Há pensamentos e sentimentos que se perdem ao longo do tempo. Por vezes escrevinho-os e deixo que o vento ou a água os leve. Nascem já perdidos. Não sei como, mas hoje fui confrontado com um desses textos.
Ler o que se escreveu em tempos dá-nos a exata medida do que somos, seres que se procuram a si próprios sem nunca se encontrarem até que leiam o que a alma lhes ditou.
Hoje fui obrigado a encontrar-me. Um texto perdido, um texto esquecido, um texto renascido.
Há quem os guarde...
LÁGRIMAS
"Os rios nascem das lágrimas da tristeza, da saudade e do amor. Se não fosse a sensibilidade das almas das ninfas e das deusas eles não existiriam, e nós também não.
Ao longo do trajeto as águas vão-se engrossando umas vezes, turbulentas e odiosas outras, calmas às vezes, transparentes sempre que a pureza dos sentimentos os alimentam, turvas quando a raiva e a dor fazem jorrar lágrimas de sangue, azuladas e faiscantes quando a emoção da alegria as faz brotar ao fim da tarde, altura em que o sol descobre o seu dourado e o luar da noite sabe realçar o brilho prateado.
Quando as lágrimas secam, as águas deixam de correr, e a fome e a dor aparecem, frutos de um sofrimento em que não é possível sentir mais o amor.
Lágrimas, muitas, simples, doces, salgadas, amargas; lágrimas, a imagem liquída das almas. Almas nobres, tristes, esperançosas, angustiosas, sofredoras, secas, puras, ladras, venenosas, todas elas choram, mas são poucas as que alimentam o rio da existência..."
Eis a razão, porque nada substitui tudo, nem tudo, substitui nada.
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