sábado, 2 de março de 2013

O ciclo vicioso do desemprego...

Novo recorde para a taxa de desemprego, 17,6%. São 960 pessoas sem trabalho. Até quando a subida não vai deixar de surpreender? Como podemos conviver, agora e no futuro, com esta realidade? O que fazer aos jovens desempregados e o que fazer ao desemprego de longa duração?
De um ponto de vista económico, quanto vale um desempregado? As contas não são difíceis de fazer. Com efeito um desempregado para além de não gerar actividade económica e produzir riqueza, tem o duplo custo de, por um lado, reduzir as receitas da segurança social através da queda das contribuições (TSU) do trabalhador e da empresa e, por outro lado, agravar as despesas com prestações sociais, designadamente o subsídio de desemprego financiado com as contribuições da segurança social ou outras prestações sociais financiadas pelos impostos para apoiar os desempregados em situação de carência económica. A mais desemprego corresponde um agravamento dos saldos negativos da segurança social e uma necessidade de mais impostos e/ou redução de prestações sociais.
Apesar do ambiente depressivo da economia, que explica a catástrofe social e económica do desemprego, tardam em surgir incentivos adequados à contratação de desempregados que não sejam paliativos mas ajudem, a par com outras medidas, a regenerar o investimento e o tecido produtivo.
Estes incentivos podem constituir bonificações e isenções de TSU que devem, no entanto, ser modelizadas de modo a permitir baixar os custos do triplo efeito descrito, designadamente o duplo custo de não receita e mais despesa da segurança social. Esta modelização deve contudo favorecer ambas as partes – trabalhador e empresa – de modo a que a apropriação dos benefícios dos incentivos seja repartida equitativamente, conferindo sustentabilidade económica e social à geração de novo emprego.
O desemprego é um flagelo - económico e financeiro é verdade - mas é, antes de tudo o mais, uma chaga humana e social que interfere com aspectos essenciais da vida. Os números agora revelados pelo Eurostat dizem-nos e lembram-nos os dramas de centenas de milhares de famílias que estão a sofrer e não podem ter uma vida normal.

21 comentários:

  1. Completamente de acordo. É exactamente por tudo isso que é inaceitável a política seguida de investimento público sem retorno adequado,com emprego temporário.

    ResponderEliminar
  2. Ou seja: estamos perante um problema "pescadinha-de-rabo-na-boca". Falta o emprego porque umas empresas abrem falência e outras, no intuito de reduzir gastos, dispensam parte dos trabalhadores. As empresas fecham e reduzem o número de empregados porque deixou de existir mercado para aquilo que produziam. Ao deixar de facturar, as empresas deixam de pagar impostos, assim como os empregados que deixam de o ser. Ao deixar de entrar o dinheiro dos impostos, deixa o estado de poder manter em funcionamento, alguns sectores sobre a sua tutela. Então o estado recorre aos fundos do BCE para poder manter em funcionamento os seus serviços, mas para além de estar obrigado a amortizar esse dinheiro emprestado, está também obrigado a pagar juros por ele.
    Ou seja, tanto o estado como as famílias estão num processo mutuo e não regressivo de afundamento.
    Assim concluimos, que ha crise porque não ha dinheiro, não dinheiro porque as empresas não laboram, as empresas não laboram porque não têm mercado que lhes compre a produção. Não existe mercado porque o mundo está a passar por um tremendo desequilíbrio económico, pois enquanto alguns países crescem economicamente, outros vêm as suas economias asfixiadas. Este desiquilibrio de economias, verifica-se com maior evidência entre os países da Ásia, de Leste e de África e os países europeus, principalmente os da Europa do sul e da América.
    Mas entre todo este desequilíbrio, assistimos a que os países do norte da Europa, conseguem manter as suas economias equilibradas, sem prejuízo para os serviços do estado, nomeadamente a assistência social, a educação, a segurança e a justiça.
    Do meu ponto de vista, cara Drª. Margarida, e se a minha análise não se acha desfasada da realidade, é fundamental, sob pena de qualquer recuperação venha a ser fatalmente impossível, estruturar de novo e sériamente todo o estado e renegociar a dívida pública, pedindo sem hesitação, a redução da mesma. O que, em minha opinião já devia ter sido decidido desde que este governo tomou posse.

