domingo, 14 de julho de 2013

"Chatos"...



Desde há algum tempo que me confronto com peitos de homens rapados. Habitualmente são novos, mas já vi alguns mais velhos. Nunca perguntei as razões, não tenho esse direito e não me serve para nada. O que eu sei é que começa a nascer uma nova cultura que é retirar os pelos do corpo. Vejo pela televisão e por algumas entrevistas que ter pelos no corpo, no peito e abdómen, caso dos homens, não é compatível com os fins a que se dedicam, habitualmente são manequins, atletas, atores, ou seja, de um modo habitual os que têm necessidade de mostrar a "peitaça". Alguns dos fervorosos adeptos da depilação argumentam que é melhor e mais higiénico. Mais higiénico? Onde é que foram buscar aquela ideia? Ter pelos é, para esse pessoal, sinal de algo "sujo" e inestético no contexto atual, mas ser higiénico isso não. Claro que há quem tenha pelos como se fossem "macacos". Talvez seja por isso que não queiram ser comparados com tão simpáticos animais. Há quem afirme que é mais um sinal de metrossexualidade. Enfim, não digo nada, mas digo agora, é feio ver aqueles pelos cortados a quererem nascer. São pelos diferentes que ao crescerem parecem mais restolhos de um campo de milho ceifado, e dificilmente ficarão como eram antes. Cada um faz o que lhe vai na tola.
Nas mulheres depilar vem de longe, retiram os tufos das axilas, retiram os pelos do buço, retiram os pelos das pernas e por aí fora, a ponto de qualquer dia não haver nenhum cabelito a ornamentar o corpo. Os pelos púbicos também estão a ir à vida. Estes pelos têm funções especificas, "fonte" de feromonas, evitam a abrasão, podem ter um papel na prevenção de infeções, mas também podem ser vítimas de inquilinos indesejáveis, os primos direitos dos piolhos (Phthirus pubis), mais vulgarmente conhecidos por "chatos" que, quando se instalam, provocam incómodos nada agradáveis. Parece que estes animais estão em vias "extinção". Segundo um trabalho científico realizado por colegas dermatologistas, a ausência de pelos púbicos é o fator determinante. Claro! O que eu desconhecia era que a série "O sexo e a cidade" podia ter a ver alguma coisa com o assunto. A forma de encarar a sexualidade e de mostrar o corpo sem pelos, sobretudo as tais regiões, anteriormente consideradas púbicas, mas que agora passaram a ser "públicas", devido ao uso de roupas mínimas, caso das calcinhas tipo fio dental, provocou esta onda de depilação coletiva que, só nos Estados Unidos, alimenta uma indústria monumental, faturando mais de dois mil milhões de dólares ao ano. 
Aqui está mais um exemplo dos riscos que as espécies correm neste planeta. Muitas já desapareceram, e outras estão a desaparecer, graças aos efeitos das atividades humanas. A acrescentar a estas poderíamos acrescentar que os "chatos" vão por esse caminho. Que chatice! Não tarda e vai nascer uma nova corrente "filosófica" a defender os "pelos" e a combater a depilação progressiva, que anda por aí alimentada por fortes interesses económicos - o negócio de depilação é uma realidade inquestionável -, baseada em questões estéticas e higiénicas. Ainda vamos assistir a interessantes debates e manifestações, os que estão a favor da depilação, os "depilantes", e os defensores dos pelos, os "piloecologistas". 

2 comentários:

  1. A propósito desses "inquilinos" indesejados e de uma conversa noturna recente, aqui deposito solenemente, algumas quadras da autoria do vate setubalense, conhecido pelo nome de Bocage.
    Extraído de uma publicação de 1878.
    O poema refere-se a um preto de nome Ribeiro, que habitava em Troia e que possuía fama entre as rameiras, devido ao descomunal tamanho do seu "argumento":
    Canto Único

    Em Troia, de Setúbal bairro inculto,
    Mora o preto castiço, de quem falo;
    Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto,
    Que excede o longo espeto de um cavalo:
    Sem querer nos calções estar oculto,
    Quando se entesa o túmido badalo,
    Ora arranca os botões com fúria rija,
    Ora arromba as paredes quando mija.

    Adorna hirsuto ríspido pentelho
    Os ardentes colhões do bom Ribeiro
    Que são duas maçãs de escaravelho,
    Não digo na grandeza, mas no cheiro:
    Ali piolhos ladros tão vermelho
    Fazem com dente agudo o pau leiteiro,
    Que o cata muita vez; mas ao tocar-lhe
    Logo o membro nas mãos entra a pular-lhe.

    Os maiores marsapos do universo
    À vista deste para traz ficaram:
    E do novo Martinho em prosa e verso
    Mil poetas a porra decantaram:
    Quando ainda o cachorro era de berço
    Umas moças por graça lhe pegaram
    Na pica já taluda, e de repente
    Pelas mãos lhes correu a grossa enchente.

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    1. Cuidado Bartolomeu! Cuidado! Olhe a censura, olhe a censura...

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