Os investigadores procuram conhecer e interpretar os fenómenos, mas não ficam por aqui, por vezes também gostam de criar novos “fenómenos”, talvez para contestar ou para provocar certas ideias ou princípios. Mesmo que não correspondam à verdade, pelo menos são gratificantes em termos de imaginação e de distração, o que já não é mau.
Como andamos a fazer tantas asneiras, sobretudo no último século e meio, não me admira que tenham despertado o interesse em saber se estamos ou não mais burros. Não sei se foi esta a ideia base do estudo que pretendo analisar, mas se não foi, podia ter sido!
Ler que a inteligência humana está a diminuir desde a época vitoriana chama a atenção. Como? Estamos a ficar mais “burros”? Os autores explicam que através do tempo de reação visual é possível chegar a essa conclusão. Na parte final do século XIX o tempo médio era da ordem dos 194 milissegundos, agora passou para os 275. Sem entrar em profundidade nos aspetos técnicos, os autores afirmam que as causas têm a ver com o facto das mulheres inteligentes terem menos filhos, vivermos em sociedades muito fortes, em termos de suporte social, haver maior disponibilidade alimentar e diminuição ou ausência da seleção genética. Feitos os cálculos concluíram que o quociente de inteligência diminuiu 14 pontos em média, o que pode transformar um “normal” num “débil mental”. Mas a par deste estudo, existem outros que apontam o oposto. Desde os anos trinta do século XX o quociente de inteligência tem vindo a aumentar, aumento esse explicado pelo “efeito Flynn”, em que entram em jogo vários fatores, melhor educação, melhor higiene, diminuição da endogamia e melhor nutrição, ou seja, graças aos fatores ambientais. Afinal como podemos interpretar esta aparente contradição, está a aumentar ou está a diminuir? A diminuição da inteligência joga neste estudo com os fatores genéticos, intrínsecos, enquanto o aumento tem a ver com aspetos ambientais. Dizem os autores que estes últimos podem mascarar a diminuição genética da inteligência, pelo que se poderá concluir que o fenómeno seria muito mais grave.
Não vou ligar muito ao estudo. De qualquer modo, não deixa de provocar algumas reações. A mais contundente tem a ver com as mulheres mais inteligentes terem menos filhos e as “menos” terem mais. Se isto tem impacto no fenómeno em causa terá de ser muito bem estudado no futuro. Mas por que carga de água as mulheres “mais inteligentes” têm menos filhos? Presumo que a carreira académica está em primeiro lugar, depois dão prioridade à carreira profissional e quando se “lembram” de terem filhos já estão um pouco “velhotas”, não conseguindo engravidar ou ficando apenas por um. Quem sabe se a “superior inteligência” não as leva, também, a não terem filhos face à crueldade do mundo com todas as suas vicissitudes e incongruências, poupando-os ao sofrimento? Não esquecer que existem correntes femininas por essa Europa que defendem não ter filhos, o que contraria uma das mais poderosas forças da nossa espécie, o instinto da maternidade. Por este andar ainda acabo por acreditar que estamos mesmo a ficar mais “burros”...
O homem económico deixou de estar sujeito às leis da natureza. A vantagem competitiva que encontrou no instinto de trocar trabalho trouxe-o ao ponto de já não haver quase limitação nenhuma no planeta que habita, só na sua própria biologia e, mesmo esta, parece estar a prazo. Hoje o seu trabalho mais valioso só depende exclusivamente da sua disponibilidade e capacidade para o fazer, não de recursos naturais. Os filhos mais disponíveis e mais capazes não são aqueles que antes matavam o leão, mas aqueles que conseguem absorver mais conhecimento e produzir mais para dentro de um mundo virtual onde não existem ameaças biológicas.
ResponderEliminarParece-me claro que a definição de inteligência vai ter que ser resolvida de outra forma e, mesmo a redução do número de filhos, parece não ser a ameaça à existência dos pais que seria.
Até ao ponto em que voltar a ser... :)
Tonibler
ResponderEliminarTrês apontamentos.
