terça-feira, 23 de julho de 2013

"Beleza"...


Desde sempre que o homem procura a forma de perpetuar a beleza e atrasar o envelhecimento. Procurou e continua a procurar. Nesta ânsia de travar o processo de envelhecimento faz tudo o que pensa e o que nunca pensou. Presumo que não deve haver área onde a loucura atinge toda a plenitude. Poderia invocar fórmulas, dietas, rezas e muitas outras coisas sempre com o objetivo de travar a passagem do tempo. As células reconhecem como ninguém a sua finitude e acabam por sofrer as consequências. Mas o que interessa não é o que acontece às células e tecidos escondidos, o que pretendem é limpar o que ocorre à superfície da pele, escondendo a podridão ou a degradação mais profunda. Convencem-se de que se travarem o envelhecimento à superfície o problema está resolvido. No fundo traduz a primazia da superficialidade e das aparências, não muito diferente do que acontece com a vida social, académica, profissional e política. O que parece é! Claro que não é. 
Lembrei-me de escrevinhar este texto por ler lido uma nova forma de combater o envelhecimento e manter a beleza da pele. Como? Através de caracóis que se passeiam pelo corpo eliminando os seus mucos ricos em substâncias dotadas de propriedade antienvelhecimento. Uma delícia fabricada no Japão. Mas não são caracóis quaisquer. São caracóis alimentados com produtos orgânicos, entre os quais cenouras e acelgas suíças, entre outros. Claro que este aspeto deve ser para evitar a sua replicação noutros pontos do globo. Não tarda e vamos ter clínicas de caracóis. 
Esta prática vai somar-se a inúmeras outras que, de memória, passo a citar, banhos de vinho, de leite de burra, de chocolate, de morangos, extratos de placenta, sabão de leite de mulher, creme de caracol, esperma de touro (!), pele de prepúcio dos bebés, chispes de porco (não aconselhados a judeus e muçulmanos), picadas de abelhas e até um chá de um cogumelo, "cogumelo do tempo", que o louro artificial publicita na televisão. Enfim, não há falta de ideias para tentar travar o processo de envelhecimento. Entre os diversos produtos destacam-se os famosos polifenóis e os produtos ricos em colagénio e ácido hialurónico que ocorrem em muitas substâncias. As consequências são previsíveis, o tempo ri-se destas tentativas meio absurdas que pretendem retardar o que quer que seja. Nada para o tempo. Nem mesmo o uso de caracóis a passearem pelo corpo, deixando atrás de si toda aquela ranheta, que através de massagens irá penetrar na pele de muitas dondocas, vai conseguir parar o relógio da vida.
Tenho dúvidas se este processo irá ter sucesso em Portugal. Não porque não haja interessadas, mas porque os portugueses preferem comer os caracóis e caracoletas acompanhadas de cerveja fresquinha. No fundo, não deixam de fazer a terapêutica antienvelhecimento, mas fazem-no internamente. É mais saudável e dá prazer. Mas também estou convencido de que não irão ter grande sucesso porque não há caracóis suficientes em Portugal como tive oportunidade de ouvir aquando de um festival nacional para as bandas de Loures. Tiveram de importar caracóis de Marrocos! Ora, eu não acredito que os caracóis de lá sejam alimentados com produtos biológicos ou que tenham propriedades virtuosas, logo, o melhor é comê-los, caso gostem, claro!
Anda tudo maluco. O melhor é montar os candidatos a eternos jovens em fotões e mandá-los para o universo à velocidade da luz. Assim, talvez se mantivessem jovens e deixavam de chatear os caracóis, e não só...

2 comentários:

  1. "No fundo, não deixam de fazer a terapêutica antienvelhecimento, mas fazem-no internamente."

    Leio esta sua afirmação, e ocorre-me uma cena antiga que, se não deve nada à beleza, conduz à mesma conclusão.

    Passou-se há muitos anos, tantos que lhe perdi a conta, num tempo e num lugar onde a jorna dos trabalhadores da terra era paga em dinheiro, quase nada, e vinho, muito, geralmente dois litros por cabeça.

    Com tal retribuição o alcoolismo era um flagelo que não apoquentava ninguém, até porque, fez-se saber que "beber vinho dá de comer a um milhão de portugueses".

    Ave não era o seu nome mas ninguém a conhecia por outro. Alta e esgalgada, curvava-se ligeiramente para a frente, avançando ainda mais um nariz que parecia um bico, permanentemente avermelhado. Bebia
    o que lhe competia, e nunca negava o que lhe oferecessem a mais.

    Um dia, cortava-se o milho, a Ave puxou a foice com mais gana do que estava obrigada e cortou uma perna. Álcool! Álcool! gritou ela, e logo apareceu um pequeno garrafão de aguardente.

    Mal o álcool lhe chegou à mão, a Ave deitou o garrafão à boca, emborcou um golão, e disse Ah!

    Oh Ave! Devias ter posto a aguardente na ferida ...

    Hum! Respondeu a Ave. Lá chegará.

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