1. Os dados mais recentes quanto ao desempenho da economia portuguesa confirmam, com crescente evidência, o que aqui referimos por mais de uma vez: estamos a testemunhar uma verdadeira revolução económica, que se traduz numa total inversão do desequilíbrio de contas com o exterior em que o País viveu durante mais de 15 anos e que nos endividaram até ao limite das forças...
2. A informação da última edição do Boletim Estatístico do BdeP, divulgado na semana passada, referente ao período até Maio, é muito elucidativa a este respeito, como se depreende pela evolução das principais rubricas da Balança de Pagamentos com o exterior:
– Saldo das Balanças de Bens + Serviços = + € 875 milhões
- Saldo das Balanças Corrente + Capital = + € 1.437 milhões
3. Em função do padrão habitual intra-anual, estes excedentes deverão aumentar significativamente nos próximos meses, tendo o BdeP, no Boletim Económico de Verão, divulgado também na pretérita semana, apresentado projecções de superavits para o conjunto do ano em curso que atingem 3% e 4,5% do PIB para as Balanças de Bens+ Serviços e para as Balanças Corrente+Capital, respectivamente, aumentando para 4,9% e 6% do PIB em 2014.
4. Ao mesmo tempo, existem informações que parecem confirmar que a economia terá abandonado tecnicamente o “mood” recessão já no 2º trimestre do corrente ano, esperando-se que o PIB venha a apresentar uma variação positiva, em relação ao trimestre anterior, após 10 trimestres SUCESSIVOS de declínio...
5. E, certamente baseado nessas mesmas informações, o BdeP, no referido Boletim Económico, apresentou um cenário para o comportamento do PIB no corrente ano que, sendo ainda negativo, se mostra no entanto menos negativo do que o anterior - a previsão é agora de uma queda do PIB de -2%, a anterior era -2,3%, cumprindo recordar que em 2012 foi -3,2% - abrindo-se perspectivas de estabilização ou mesmo de ligeiro crescimento em 2014.
6. Ao mesmo tempo que isto acontece, pondo em evidência o enorme esforço que tem vindo a ser realizado pela economia privada, (i) que se mostrou capaz de se adaptar às dificílimas circunstâncias que a terrível inépcia dos políticos lhe criaram e culminaram na espectacular confissão de derrota do Memo de Entendimento celebrado em Maio de 2011, (ii) que “arregaçou as mangas”, (iii) que trabalhou sem descanso, sem entrar em greves, (iv) que foi capaz de se reestruturar com muito sacrifício para tantos, (iv) que passou a vender muito mais nos mercados externos do que no mercado doméstico, (vi) que foi, em suma, capaz de mudar radicalmente de vida...
7...o Estado, com os seus diferentes sectores administrativos e empresariais, continua a resistir quanto pode a mudar de vida, a reestruturar-se (ainda não se reestruturou, salvo em alguns sectores muito específicos), continua obeso e anafado, gastando o que pode e o que não pode, acumulando dívida crescente, voltando a subir a despesa com a preciosa ajuda do TC (como se vê pela informação orçamental ontem divulgada), agravando extraordinariamente a tributação sobre o sector privado para poder manter seus vícios, fazendo greves a torto e a direito para conservar vantagens que o País não pode mais sustentar...uma cigarra incorrigível, em suma! Que impressionante contraste!
Parece que a grande dúvida do Dr César das Neves está desfeita; afinal, parece que ainda somos Portugueses!
ResponderEliminarÉ conveniente caracterizar com frontalidade, o Estado que resiste às reformas!
Publico.
Boas notícias, caro Dr Tavares Moreira, apesar de tudo e das minhas reduções pensionisticas.
ResponderEliminarQuanto à resistência ás reformas, de António Barreto, culpa do governo/PM.
A generalidade dos ministros, limitaram-se em dois anos, a cumprir os cortes financeiros determinados pelo MF e a descansar.
No caso do ministro do Restelo, entretido com estudos para o futuro, algures para 2020 e de efeitos discutíveis.
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarA economia privada fez a sua parte. Os impostos aumentaram para níveis insuportáveis, em especial o IRS e o IVA, a que se juntam aos cortes de salários na administração pública e cortes nas pensões. Ficou por fazer o mais importante: a reforma do Estado. Sem esta reforma não resolveremos um problema estrutural que tanto prejuízo tem causado à economia. Com que "legitimidade" se exigem sacrifícios aos cidadãos e às empresas se o Estado não cumpre com a sua parte?
