1. Contrariando as expectativas da véspera, que aqui deixei expressas em último Post, o FED confirmou, ao final da última 4ª Feira, que no segundo semestre do corrente ano – e salva indicação em contrário do comportamento da economia americana, em especial da taxa de desemprego – começará a reduzir o programa de compras de dívida pública e privada que tem vindo a manter com o objectivo de estimular a actividade económica e, em especial, de fazer baixar o nível de desemprego até um valor próximo de 6,5% e que tem ajudado a manter muito baixas as taxas de juro de dívidas no País e noutros mercados..
2. Tanto bastou para que os mercados financeiros reagissem de forma bastante negativa, tendo-se ontem assistido a perdas acentuadas nos mercados de acções, nomeadamente na Europa, bem como a uma forte subida das yields da dívida pública que nos dias anteriores tinham vindo a corrigir em baixa.
3. No caso da dívida pública portuguesa, convém recordar que até 22 de Maio as yields das obrigações a 10 anos tinham baixado para um valor próximo de 5,2% (mais baixo desde há quase 3 anos); subiram até meados da semana passada para próximo de 6,7%; baixaram de seguida para cerca de 6% (última 4ª Feira); e, depois do anúncio do FED, voltaram ontem e hoje a subir fixando-se agora em torno de 6,5%. Um carrocel estonteante!
4. Admito que seja prematuro tirar conclusões firmes - os mercados já nos habituaram a “swings” que por vezes nos deixam tontos (salvo os Crescimentistas, sempre firmes nas sua convicções oníricas sobre as prioridades do crescimento e do emprego) – mas a situação está longe de ser satisfatória: tenho a noção de que nos encontramos a balouçar na corda bamba, estamos cada vez mais dependentes da boa vontade dos credores oficiais e da fortuna dos mercados.
5. Vem a propósito citar uma interessante notícia divulgada na edição de ontem do F. Times - acompanhada da imagem de um invulgar e belo mural, em Lisboa, onde se vê uma jovem rezando, de mãos erguidas e muito concentrada, e em letras enormes os seguintes dizeres “Pray for Portugal” - sob o título “Fears rise over Ireland and Portugal bailout exits”.
6. Essa notícia aborda a recente subida das taxas de juro (yields) das dívidas públicas irlandesa e portuguesa, que pode colocar entraves ao objectivo de regresso ao mercado de dívida que se espera acompanhe o termo dos programas de ajustamento.
7. A situação da dívida portuguesa é mais complexa, uma vez que a subsistirem yields de 6,5% (nos 10 anos) o regresso aos mercados, em condições de quase normalidade e sem alguma assistência da UE ou do BCE, será quase impossível.
8. O caso da Irlanda é diferente: não obstante esta subida mais recente, as yields para o mesmo prazo andam por 4%, caso se não afastem deste padrão o regresso aos mercados não será objectivo impossível.
9. Estamos pois em apuros, mas no campo doméstico tudo parece correr “tranquilamente”, em jeito de TITANIC: (i) greves e mais greves, quase sempre ditadas por motivos políticos primários, (ii) mesas redondas a discutir a saída do Euro (que fantasia, meu Deus!), (iii) comentadores encartados/sofá perorando a toda a hora sobre azares do Governo, (iv) heróicos movimentos contra a Troika e o encerramento da TV Helénica, (V) “media” na sua generosa maioria entregues a desvario insanável...o que fazer?!
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarRecomendo a leitura atenta do artigo no link:
http://quartarepublica.blogspot.pt/2013/05/crescimentistas-final-de-semana-com.html
Particularmente o ponto 4.
Metê-los no manicómio. Rapidamente e em força!...
ResponderEliminarO estado português morreu, a notícia é que ainda não chegou à flora intestinal e as bactérias continuam a fazer a festa sozinhas e a consumir o que resta do cadáver. Assim, a coisa cada vez vai cheirar pior até que seque...
ResponderEliminarNão seria boa ocasião para Mário Draghi "falar grosso" anunciando disponibilidade do BCE para compensar a "retirada" da FED dos mercados da dívida pública?
