terça-feira, 16 de julho de 2013

Mais um Elefante Branco!...

1. Por momentos não quis acreditar no que vi ontem em reportagens de TV: a inauguração de mais um grande Centro Cultural, desta vez em Viana do Castelo, com a assinatura do consagrado arquitecto Souto Moura, um custo (inicial, claro) de algumas dezenas de milhões de Euros (a que por graça continua a chamar-se Investimento)!
2. O edifício lá está na sua imponência, com linhas arquitectónicas desafiantes da nossa imaginação, materiais de primeiríssima escolha, uma beleza para encher os olhos dos Vianenses e não só...
3. Paradoxalmente, os mesmos media que noticiaram esta memorável inauguração, tinham divulgado, poucos dias antes, a situação aflitiva com que diversos hospitais se debatiam pela falta de instalações de ar condicionado, vendo-se forçados a utilizar métodos de recurso, alguns muito primários mesmo (despir os doentes, por exemplo), para que os seus doentes pudessem aguentar a vaga de calor que se fez sentir...
4. Mas o novo Centro Cultural lá está, preparado para gerar défices de exploração por tempo indeterminado, que a nossa infinita generosidade e paciência de contribuintes fiscais, de sujeitos passivos de imposto, permitirá que sejam mantidos para glória desta amada Pátria Lusitana...
5. Mais um Elefante Branco, em suma, a juntar a centenas ou milhares de outros que enchem o País de norte a sul e que explicam, em boa parte, a situação financeira aflitiva a que chegamos mas que ninguém - pelo menos daqueles que mais se fazem ouvir nos “media” escritos ou falados - ousa denunciar com receio de serem apelidados de inimigos da boa cultura...
6. Este novo Elefante Branco tem pelo menos uma vantagem: para aqueles que ainda possam iludir-se quanto ao comportamento da esmagadora maioria da classe política central, regional e autárquica, cuidando que esta crise lhe serviu de lição e que para o futuro vão mudar de atitude e ser mais criteriosos na utilização dos recursos públicos, este episódio vem aconselhar que não se iludam...

19 comentários:

  1. É para exportação!
    Só está à espera que o cacilheiro da Joana Vasconcelos regresse da exposição para ser embarcado, rumo à Grande Selvagem, onde irá ser utilizado como Observatório das Cagarras e dos leões marinhos...

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  2. Anónimo12:10

    Caro Tavares Moreira, não exclua da sua análise a defesa que as populações sempre fazem dessas coisas mal alguém lhes acena com elas. As populações ao verem um gasto de dinheiro no seu sitio, não importa quão absurdo seja, apoiam logo sem se importar com mais nada. Não param para perguntar se é necessário, se há dinheiro para pagar, quem vai cobrir a exploração, nada disso. Apoiam porque sim. Aliás, tenho-me apercebido ao longo dos anos que as pessoas querem gastos na sua terra. Para quê? Não importa. Querem é que se gaste lá dinheiro. Quem paga? Pouco importante. Daqui que sim, as entidades publicas que referiu são responsaveis, claro que sim. Mas só o fazem porque sabem que têm o apoio da população para o fazer e que esse apoio traduz-se em votos. Daqui que eu não desculparia tão rapidamente os eleitores nestas coisas.

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  3. Não sei quem foi o responsável, mas dirá a história que, apesar de tudo, deixou obra!

    É mais uma demonstração de que a fiscalidade está a um nível demasiado elevado do estado (em termos de agregação, porque como todos sabemos o topo do estado poder ser tudo menos elevado...). No dia em que as pessoas ficarem sem água porque construiram um palácio ou lhes forem pedir mais 10 euros para o palácio, estas coisas não só se fazem com juízo, como se fazem com limpeza. O que nos traria à discussão "para que serve hoje a república portuguesa?", seria acusado de estar num PREC permanente, etc...

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  4. Caro Bartolomeu,

    Muito bem pensado! Mais um centro cultural, expectativa de mais exportações, certamente, sobretudo a partir do momento em que a falta de senso passar a ser um bem (imaterial) transaccionável internacionalmente!

    Caro Zuricher,

    Aquilo que diz e de que não discordo, sugere que obras destas - ou pelo menos a sua futura manutenção - deveriam ser financiadas com base exclusivamente em impostos locais...