Discordo desta dicotomia público/privado, como se fossem dois mundos separados em que um corre sozinho e esforçado e o outro vive à conta a arrastar os pés. É injusto e, a meu ver, profundamente errado, mas é difícil contrariar esta forma de pôr as coisas, passa-se um atestado de atraso a sectores inteiros que se modernizaram muito antes do sector privado, que abriram mercado a muitas empresas sendo que grande parte do sector empresarial se reestruturou passando uma gorda factura ao Estado. É pena que não se possa reconhecer os méritos do sector privado sem cair na tentação de demolir a credibilidade e o brio de todo o sector público. Não havia necessidade e causa muito prejuízo, mais do que o que se possa pensar.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarÉ um simil interessante mas, infelizmente, obnubila o problema porque não percebe a questão.
Face à rápida adaptação de todos os sectores de actividade, salvo o estado, a pergunta legítima é quais são os mecanismos que impedem que, o estado, se adapte com a mesma rapidez.
( Repare que, os funcionários públicos não são uma espécie diferente nem, mesmo que tentem afirmar o contrário, vivem noutro planeta. Nem os funcinários públicos são parasitas sem qualquer consciência cívia e social).
Mecanismos rígidos de gestão, irresponsabilidade funcional, completo horror à mudança e impossibilidade legal de delegar, impedem/impediram e impedirão a adaptação do estado à novas circunstâncias.
Como as nossas "elites" são bipolares na abordagem da entidade "estado" (algo que daria para um bom trabalho de psicologia) o resultado final será sempre inconsequente, incompreensível e, naturalmente, ineficiente.
Cumprimentos
joão
Caro António Barreto,
ResponderEliminarDesconheço qual fosse a dúvida do ilustre Prof. César das Neves, mas faço fé na sua conclusão de que ainda somos portugueses!
Caro Bmonteiro,
Não se esqueça, se faz favor, que os ministros a que se trabalharam segundo um guião que lhes foi fornecido e que tinha limitadíssima margem de manobra...
Aceito, sem dificuldade, que mais poderia e deveria ter sido feito,designadamente em sede de extinção de organismos inúteis (à guisa de anedota, descobri há dias mais um Observatório, que se chama pomposamente Observatório das Autarquias Familiarmente Responsáveis...)e de correcção da sobrepopulação de alguns serviços (o famoso caso dos quadros da CM Lisboa, já aqui citado, constitui um bom exemplo de situação absolutamente anómala).
Mas tb compreendo o gigantismo da tarefa em questão, que é susceptível de "dar cabo" de qualquer um...
Cara Margarida,
E o que é, em que consiste precisamente, a Reforma do Estado?
Eis a grande questão...sobre a qual não tardaremos a ter notícias, para aquecer de novo o ambiente (possivelmente com o TC em grande estilo, tapando caminhos de reforma)...
Cara Suzana,
Pode bem crer a minha querida Amiga que não vejo este problema com qq tipo de dogmatismo nem de estigma para quem está no Sector Público...
Mas que existe uma gigantesca diferença entre os sacrifícios impostos e os resultados conseguidos pelos dois Universos que compõem o sistem económico em Portugal, isso parece-me absolutamente inegável porque objectivo.
Repare que antes de retirar conclusões sobre os diferentes comportamentos dos dois sectores, eu preocupo-me sempre em avançar dados estatísticos, irrefutáveis, públicos e cuja interpretação não consente grandes divergências...
Mas, repito, não me move nenhum preconceito de público versus privado ou vice-versa...
Infelizmente a dicotomia existe mesmo.
ResponderEliminarO sector público gosta de se carpir os sacrifícios desproporcionais que lhe foram impostos, mas no sector privado também se passam muitas dificuldades.
Desemprego, falências, meses de ordenados em atraso, dívidas de e a fornecedores, dívidas do estado que contrastam com a esmagadora e impiedosa carga fiscal e burocrática.
No meio de tudo isso, as exportações crescem sustentadamente, mesmo com os nossos parceiros comerciais em recessão. A economia parece ter batido no fundo, e estar a levantar-se.
Em que ponto dessa transformação económica está o sector público? À espera da retoma, para haver mais impostos que o sustentem.
No sector público tudo é intransigentemente irreformável.
Caro Nuno Cruces,
ResponderEliminarEmbora subscrevendo os seus considerandos, não serei tão radical quanto à conclusão final, de que o SP é "intransigentemente irreformável" (acho até muito interessante a expressão embora a considera excessiva).
E digo isto porque entendo que a força das realidades acabará por se impor, o País não pode suportar mais este nível de despesas, não há aliás recursos para as pagar por muito mais tempo.
