A notícia refere que a complexidade foi a justificação oficial apresentada para a contratação externa do serviço de elaboração do inventário dos bens móveis e imóveis da Administração Regional de Saúde de Lisboa. Uma contratação que vai custar 400 mil euros. É muito? É pouco? Não sei. As outras ARS estão a fazer o trabalho com os seus próprios recursos e meios. Esta diferença de tratamento não deixa de ser estranha.
Mas o que, a meu ver, é muito mais estranho é que durante anos e anos estas entidades não tenham feito e actualizado os inventários do património da sua responsabilidade. Como é possível? Fazer o inventário do património é uma tarefa de gestão fundamental em qualquer organização que desenvolve uma actividade económica, insere-se nas preocupações normais da gestão.
A ARS de Lisboa regista desde 1994, de acordo com a notícia, um valor patrimonial negativo superior a 5 milhões de euros. É extraordinário que a realização dos inventários tenha sido determinada pela Inspecção Geral das Actividades em Saúde. A decisão só peca por tardia.
Nada disto é normal. Não admira que haja custos desnecessários, que a falta de dados rigorosos afecte negativamente a capacidade de decisão política e de gestão. Não quero generalizar, é perigoso fazê-lo, mas apetece-me perguntar quando é que vamos ser capazes de incluir na rotina da administração dos serviços públicos um normal nível de gestão?
Enquanto não houver uma avaliação por mérito, nunca! Estas pessoas não são nomeadas pela experiência e pelo saber.
ResponderEliminarNunca; nos nossos dias!
ResponderEliminarA administração pública, cara Drª Margarida, tem sido ao longo de décadas, herdeira de uma decadência que a tem corrompido e degradado ao ponto de me parecer irrecuperável, ao nível de funcional. Durante os consecutivos governos, a administração pública tem servido diferentes fins, poucos desses fins relacionados com a sua principal e única função; a de administrar funcionalmente os serviços públicos do Estado.
http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/742735.html
ResponderEliminarÉ dificil perceber que uma consultora faça a inventariação de uma unidade de saúde
ResponderEliminarÉ difícil ler esta notícia e não pensar que por detrás do assunto há uma cadeia de interesses e compadrios que, querendo fazer de nós tolos, invoca o argumento da "complexidade" do trabalho passando um certificado de incompetência à função pública.
Não sou, nunca fui, funcionário público. Mas discordo completamente de quem atribua a estas frequentes decisões do governo (deste e dos outros) a incapacidade dos que trabalham na administração pública.
É revoltante.
E ainda mais quando a ARS está a adiar a integração de profissionais médicos altamente qualificados invocando a falta de cabimento no OE.
Caro Luís Moreira
ResponderEliminarLi o seu post, concordo em geral com as considerações que faz.
A questão não é apenas de mérito, é também uma questão de modelo de organização que influência a cultura de gestão. Não podemos esquecer que há legislação para tudo e mais alguma coisa, incluindo para estabelecer procedimentos e técnicas de gestão. Quando as coisas não correm bem, nunca se sabe para onde pendem as responsabilidades, se para o nível político se para o nível de gestão/técnico.
Caro Bartolomeu
As disfuncionalidades são muitas. Mas por causa delas aponta-se o dedo aos funcionários públicos, acusando-os de incompetência, falta de profissionalismo, etc. Não é justo, os funcionários públicos são tão capazes como os outros, há um problema de politização da gestão.
Caro Rui Fonseca
Concordo com as suas observações que também li no Aliás. O título do seu post é bem mais sugestivo: PARA AMIGOS, ORÇAMENTO ROTO! Não há dinheiro para o essencial, mas há dinheiro para o acessório. Agradeço o link.