1. Ainda não deixámos se estar sujeitos às leis da natureza, e nunca iremos escapar, a não ser num contexto de transhumanismo total em que a consciência humana "opte" por habitar máquinas e mais máquinas.
2. "Os filhos mais disponíveis e mais capazes deixam de ser aqueles que matavam leões". Sm, deixam de matar leões, mas a astúcia, o engano, o desejo de vencer e dominar e a agressividade intrínseca, essas nunca mudarão, vão continuar, manifestando-se em qualquer mundo, real, virtual, solar ou extra-solar.
3. Pode-se mudar o conceito se inteligência, mas a burrice vai continuar.
Quanto ao ponto 3., nada a acrescentar...
ResponderEliminarEvidentemente, o cérebro do Homem, tornou-se ao longo dos miléniosmelhor equipado. Entretanto, podemos perguntar, diante de tantas forças de destruição, neste início de milénio, se o mesmo cérebro se tornará suficientemente complexo e suficientemente capaz de reflexão, no sentido "noosférico", por forma a iluminar a rota que o conduza à sustentabilidade no futuro.
ResponderEliminarPara que a Humanidade, no próximo milénio, evite auto-destruir-se; para que a Noogênese continue a progredir num rumo evolutivo, teremos que esperar por uma nova complexificação ou orientação no Espírito do Homem . "O Homem" eixo e alavanca da Evolução" irá tornar-se mais compreensivo em relação a seu próximo e mais aberto espiritualmente, relativamente à fonte de sua Criação? Ele irá empregar todos os enormes recursos materiais e técnico-sociais do planeta, para criar maiores vínculos económicos, sociais e espirituais, em vez de se permitir que as forças da capitalização ditem a sua desintegração?
"As civilizações tecnológicas tendem a se auto-destruírem". Um paradoxo decorrente do sucesso evolutivo, logo, à partida, o futuro está traçado. Até o "Criador" já se deve ter apercebido disso. Deve ser um alívio...
ResponderEliminarEsta perspetiva também pode ser vista, segundo alguns autores, em termos de termodinâmica. A vida é um sistema organizado que "luta" contra a tendência para a desordem
"As civilizações tecnológicas tendem a se auto-destruírem". Tendem? Já reparam como a economia se está a transformar para algo com um diminuto consumo de recursos naturais?
ResponderEliminarE é só a economia? Se formos por aí, eu que não entendo grande coisa, só sei que o mundo entregue aos economistas é um perigo, então a destruição é mais do que garantida. Mas há outras áreas que prometem dar cabo da nossa espécie. É uma questão de tempo...
ResponderEliminarEconomia, troca de trabalho. Daquela que permite alguém concentrar-se em salvar as vidas daqueles que matam os animais que lhe servem de alimento. Os economistas não percebem nada de economia :)
ResponderEliminarSim, o planeta tem o bug do ano 55 milhões, até lá já fomos todos. Mas já estivemos muito mais próximo de destruir tudo e mostrámos que conseguimos não ir por aí. Mais que um sistema termodinâmico, a humanidade é um sistema crítico. Bate, bate, mas não quebra.
Que grande otimista me saiu pela proa! Bom, vou trabalhar para a minha "economia" e a dos outros. Não é que me apeteça, mas tem que ser, e logo hoje que me apetecia tombar numa doce "entropia" para esquecer a semana...
ResponderEliminarÉ a vida! Como dizia o o outro.
"Hoje o seu trabalho mais valioso só depende exclusivamente da sua disponibilidade e capacidade para o fazer, NÃO de recursos naturais".
ResponderEliminarOra bem, depende e muito, da energia disponivel sob uma forma utilizável, que tem vindo a descer por cabeça. Enquanto as restrições estiverem só no preço (ou quantidade da barata), só o crescimento económico é afectado, e não "o trabalho mais valioso", mas quando afectarem directamente a quantidade, "o trabalho mais valioso" actual vai em grande parte para o lixo.
As deslocações vão acabar, a necessidade de concentração geográfica também, as causas do consumo massivo de energia vão sendo reduzidas.
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