ResponderEliminarPor outro lado; a retirada da FED previne a inflação face à previsão de crescimento da ordem dos 3%, para 2014 pela própria FED, corroborada, embora em baixa, pelo FMI. Assim sendo; parece tratar-se de um bom sinal, que arrastará, no médio prazo o crescimento europeu.
Não é saudável para a economia mundial a retirada, controlada, dos bancos centrais que nos últimos anos têm injetado somas astronómicas na economia (a tal heroina financeira)?
Acho que sim; pode ser o anúncio dos ventos primaveris de Kondratief.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarNão haveria manicómios que chegassem! Ficariam sobrelotados, seria necessário investir rapidamente em novas unidades...e haveria fundos para isso?
Caro Tonibler,
Tal como coloca o problema, trata-se então de assunto da especialidade do Doutor Pinto da Costa (mano do ultra-famoso Jorge Nuno), não lhe parece?
Caro António Barreto,
Várias hipóteses são possíveis, neste momento, face ao anúncio da retirada (suave, apesar de tudo) do QE.3 a partir do Outono...
inclusivamente a de o próprio FED ainda ter de voltar com a palavra atrás caso o impacto deste anúncio nos mercados financeiros volte a ameaçar a recuperação económica, ainda frágil nalguns aspectos, que a economia americana evidencia...
Quanto ao BCE nesta altura pouco poderá fazer para além do que já faz (muito mais do que os paranoicos do Crescimento sugerem ou pretendem); poderá, sem embargo, de intervir mais ousadamente caso a situação europeia se complique novamente, a partir da Grécia ou de outro foco infeccioso...
A fixação no crescimento económico não é diferente da confiança dos "investidores" nos juros da Dona Branca, nos anos 80...
ResponderEliminarÉ um dos maiores erros da actualidade.
Os paises desenvolvidos estão a chegar ao ponto de rotura que todos os esquemas ponzzi atingem.
As medidas monetárias e os mercados financiadores não resolvem (neste ambiente económico globalizado) qualquer problema estrutural. Apenas adiam as questões e dão algum tempo (com custos acrescidos para a geração seguinte).
Entretanto a economia (nos países desenvolvidos) cai, o desemprego cresce e a democracia e o sistema eleitoral inviabiliza programas de austeridade necessários.
Nota: a auteridade é necessária, mas não a austeridade cega...
http://notaslivres.blogspot.pt/2013/06/mas-porque-nao-se-corta-caminho.html
Caro Gonçalo,
ResponderEliminarOs mercados monetários e financeiros nunca são perfeitos, mas, pelo menos, quando operam em concorrência, desempenham um papel insubstituível na detecção e punição dos erros de política económica que os cidadãos, influenciados pela propaganda política, não têm condições para escrutinar.
E esse papel é de suma importância.
Por isso é que quando vejo ou ouço, em Portugal e noutras latitudes/longitudes, certos políticos dirigirem duras críticas aos mercados, percebo muito bem porque o fazem...
Não sei, caro Tavares Moreira, se é tema para o Prof Pinto da Costa ou para alguém mais embrenhado na biologia fundamental. Que o papel destas bactérias tem sido a intensa produção de matéria fecal parece-me óbvio. Mas têm uma perspectiva diferente dos outros. Como se passeiam pelo âmago do cadáver continuam a fazer bosta sem perceber que a comida parou de chegar ao intestino... Agora, a causa da morte não me parece um grande mistério para que seja necessário recorrer aos serviços do professor.
ResponderEliminarDivergindo (respeitosamente, é claro) da sua douta opinião, a mim parece-me que para o esclarecimento desses mistérios da medicina dita legal, quando o paciente-incurável é o Estado Todo Gastador, nem o Prof. PdaC será suficiente...
ResponderEliminarAqui, ao contrário da comum fatalidade, a causa da morte continua ferozmente actuante, como bem reconhece, depois de verificado o óbito...não largam o cadáver, por nada deste Mundo...