Hoje, de manhã, devido ao prolongar das festividades do dia anterior, Natal, e depois de ter trabalhado um pouco, porque não tive muitos trabalhadores para ver, fui para casa. Sentei-me a ver televisão, analisando os tradicionais programas matinais que, de um modo geral, revelam bem os nossos comportamentos, e que são utilizados, frequentemente, não como entretenimento, mas com objetivos por vezes comerciais e, até, para fazer coscuvilhice. Não significa esta apreciação que não tenham alguma utilidade. O desmascarar de uma ou outra situação pode ser bastante útil pela pertinência e justeza da mesma. A apresentadora descreveu o quadro de um homem que sofre de grave doença respiratória obstrutiva crónica, de provável origem profissional, visível e profundamente incapacitado, não só para a sua profissão como também para a vida quotidiana. Os relatos, as imagens, a abordagem em direto, entrevistando familiares e uma técnica da segurança social, não deixaram quaisquer dúvidas sobre o caso. A par da situação clínica, grave, como já foi afirmado, adiciona-se uma decisão incompreensível, diria mesmo obscena, caso seja comprovada, da junta médica que o declarou apto para o exercício da sua atividade profissional. Pensei que teria sido algum equívoco da reportagem ou das declarações dos familiares, mas, à medida que iam sendo apresentados mais elementos, constatei que o caso era mesmo caricato e muito grave em termos de decisão médica. Perante esta situação, que só foi possível denunciar graças à reportagem, é preciso, no mais curto espaço de tempo, fazer o respetivo inquérito e tomar as devidas medidas. Não posso aceitar que médicos, os quais têm a nobre missão de proteger, defender e tratar qualquer pessoa, independentemente da sua condição, credo, etnia, religião ou seja o que for utilizado para discriminar seres humanos, tenham este comportamento. Fiquei perturbado e ansioso. Como pertenço à mesma classe, exijo que os responsáveis, neste caso a Ordem dos Médicos, faça o que lhe compete para esclarecer o que realmente aconteceu, e sancionar, se for caso disso. Tudo aponta que sim, os intervenientes nesta junta não se portaram bem, mas, como há sempre o princípio do contraditório a respeitar, gostava de saber o que é que os colegas, que decidiram naquele sentido, têm a dizer.
Entretanto, vou pensando no que andam a fazer certos responsáveis, ou que se julgam como tais.
O mundo está cada vez mais velhaco, cínico e sem sentido. É preciso repor a dignidade e o respeito pela vida humana.
É sempre bom ler os seus artigos!Um Novo Ano cheio de saude e que nunca deixe de escrever as suas "obras primas",de que tanto gosto!
ResponderEliminarUm excelente Ano Novo. O melhor do mundo para si e seus.
ResponderEliminarOs seus artigos tornaram-se, para mim, uma leitura obrigatória.
ResponderEliminarNão há incompetência na «governação». Há uma vontade deliberada (e muito bem paga), de uma cáfila política para roubar a riqueza que os portugueses produzem e enfiá-la nos bolsos de banqueiros parasitas.
Um bom Ano Novo e, sobretudo, um ano de permanente chamada de atenção para a fraude imensa de que os cidadãos deste país estão a ser alvo por parte de uma dúzia de sanguessugas na Banca, acolitados por um batalhão de vendidos (na política, no parlamento, na legislação, na procuradoria geral, nalguns tribunais superiores e nos Media).
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarSão sinais de prepotência inaceitáveis. É com estes comportamentos que devemos avaliar o país, infelizmente continuamos a tratar mal muitos dos nossos concidadãos, normalmente os mais vulneráveis. Ambicionamos o desenvolvimento económico, mas esquecemos o desenvolvimento humano.
Tudo o que as televisões transmitem, é fruto de profundos estudos sociológicos, de registos de audiência, etc. Se a televisão transmite incessantemente programas com «objetivos comerciais e, até, para fazer coscuvilhice» não tenhamos qualquer dúvida que o fazem porque são a garantia de elevada audiência. É claro que esta audiência foi "treinada" para o ser. Para que este treino resultasse eficaz, contribuíram algumas mudanças na sociedade. Duas que considero fundamentais são:o aumento de idosos solitários e, o aumento de desempregados. A ambos, falta-lhes a esperança; o fator que nos ajuda a tentar contrariar a lei do mais forte. A esperança é o verdadeiro poder do mundo, que nos mantem vivo o desejo de mudar de uma situação desagradável, desesperante, para outra melhor. E a televisão oferece-nos a ilusão de que somos diferentes, que podemos ter sucesso, triunfar, ser mais importantes, basta para isso que sonhemos... e aquela "caixa" é boa nisso... a vender sonhos àqueles que já desistiram de sonhar e de lutar por esses sonhos.
ResponderEliminarCerto, Barolomeu. Certo, Margarida.
EliminarObrigado, Diogo
Caro Professor, não conheço o métier médico daqui a pergunta que faço adiante. Em Portugal os engenheiros civis estão fortemente dependentes do Estado e muito, muito, muito raros são os que vão contra o Estado, seja administração central, sejam câmaras. Isto porque sabem que fazendo-o sofrem represálias e é uma profissão muito dependente do Estado, não apenas para ter trabalho como também e mais importante para ter os seus projectos aprovados pelos diversos niveis da administração pública. Por isso vê-se muitas vezes o que se vê. Há algo de semelhante ao que acabo de relatar na profissão médica que acabe por levar a absurdos como o que nos trouxe no seu post? Se sim, é grave, muito grave. Se não, enfim,fico sem saber o que pensar.
ResponderEliminarBom, neste caso concreto estão dependentes de quem lhes paga! E noutras situações também. Nota-se um controlo sobre prescrição, o que não é nada de anormal, mas que se acompanha de alguma intimidação como me é dado a perceber. Há várias formas de intimidar, a pior e a mais eficiente é através de medidas de controlo, aparentemente saudáveis. Muito haveria a dizer sobre estas matérias. Trabalhar para o "patrão" e "satisfazer" as suas vontades e desejos não é de hoje. Há quem ganhe a vida, e bem, deste modo...
EliminarObrigado pela sua resposta, Professor. Permite-me fazer uma ideia da mecânica da coisa. Permita-me então ampliar um bocadinho o âmbito da questão. Há quotas mínimas de aptos que as juntas médicas têm que proferir? E, relacionado com isto, verifica-se um maior número de aptos no fim do período a que a quota se refere? Por exemplo, nos últimos cinco ou dez dias do mês se o período for mensal ou nos últimos quinze, por exemplo, se for trimestral? Algo deste género.
ResponderEliminarZuricher. Não sei responder. Desconheço a mecânica das juntas, embora tenha algumas informações que não abonam muito nalguns casos.
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