segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cuidado com as comparações

O Le Point do dia 25 de Abril tem logo na capa uma chamada de atenção para o artigo principal: “Serão os franceses preguiçosos?” e, lá dentro, uma vasta prosa sobre o número de horas de trabalho comparado com o de “outros” países muito mais dinâmicos, pelo menos a avaliar pelo PIB. Bem, pensei eu, chegou  a vez dos franceses, está visto que estão em dificuldades e que também cometeram o pecado da preguiça, tão mal vista nos mercados das avaliações da crise.O que é curioso é que a forma como na revista se avalia esta “carga” de trabalho e a consequente produtividade é pelo número de horas comparadas, tal e qual se media nas fábricas no trabalho de produção em série, como se o trabalho fosse todo igual ao que era, dominantemente, há várias décadas, e a tão gabada sociedade do conhecimento não contasse para nada. Isto para não falar no crescente número de desempregados, que serão muitos mais se olharmos apenas a produtividade pelo lado do número de horas de trabalho prestado pelos que já tinham emprego. Um dos quadros que “ilustra” os que trabalham mais horas e os que trabalham menos horas temos, de um lado, os que trabalham na hotelaria e restauração,e, do lado dos que “produzem” menos, temos os os agentes de educação. Podemos, portanto, ver com toda a clareza que a produtividade/hora de um professor é comparável à produtividade/hora de um empregado de restaurante e, quem sabe, o respetivo contributo para o PIB em cada ano de trabalho.
Houve há dias uma trágica derrocada de um prédio no Bangladesh no qual, segundo as notícias, trabalhavam mais de 2000 pessoas, incluindo em duas fábricas de têxteis, formecedoras de algumas das marcas mais caras do mundo. Não sei qual era a produtividade destes operários fabris, mas devia ser largamente compensadora para as tais marcas, que os contratavam indirectamente e para nós, consumidores, que não olhamos as etiquetas do made in, mas de certeza os horários de trabalho eram bem menos folgados que o dos preguiçosos ocidentais… Cuidado com as “comparações”!

6 comentários:

  1. É perigoso comparar, concordo, Srª. Drª. Suzana Toscano.
    E porquê comparar?
    O que se poderá retirar de uma comparação? Da mesma forma, pergunto: o que se poderá retirar de um exemplo?
    Sim, porque ao compararmos, estamos em simultâneo a tomar algo como padrão, como bitola, como exemplo.
    A experiência diz-me que os exemplos só funcionam no campo do melhoramento, quando se verificam duas condições: uma; a de ser tomado pelo outro, a outra; a de as condições serem absolutamente iguais para ambos.
    Ora, em matéria de produtividade, estas duas condições colocam-se do mesmo modo: é preciso que todos os envolvidos entendam o objectivo da mesma forma e que as condições sejam as mesmas para todos.
    Lembro-me de uma ideia defendida pelo Professor Agostinho da Silva; ele achava que a formação académica e a actividade profissional, deviam desenvolver-se de acordo com as capacidades e as competências que cada um demonstrasse possuir. E ao que sei, este modelo funcionou na perfeição, nas universidades que o Professor fundou, lá pelos Brasis.

    ResponderEliminar
  2. David Mayor, his ambition was to build an "ethical factory" in Bangladesh's notorious garment industry, but Spanish entrepreneur David Mayor is now a wanted man after his company turned to dust in the Dhaka factory disaster.

    In 2007, the shaggy-haired Mayor gave up his career as a fashion buyer in Spain because he was fed up with not being able to control workers' conditions and his conscience was bothered by reports of "sweatshop" labour. "Since the beginning I was a bit concerned about the social issues and it was a personal thing," he told AFP in 2009 at his factory, which was funding a separate training centre where women learned how to sew, as well as English and mathematics.

    His background casts a new light on the story, suggesting that at least some of the factories in Rana Plaza appear not to be the typical "sweatshops" decried by campaigners.

    While Mayor appeared to have tried to improve working conditions for his hundreds of employees, Rana Plaza was an accident waiting to happen. Like many other factories around the capital, it appeared to have violated the building code because of illegal construction, leading to the cracks and ultimately the implosion of the structure on Wednesday morning, police say.

    "We are a factory. Prices are tight. Every single cent is important. We are not an NGO, but in addition we have this social concern," he told AFP in the 2009 interview.

    “Facts are stubborn things, but statistics are more pliable.” - Mark Twain

    ResponderEliminar
  3. Eu visitei fábricas na China e fiquei sem dúvidas nenhuma acerca da sua "produtividade"...

    ResponderEliminar
  4. O que importa no caso Francês é que tem uma economia equilibrada com o exterior.

    Só não está melhor porque insistem, tal como em Portugal, em ter elevadissimos impostos sobre as empresas.

    Ainda não entendi esta tendência para taxar as empresas desta forma, ajudando à deslocalização para a ásia .

    será masoquismo ?

    ResponderEliminar
  5. Suzana
    Comparamos tudo com tudo, alhos com bugalhos. Vivemos na era das comparações, algumas até dão muito jeito!
    As comparações são sempre perigosas na medida em que normalmente um indicador só por si não espelha um sistema no qual está integrado.
    Mas a propósito de comparações de produtividade, é preciso ter muito cuidado com as comparações entre a Europa e países com economias "repressivas", em que não são respeitados os direitos humanos ou os direitos sociais e em que a mão de obre intensiva é o padrão. E quanto ao indicador "produtividade" é também fundamental conhecer os critérios e métricas, pois é diferente medir a produtividade de mão-de-obra ou do conhecimento. Como sabemos, a Europa só tem uma forma de competir globalmente, é explorar a vantagem competitiva nas indústrias mais avançadas através de grande investimento de capital, jogando no factor "conhecimento".

    ResponderEliminar
  6. Não diria tratar-se uma questão masoquista, Paulo Pereira, nem mesmo, sádica, mas talvez, uma questão de sodomia.
    Repare:
    Temos em Portugal empresas que contribuem para as campanhas eleitorais, não por uma questão de mecenato, ou de altruísmo, ou de ideologia, mas para depois, retirarem dividendos. Esses dividendosn não se traduzem, nem podem resumir-se à fuga de impostos, ou à conivência do governo, na mesma. O mecenato (ou comcobinato financeiro), gera contrapartidas , abre portas que facilitam negócios vantajosos, os quais, apesar de taxados, vestem-se de especulação.
    Por outro lado, as empresas que não entram (geralmente porque não lhes é permitida a entrada) nestes jogos, pagam impostos por conta, impostos sobre impostos, sobre o que produzem, o que não produzem e aquilo que desejariam produzir.
    Em suma, uma completa e alegre festa gay, anónima, em que todos os participantes usam uma máscara, ninguem sabe verdadeiramente se quem baixou as calças o fêz por prazer, ou por necessidade.

    ResponderEliminar