    ResponderEliminar
  3. o desemprego vem sobretudo dos serviços em excesso
    e da obras públicas: país cheo de autoestradas vazias,. casas para vender no resto o século

    há mais de 10 disse Alguém nas reuniões anuais da Suiça que a tendência da taxa de emprego era para descer até aos 20%

    ResponderEliminar
  4. Para assegurar a mais justa e equilibrada distribuição da riqueza, a par de uma política de impostos progressiva, nasceram os chamados “estados sociais”, proporcionando à generalidade da população, um acesso “tendencialmente gratuito” à Educação, à Saúde e à Providência. Deste modo, era assegurado à maioria da população um rendimento suplementar ao seu salário. O Estado actuava na distribuição da riqueza criada pelo país, retirando rendimentos dos mais ricos (através dos impostos progressivos) para os redistribuir pela população. A sociedade tornava-se mais saudável e mais apta, com maiores conhecimentos, e atenuavam-se as desigualdades sociais, factores considerados então como fundamentais para um mais acelerado e maior desenvolvimento económico

    O que o governo de Passos Coelho e a generalidade dos governos europeus pretendem, é reverter radicalmente a grande transformação social e económica do pós-guerra, que trouxe paz e crescimento à Europa para um novo modelo de sociedade, baseada no individualismo e na mercantilização. Mais desigual, em que o Estado abdique de quaisquer funções sociais, na Saúde, na Educação e na Previdência. É por esta razão, que os governantes protagonistas deste propósito, não se atrevem a falar do futuro. Porque o “progresso” que advogam é um progresso que não atende às exigências do bem comum, é o progresso dos ricos, dos oligarcas e não da sociedade, da comunidade.

    ResponderEliminar
  5. Concordo com o caro Carlos Sério, várias evidÊncias confirmam aquilo que apresenta.
    Porém, estou convencido que essa "política" desastrosa, sem atingir os fins que buscava conquistar, está agora a ser vítima de si mesma, sem alternativas para prosseguir.
    Do mesmo modo, sem alternativas, encontra-se a sociedade proletária, os menos ricos e os pobres, que em tempo oportuno não souberam constituir lideranças e deixando os sindicatos demitir-se das suas funções, impedir o prosseguimento de destruição do estado social criado.
    Em breve, deixaremos de ter tudo aquilo que foi conquistado a nível social e que foi, como muito bem diz, fruto de um progresso social e laboral. Mas aqueles que lideraram esta política de destruição da coisa social, vão também perecer, porque as sociedades estão esgotadas e as gerações actuais não se conformam com o padrão de vida dos seus avós, além de que, possuem muito mais informação disponível e ainda, muito presente os dramas vivdos pelos seus pais, aqueles que de um momento para o outro ficaram desempregados, perderam a casa, e passaram a depender da solideriedade de estranhos.
    Esta nova geração não vai querer passar pelas mesmas situações, porque possui uma consciência e um conhecimento mais realista e menos utópico, ou crédulo, como os seus pais e avós, quando acreditaram num mundo melhor, numa sociedade mais justa e equilibrada.

    ResponderEliminar
  6. sou anarca

    para os defensores dum estado social que recebe 5 e gasta 10

    os contribuintes são 'a árvore das patacas'

    ResponderEliminar
  7. Caro Flor i bundos, anarca; o carácter único do Homem, advém das expressões máximas que a sua maravilhosa plasticidade mental conseguir produzir.
    No entanto, sabemos que: porque a expressão plástica-mental de uns homens se compõe de tons negros e cinza, e porque a Humanidade é uma só, a plasticidade mental dos outros Homens, é obrigada a produzir uma paleta de cores mais vivas e brilhantes, por forma a que, de tempos a tempos, possamos ver o arco-iris.
    E o arco iris aparece quando quando, todas as cores se reunem na mesma paleta, ou seja, quando ha lugar a uma conjuntura colorida de máximas espressões.
    Para isso, é imprescindível que anarcas, democratas, neoliberais, socialistas, etc. contribuam honesta e conscientemente, para a composição da paleta.