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  5. Dr Tavares Moreia, este tema é um daqueles, não só por concordar, ao longo dos anos me tem criado o dito “nervoso miudinho”, desde edificações do género, a sedes de juntas que para nada servem, a pavilhões e piscinas ao “médio” abandono, a centros de saúde e extensões com equipamentos que nunca se usaram, a estradas e arruamentos, que na grande maioria é o desmancha e remenda, a pontes arquitectónicas sobre riachos e ribeiros, etc, etc. tem sido um festival. Mas o mais ridículo dos ridículos, é que tudo continua na mesma, é vê-los aí com as obras a todo o gás, ou porque se está no fim e se quer ainda deixar mais obra e, quem vier atrás que feche a porta ou porque se está a recandidatar e precisa de uns votos. Só no conselho onde resido andam em obras, entre remodelações e novas, uma, duas, … cinco, seis, .. nem sei a conta. Mas ainda o mais ridículo o povo quer isto, mesmo que nunca lá ponha os “penantes”. Tal como as reclassificações de lugarejos a cidades, é vê-los todos contentes, agora são da cidade. Quanto é que tudo isto custa a cada um de nós? Isso interessa lá para alguma coisa! Temos sido “encarneirados” ao longo destes 30 anos para este objectivo.Cada vez me sinto mais uma "ovelha tresmalhada"

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  6. Anónimo13:10

    Caro Tavares Moreira, não tenho nada contra o financiamento destes trambolhos com impostos locais. Mas, repare, não é só ao nivel local que têm sido feitos estes esbanjamentos... Ao nivel nacional também.

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  7. Caro Zuricher, mesmo que pago através de impostos locais ou... ainda que pagos através desses impostos, na actual crise que o país atravessa, a adjudicação de obras como esta, deveriam ser consideradas de lesa-patria. A despesa que representa, é um atentado tão ou mais grave à dignidade do povo português - já tão sobrecarregado de impostos e "aliviado" de benefícios sociais - que o caso do jornalista Miguel Sousa Tavares quando insinuou chamar palhaço ao Presidente da República.

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  8. Caro Tonibler,

    A avaliar pela persistência destas decisões de "investimento" tão elevadas, eu sou levado a concluir, ao contrário do que me parece ser sua douta opinião, que o nível de fiscalidade é ainda muito baixo...
    Admito que seja necessário chegar ao ponto em que todo o rendimento, do trabalho ou do capital (já muito escasso), seja retirado para impostos...para que esta gente comece a perceber que algo não vai assim muito bem...
    E para que a discussão em torno da prioridade a atribuir a estas despesas na manutenção de Elefantes comoeste versus satisfação das necessidades básicas dos cidadãos comece a ganhar algum interesse...

    Caro Carlos C,

    Existe de facto uma perversão no funcionamento deste sistema de gestão dos recursos colectivos, que leva a que decisões absolutamente imbecis e nocivas a longo prazo, como no caso sub-judice, sejam consideradas decisões dignas do maior apreço...
    E não são só os cidadãos mais simples, residentes na mesma área em que estas dispendiosas caranguejolas são instaladas, que padecem do víciod e análise e de comportamento cívico de que o Senhor se queixa...
    Veja, por exemplo, se fora deste espaço do 4R aparece alguém a criticar estas decisões...é o politicamente correcto, na sua expressão mais sublime e idiota!

    Caro Zuricher,

    Estes "investimentos" localizam-se sempre nalgum concelho, seja Lisboa, Porto, Viana do Castelo, etc...
    Portanto a solução de financiar com impostos locias é sempre possível...
    Por exemplo, o encantador e tão ansiado "building" do novo Museu dos Coches está implantado em território lisboeta...

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  9. Dr. Tavares Moreira
    Não temos emenda!
    E a inauguração como convém em ano de eleições autárquicas, a poucos meses do voto, ainda mais conveniente.

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  10. Caro Tavares Moreira,

    O nível de fiscalidade é excelente ao nível local. Afinal, só os ladrões de Lisboa é que cobram e quanto mais o nosso presidente da câmara roubar aos de Lisboa melhor. Pelo menos deixa obra feita....

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  11. Anónimo18:21

    Caro Tavares Moreira, permito-me rebater com as infraestructuras de transporte que atravessam vários concelhos e regiões sendo da responsabilidade do Estado central.

    Para além das estafadas AE de que já se tem falado à exaustão dou um exemplo, este menos conhecido, de caminhos de ferro, que constituiu um dos maiores exemplos de "deitar dinheiro à rua" na ferrovia Portuguesa, a electrificação da linha da Beira Baixa de Mouriscas-A (até aqui sim senhor por causa da Central do Pego e dos comboios que lá chegam com carvão) à Covilhã, uma brincadeira de sensivelmente 80 milhões de euros sem qualquer utilidade e cuja manutenção aí está para ser paga. Fora, claro, o custo de primeiro estabelecimento que nunca em dias da vida será amortizado. É uma obra que teve todos os amens das populações.

