários serviços públicos, raramente reconhece aos seus cidadãos a dignidade devida.
ResponderEliminarDeste modo, têm invariávelmente de partir da iniciativa privada, acções que visem porporcionar aos mais idosos, doentes e em situações de vida degradadas, o apoio que necessitam.
A indignação de todos não é sufuciente para fazer compreender aos nossos governantes que a população do país, não constituída por números, mas sim por pessoas que trabalham, ou que querem trabalhar, ou que já cumpriram a sua missão, trabalhando.
Se por um lado a propriedade privada deve ser protegida, a propriedade humana também deve.
E compete ao Estado, oferecer condições para que os idosos doentes sózinhos e fragilizados na sua autonomia, possam viver com dignidade os últimos anos que lhes restam, de vida.
Existem edifícios públicos desocupados, os quais podem ser remodelados e apetrechados para acolher com dignidade, pessoas que precisam de companhia e de quidados. Existem desempregados de diversas áreas laborais, que em regime de semi-voluntariado podem ser "aproveitados" para tarefa digna e dignificante.
A cooperação entre todos e o espírito de solideriedade, fazem mais que nunca todo o sentido, nestes tempos difíceis e tendencialmente de alienação pelos valores morais e sociais.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarEsquecemo-nos frequentemente - o Estado e a sociedade - das pessoas idosas. Mas todos caminhamos para lá, uns ficam pelo caminho, outros vão lá chegar. Não perdemos tempo a pensar que estamos a fazer o caminho. É um assunto que não é urgente, deixamos para amanhã, logo se verá. Felizmente vamos tendo cada vez mais pessoas preocupadas com a terceira idade, mas há muito para fazer. Com a sociedade a envelhecer temos mesmo necessidade de integrar na nossa estrutura cultural e mental a problemática da longevidade.
A longevidade só se torna problemática a partir do momento em que é considerada inútil e sinónimo de mais encargos para o estado, quando em muitos casos, a longevidade pode ser uma imensa fonte de energia, que ao ser abandonada a si própria, passa a ser um desperdício.
ResponderEliminarA interactividade dos mais idosos com os mais jovens, é, em minha opinião a forma mais inteligente e saudável de equilibrar a nossa sociedade, assim como as despesas com a assistência social.
Os idosos possuem um inestimável cúmulo de saberes, e de experiências que, devidamente direccionados, são certamente de grande utilidade para toda a sociedade e um estímulo para os jóvens, sobretudo aqueles que vêm as suas perspectivas e sonhos de futuro, desfeitos numa amorfa existência global.
Cada um terá de descobrir caminhos alternativos e adiciona-lo aos caminhos descobertos por outros. Foi assim que chegámos à India, ao Brasil, ao mundo.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarPartilho inteiramente da sua reflexão. A longevidade é uma conquista civilizacional, reflexo de progressos assinaláveis no saber e na investigação científica. Viver mais tempo é uma notícia feliz, que cada um e a sociedade em geral devem saber aproveitar com esse sentido. Vejo muitas pessoas olharem para a longevidade como um problema. Não, o problema não é o aumento da esperança de vida, é a nossa estrutura mental e social que tem dificuldades em se adaptar à nova realidade. Se queremos viver mais tempo com dignidade e qualidade temos que nos reorganizar, tirar partido do saber e da experiência dos mais velhos. Precisamos deles para termos uma sociedade mais rica, quer de um ponto de vista humano e social, mas também de um ponto de vista da economia.
É também como penso.
ResponderEliminar