    ResponderEliminar
  8. Caro Bartolomeu,

    Um apontamento musical alusivo à sua explicação anti-monocromática :)

    http://www.youtube.com/watch?v=b9-8fwSuI-k

    Cumprimentos!

    ResponderEliminar
  9. Boa escolha caro AF.
    O mundo não tem de ser a preto ou a branco, à esquerda ou à direita. E acima de tudo, não pode ser um mundo onde a discussão de ideias esteja intredita, onde a opinião diferente não tenha valor, sob pena de se tornar estéril e sem luz.

    ResponderEliminar
  10. Caros,

    Já em 1850 Marx escrevia sobre o problema do elevado desemprego gerado no sistema capitalista pelo aumento continuo da produtividade.

    Apenas com um crescimento economico de pelo menos 2% ao ano será possivel reduzir o desemprego.

    O crescimento economico num sistema de moeda externa como o nosso, só se consegue mantendo um balança comercial equilibrada.

    Para crescer com uma balança comercial equilibrada é necessário reduzir a carga fiscal sobre as empresas de transacionáveis de forma muito significativa, pelo menos 50% de redução no IRC e na TSU sobre os salários mais baixos, tal como acontece na Irlanda.

    Além disso é necessário injectar doses elevadas de inovação das empresas de transacionáveis direcionando o dinheiro publico gasto em investigação para a investigação aplicada nos sectores transacionáveis.

    Além disso é preciso aumentar o credito e reduzir os juros para estes sectores, racionando o credito nos sectores nao transacionáveis.

    a) reduzir impostos

    b) investigação aplicada

    c) credito abundante a juros baixos

    d) eliminar dezenas de entidades e milhares de chefias no sector publico

    ResponderEliminar
  11. Pois é, caro Paulo; Carl Marx tinha uma visão muito precisa de economia e de sociedade, cujas, não sofreram alteração até aos dias de hoje.
    Só que, nos dias de hoje, os mercados regem-se por regras diferentes as quais estão sujeitas aos interesses do capital e da finança, ambos insaciáveis, não deixando margem para o crescimento da economia.
    Basta notar que hoje, tudo gira à volta dos lucros com as transacções financeiras, daí o nascimento do interesse naquela taxa Tobin, que não teria razão de ser à 50 anos atrás, quando a economia assentava em grande parte na produção e no comercio daquilo que era produzido.

    ResponderEliminar
  12. Caro Bartolomeu,

    Quem determina a politica economica são os governos, legitimados pelo voto.

    Grande parte dos erros de politica economica devem-se muito mais a falta de estudo e à falta de utilização do método cientifico, do que a "interesses obscuros da alta finança internacionalista".

    É impossivel um pais crescer com uma moeda fortissima, impostos elevados sobre as empresas, falta de dirigismo na investigação publica e falta de controle na alocação do credito.

    Tudo isto era sabido até ao inicio dos anos 80. Depois a malta alinhou pelo Neoliberalismo sem nunca mais olhar para traz.

    ResponderEliminar
  13. SOBRE A DIMINUIÇÃO DOS IMPOSTOS SOBRE O CAPITAL

    De acordo com os cálculos efectuados, entre 1990 e 2010, «o montante dos resultados contabilísticos positivos das empresas multiplicou-se por 13, enquanto a receita de IRC apenas triplicou». Ou seja, se «em 1990 o IRC liquidado pelo Estado representava 27% dos resultados contabilísticos positivos declarados pelas empresas», passados «20 anos o IRC pesou já só 6% desses resultados», o valor mais baixo da série apurada.
    A perda de receitas gerada por esta via deve-se essencialmente a sucessivas reduções da taxa de IRC, sobretudo através da alteração da base de tributação aplicada às empresas (metade dos resultados contabilísticos deixou de ser tributado) e à diversificação das rubricas de dedução à colecta. Por sectores, em 2010 foi a banca
    Em 2010, os lucros da banca somaram quase mil milhões, mas o IRC pago foi de apenas 121 milhões, menos de metade do valor pago em 2009, estima a Associação Portuguesa de Bancos.
    Resumindo: em 1990 cerca de 55% das empresas pagaram uma quantia de IRC que representou 27% dos resultados. Em 2010 só cerca de 29% das empresas pagaram um IRC de 6% dos resultados contabilísticos.