    Uma outra, esta por fim não se fez porque se acabou o dinheiro, o Metro do Mondego, que abarca vários municipios, foi reivindicada e louvadissima pelas populações e é das maiores monstruosidades técnicas que já vi em dias da minha vida. Estava orçada a brincadeira em 400 e qqrcoisa milhões de € quando o assunto se resolveria com cerca de 80-90 milhões de € como muito, vá, 100 milhões contando com alguma largueza de vistas.

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  12. Mas caro Zuricher, essa do metro do mondego(qual metro qual carapuça, comboio"zito")para meia duzia de gatos pingados, mas andavam uns autarcas e ex, de tal maneira em polvorosa que até excursões organizavam. Era vê-los nas suas exigências. Vá lá que hoje estão calados. Mas, como sempre lá gastaram uns mnilhões paramovimentação de terras, umas paredes, e para que serve?Seria mais um exemplo da célebre ponte que atravessa o mondego, 2 pilarecos e um tabuleiro e estava o assunto resolvido. Não tinha de ser uma obra "arquitetada" para uns milhões a mais.

    Claro que nas AE nem vale a pena falar. Pronto: estão feitas e se não houver dinheiro para reparações pode ser que, sirvam para algo depois de retirar o alcatrão. Agora continuar com os mesmos erros e os mesmos gastos como atualmente se vê por este país, é que acho que é desafora a mais.

    Há já agora proponho que algumas dessas obras, sejam vendidas, nem que seja por 1 € a quem as queira. pelo menos lucra-se nas despesas anuais, submarinos e tudo, dados, dados é bom negócio.

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  13. Anónimo20:25

    Caro Carlos C, e olhe que as condições existentes em Coimbra e região envolvente, não apenas para o lado da Lousã, permitiriam ter criado um sistema de transportes regional ao nivel do que de melhor se faz no mundo e com todo o potencial para se tornar num projecto de referencia. Havia condições que normalmente não se encontram todas tão bem conjugadas, incluindo a quase inexistencia de constrangimentos precedentes, sendo que o pouco que havia de base é precisamente um dos factores que permitia algo tão bom e a um custo muito simpático. E ainda assim, repito, o que se tentou fazer é das maiores monstruosidades que já vi e teve os apoios das populações que se congregaram em torno de tal insanidade.

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  14. Pelo menos este centro cultural, ao contrário dos hospitais, tem um ar-condicionado de última geração.

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  15. Anónimo21:07

    E haverá dinheiro para pagar a conta da electricidade necessaria para os tais ares condicionados?

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  16. Hmmmm... não vai com certeza haver dinheiro para isso ou sequer para manter os hospitais públicos em funcionamento, caro Zuricher.
    Estima-se que em 2050, a população idosa seja 60% da população total. Logo, a população activa não será suficientemente produtiva para criar um Pib capaz de fazer face às despesas de funcionamento seja de que serviço for.
    Eu perguntaria ao nosso Presidente da República, uma vez que já manifestou a sua grande preocupação com o decréscimo cada ano mais acentuado da taxa de natalidade, se a principal prioridade de que governa, neste momento, é antecipar o que será o pós-Troica, ou que medidas urgentes é necessário tomar, hoje, para que os idosos de 2050, gozem da proteção mínima.
    Em 2050, a maioria de nós que aqui postam e comentam, não existirá. Mas os nossos filhos, serão os idosos que pesarão nos orçamentos do estado, se o mesmo ainda existir.

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  17. Caro Zuricher,

    Quando se trate de infraestruturas que "beneficiem" mais que um concelho, deveriam ser os respectivos residentes a contribuir, na proporção do troço de infraestrutura implantado no respectivo concelho ou, se quiser, em função da imputação do montante dispendido na área desse concelho segundo critérios objectivos.
    Pode crer que esta medida, cuja equidade/proporcionalidade não poderia ser contrariada pelo TC, seria a única forma de racionalizar estes incontroláveis desvarios.

    Caro Nuno,

    E, em caso de emergência como aconteceu com a recente vaga de calor, será possível instalar os doentes que necessitem neste centro cultural? Nem que seja só nos dias de temperatura máxima superior a 35 graus?

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  18. Já vai tarde, mas está visto.
    Talvez o último elefante branco do regime da 3ª República.
    Depois do primeiro:
    De 30 milhões no projecto,
    para 200.
    El CCB.
    Habitualmente razoavelmente vazio, um restaurante fino, para meia dezena de gatos pingados; dois bares restaurantes assim assim.
    Somos, a saber, fomos assim.
    O anterior 'permanente' do regime, Mega Ferreira na direcção, tinha por objectivo: construir um edifício em falta no projecto do CCB.
    Um CCB à altura dos antigos navegadores.

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  19. Uma bela síntese, caro BMonteiro!

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