1. Conhecidos hoje os dados das contas com o exterior para o 1º semestre do ano, mantém-se uma evolução francamente positiva nas principais rubricas, a saber:
- O saldo conjunto das Balanças de Bens e de Serviços aumentou para € 1.143 milhões, era de € 875 milhões até Maio;
- O saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital aumentou para € 1.638 milhões, era de € 1.437 milhões até Maio;
- O saldo das transferências correntes (80% do qual corresponde a remessas de emigrantes) aumentou para € 1.971 milhões, era de € 1.666 milhões até Maio.
2. Há todavia algumas componentes destas contas que, não sendo tão importantes quanto as acima indicadas, revelam uma evolução menos favorável, a saber:
- O défice da Balança de Rendimentos ( a rubrica mais negativa da Balança de Pagamentos com o exterior, consequência do enorme endividamento acumulado pela economia portuguesa ao longo dos 15 anos até 2011) aumentou em Junho para € 3.256 milhões, de € 2.472 milhões até Maio;
- Por força do forte aumento do défice dos rendimentos, o saldo da Balança Corrente passo de + € 69 milhões em Maio para - € 142 milhões em Junho.
3. Quer isto dizer que as melhorias registadas nos Bens+Serviços (+€ 268 milhões) e nas Transferências Correntes (+ € 305 milhões) foram mais do que compensadas pela deterioração do saldo dos Rendimentos (- € 784 milhões)...
4. Fazendo contas, conclui-se facilmente que a diferença entre as variações daquelas rubricas – ou seja € 784 milhões – (€ 268 + € 305 milhões) = € 211 milhões – é exactamente igual à deterioração verificada no saldo da balança corrente, de + € 69 milhões para - € 142 milhões.
5. Em conclusão, a evolução das contas externas continua no essencial a ser bastante favorável, devendo mesmo acentuar-se nos meses mais próximos, mas o enorme peso da dívida externa acumulada ao longo de pelo menos 15 anos de gestão macro altamente deficiente em vários níveis – com especial destaque para 6 anos finais de quase delírio – ainda consegue ensombrar esta melhoria...
6. Tem pois toda a razão a insuportável Troika, quando salienta a necessidade de reduzir o endividamento ao exterior, público e privado...
O que ainda me surpreende. Como foi possível o país ter caído numa situação tão dificil...
ResponderEliminarSurpresa, Luís Moreira?
ResponderEliminarSó para muitos daqueles que diziam alto e bom som: que não liam jornais e ou que nunca se enganavam.
Era o tempo das vacas gordas e de suas Exmas Inconsciências.
E que agora, em vez de falar e assumir claramente a situação de 2010 e do que ali nos trouxe, se refugiam num relatório de três embaixadores dos mercados.
Não se aplica ao distinto autor do post.
Não entendo a preocupação com o endividamento privado. Querem pagar-me o empréstimo da casa? Eles que se preocupem com os passivos involuntários que são impostos às pessoas. Os voluntários há quem se responsabilize por eles.
ResponderEliminarCaros Luís Moreira e BMonteiro,
ResponderEliminar"Little wonder", como dizem os ingleses...
Alguns cidadãos, facilmente identificáveis até porque eram muito escassos e foram por sinal muito bem tratados, empenharam-se, desde o final da década de 90, em avisar alto e bom som que o barco seguia na direcção errada,...mas de nada valeram esses avisos, era tão agradável o sobreendividamento!
Caro Tonibler,
O sobreendividamento, pelo facto de ser do sector privado, não deixa de ser sobreendividamento...
Bem sei que, nesse caso, as consequências são pagas pelos próprios e que uma boa parte da correcção necessária está feita - ao contrário do sector público, que entende ser o sobreendividamento um direito constitucionalmente protegido!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarMas como ninguém empresta um cêntimo que seja ao estado português que não os privados portugueses e alguns hedge funds estrangeiros que apostam em lixo, a dívida pública perante o estrangeiro é mascarada pela dívida privada. Preocupemo-nos com a pública. resolvida essa perceberemos que a privada não tem problema nenhum.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEsqueceu-se, ao enumerar os prestamistas do Estado português, o distinto FEFSS, que até tem por obrigação colocar 90% dos seus recursos em dívida pública... matéria que tem sido aqui tratada com particular distinção pela nossa amiga Margarida Correa de Aguiar...
É claro que sempre poderá dizer que o FEFSS não é mais do que um acervo de poupanças (forçadas, é certo) que pertencem aos cidadãos contribuintes da dita SS, pelo que em última análise serão sempre os privados a emprestar ao Estado...
Mas o distinto FEFSS serve para pagar um ano de défice. Por acaso, estou curioso em saber como é que essa porcaria aparece nas contas do estado. Quase apostava que fazem net da dívida como se fosse estado a emprestar ao estado, num golpe contabilístico em que roubam o cidadão duas vezes.
ResponderEliminarTenho a noção de que vão mesmo "netar", caro Tonibler...tratando-se do Estado (FEFSS) credor de si próprio (IGCP), porque carga de água não haveriam de "netar"?
ResponderEliminarSó lhes fica bem!