Com "maior" ou com "muito maior" custo, essa reforma acabará por acontecer, na minha perspectiva. Até porque no Sector Público existe muita gente de bom senso, seriamente dedicada á causa pública, que reconhece a inviabilidade do "status quo" e está disponível para aceitar, e até apoiar, a dita "Reforma.
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarDe facto temos assistido da parte do sector privado(destaco aqui as PME´s) a um grande e bem sucedido esforço para contrariar as dificuldades sentidas pelo país. Têm-no conseguido pese embora as contrariedades fiscais que lhes são impostas. Por exemplo posso destacar que, para Angola, estima-se que as exportações venham a atingir este ano os 3 Mil mihões de Euros. Estas cresceram para este destino mais de 400% nos últimos 8 anos.
Contudo quero também realçar que temos muitos (e bons) serviços públicos que, se bem geridos, à laia do sector privado, teriam certamente resultados, o compromisso e a respectiva motivação dos seus competentes quadros, ao nível dos melhores exemplos do segmento privado.
O problema é que os decisores políticos responsáveis por essa gestão não aparentam ter nem a competência nem as qualidades necessárias para implementar essas mudanças. Muitas delas desejadas pelos melhores FP´s.
Sábias palavras, caro Mário de Jesus, sábias palavras...só espero que a sigla FP's seja utilizada para significar Funcionários Públicos e não algo de pejorativo...
ResponderEliminarTambém não concordo com a dicotomia público e privado. O primeiro é criadagem, o segundo é patrão. Quando o patrão faz tanto mais que a criadagem, o final não será qualquer surpresa. A resitencia ainda pode durar mais uns tempos, mais umas falsas crises, mais umas vigarices do TC, mais uns choradinhos do Cavaco. Agora, pensar que este progresso claro da economia do país vai tratar mais renda à crIadagem, pois, não vai acontecer....
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarDeixando de parte os temas do "patrão" e da "criadagem" - logismos que deverão ser previamente sujeitos a escrutínio de eminentes sociólogos, para melhor sobre eles nos podermos pronunciar - espero bem que o seu voto final se concretize...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarPodemos usar o logismo anterior de "servidor" ou o mais recente de " funcionário" mas parece-me melhor começar a usar uma expressão que seja completamente assertiva sobre a existência de quem pague e quem receba, de quem mande e de quem sirva. Isto quando se olha para o facto de quem paga ter que se esforçar cada vez mais para pagar quem serve que não faz nada por isso.
Incluindo o Cavaco. Esta fui gratuita, mas senti-me estranho ao acabar um comentário sem dizer o nome dele.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEssa de apontar sempre as baterias ao PR actual, omitindo sistematicamente os elevados serviços prestados pelo(s) anterior(es), leva "água no bico"...
Julgo que seria mais justo e eliminaria muitas dúvidas (as minhas, por exemplo) colocar em confronto, de forma inteiramente explícita, os elevados serviços prestados ao País pelos anteriores PRs, e os péssimos serviços prestados pelo actual inquilino de Belém...
Aí, sim, perceber-se-ia melhor a lógica, porventura ancorada em razões objectivas, explícitas e claras, desse lema "delenda est Bethleem-pós 2006"...
Na formulação actual, parece que estamos perante uma catilinária motivada puramente por um preconceito "ad hominem"...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarEste tem uma particularidade que todos os anteriores não têm: está lá. Isto para além do facto de democracia lhe parecer um conceito exótico.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEssa afirmação é absolutamente indesmentível...está lá e os outros estiveram...
Mas será que essa divergência temporal impedirá, de todo, a comparação dos feitos de cada um?
Se assim fosse, a história nunca poderia registar heróis e vilões...salvo para os que tivessem exercido tais actividades contemporaneamente!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarclaro que comparações são sempre possíveis. Aquilo que o meu caro me apontou foi a embirração com Belém pós-2006. Embora, a minha comparação produza os mesmos resultados. Nunca a cadeira aguentou rabo tão pouco indicado para o cargo que, como diz o juramento, se cinge a tão pouco. E quem tão pouco tem para fazer e, ainda assim, faz tão mal...
Ok, caro Tonibler, não batamos mais no ceguinho...ceguinho, aqui, bem entendido, é a querela em torno das virtudes e defeitos de Belém pós e ante-2006...
ResponderEliminarNunca chegaremos a conclusões mensuráveis algebricamente, enquanto usarmos prismas de avaliação quase antitéticos!
E nenhum de nós parece disposto a abdicar do seu prisma!