    ResponderEliminar
  14. Drª.Margarida: Parabéns pela sua intervenção de ontem no programa da TVI24!
    Como eu gostei de ouvir a sua explanação do grave problema da Segurança Social. Espero que no próximo programa sejam apresentadas soluções!E que o Governo aproveite os seus conhecimentos!
    Parabéns!

    ResponderEliminar
  15. Caro alberico.lopes
    Muito obrigada pelas suas amáveis palavras. É fundamental que as pessoas se apercebam do "grave problema da Segurança Social". Esconder ou insistir que nada se passa é um mau serviço que se presta. Quanto às soluções não há "bolas de cristal", mas há ideias que se podem trocar.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  16. Cara Margarida Correa de Aguiar,

    Poderá nos dizer qual o grave problema da S.Social ?

    Não será a falta de crescimento economico e o elevadissimo desemprego ?

    ResponderEliminar
  17. Caro Paulo Pereira
    Vou tentar responder simplificadamente. O nosso sistema de pensões assenta no método de repartição, isto é, são as contribuições dos trabalhadores no activo que financiam em cada momento as pensões em pagamento.
    O envelhecimento demográfico é adverso a este modelo de financiamento, porque sendo mais longa a esperança de vida e havendo menos natalidade, haverá tendencialmente menos activos para um maior número de pensionistas, consequentemente haverá mais pensões para pagar e por períodos mais logos e menos contribuições para as financiar.
    Ainda que o crescimento económico fosse favorável, que não é, o crescimento da massa salarial - que é a base de incidência da taxa contributiva - não acompanhará o crescimento dos encargos com pensões. O desemprego agrava o rácio população activa/pensionistas (menos activos para suportar mais pensionistas). Os movimentos migratórios a que estamos a assistir contribuem para afundar ainda mais a taxa de natalidade. Não havendo economia o problema antecipa-se.

    ResponderEliminar
  18. Cara Margarida Correia,

    Se o desemprego estivesse nos 10% , não existira qualquer problema na S.Social.

    O que implica que se teriamos de ter tido um crescimento médio de 2% ao ano nos ultimos 10 anos, em vez de 0,5%.

    E mesmo que houvesse um pequeno problema, porque é que não se aumentaria a contribuição do IVA para a S.Social, por contrapartida de cortes nas despesas superfulas do estado ?

    ResponderEliminar
  19. Caro Paulo Pereira
    O problema pode ser "desagravado" se não for grave aumentar contribuições ou impostos para manter o nível de pensões. Um outro caminho é reduzir pensões, justamente o que tem vindo a acontecer. Fazer depender as pensões de um único pilar de financiamento comporta muitos riscos. A realidade tem-se encarregado de o mostrar.

    ResponderEliminar
  20. Cara Margarida Correa,

    O facto de parte do IVA contribuir para a S.Social é a prova mais que provada que a S.Social depende apenas do poder legislativo e não de qualquer esquema de capitalização ou não capitalização.

    Aliás, é completamente absurdo capitalizar a S.Social com divida publica, uma especie de tira do bolso direito para o bolso esquerdo do mesmo casaco.

    Obviamente que o problema economico é que é o problema da S.Social, o resto é desvio de atenções para pormenores com pouco relevância, mas esse desvio de atenções tem dado jeito aaos sucessivos governos que nos ultimos 20 anos froam incapazes de ter politicas económicas correctas.

    ResponderEliminar
  21. Caro Paulo Pereira
    Numa coisa parece que estamos de acordo, cabe ao poder político definir o que quer de um sistema de Segurança Social, como deve ser financiado e que benefícios deve assegurar. Há várias opções à disposição, mas o que o poder legislativo não deve fazer é prometer o que não pode dar e deve zelar pela equidade e solidariedade intergeracional.
    Quanto à demografia, Caro Paulo Pereira, era bom que fosse um detalhe, mas não é e não o devemos ignorar.

    ResponderEliminar