A memória é despertada de quando em vez de forma inesperada, provocando o acender de emoções e o despertar de lembranças, a ponto de obrigar a inesperadas viagens no tempo, fazendo inveja às águas de um rio, que, ao fim de algum tempo, certas da morte e do esquecimento nos majestosos mares, desejam ardentemente subir por onde descem. Não conseguem. O homem consegue, a sua vida é uma corrente capaz de regressar às origens ao tropeçar em qualquer meandro do seu percurso, contrariando a afirmação de que a mesma água não corre duas vezes debaixo da mesma ponte. O homem consegue criar pontes para que as águas corram muitas vezes debaixo delas, tantas quanto o acaso permitir. O acaso existe. O acaso obriga a procurá-lo sem dar a entender que existe. Exige silenciosamente a presença, uma necessidade que alimenta a memória que pretende manter viva. Sem essa necessidade, sem o invisível acaso, não há memória, não há vida, não há passado, não há futuro, não há nada.
O bronze, com aspeto de que quer envelhecer, redobrando a dignidade da figura em causa, encimava a coluna de mármore rosa que ostentava outro rosto, esculpido na essência da pedra, a força masculina e a doçura feminina do casal. Duas imagens, uma em três dimensões, a outra em duas, mas cujo somatório despertou a quarta, a do tempo, a da viagem ao passado, trazendo-o até ao presente. O bronze e o mármore, inesperadamente, estremeceram, provocando uma cascata de emoções e uma explosão de sentimentos. Uma onda de amor, capaz de afogar uma pessoa, aqueceu o coração de quem teve um passado comum. As almas presas ao bronze e ao belo mármore rosa explodiram numa alegria silenciosa. O desejo de duas almas querendo regressar à vida confundiu-se com a viagem de outra alma ao passado.
É simples viajar no tempo, bastar deixar as almas livres como as águas de um rio, o rio da vida e o rio da morte...
(O Algarve também pode ser fonte de inspiração, de memórias, de encanto, o "Outro Algarve"...)
«O desejo de duas almas querendo regressar à vida confundiu-se com a viagem de outra alma ao passado.»
ResponderEliminarTerá o Sr. Professor conhecido pessoalmente o seu colega Dr. Batalim ?
http://marafacoesdeumalouletana.blogs.sapo.pt/9909.html
Uma bela Homenagem a reforçar a memória que julgo (a avaliar pelo depoimento da autora do blog "linkado" - Lígia Laginha - Se mantem viva no espírito dos Louletanos.
Já agora, e porque me deu para ir cuscuvilhar (até me admirava se assim naão fosse... pareço as velhas do solheiro) descobri que em 2009, corria grande seleuma em torno da colocação definitiva da estátua actual, porque a edilidade não chegava a consenso na escolha do local, com os familiares do casal. Parece que a solução demorou mais de um ano a ser definitivamente tomada.
ResponderEliminarAs más-línguas atribuem o impasse ao facto de a câmara ter mudado de gerência e de a decisão de homenagear o casal ter vindo da anterior.
Sacana de país este, em que ninguém dá um passo sem que venha um abrolho por trás a tentar rasteira-lo...
Foram amigos e vizinhos da minha mulher. Eu fui professor da filha. Conheço-os sem os ter conhecido...
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