Não há dúvida que a privatização dos CTT foi bem sucedida de um ponto de vista do encaixe financeiro. Numa lógica de curto prazo a operação correspondeu aos objectivos do governo, a função financeira foi optimizada.
Mas o sucesso da privatização não se esgota aqui. Só o tempo dirá se a empresa CTT renovada em 70% do seu capital accionista será um bom negócio para o país, não esquecendo que presta um serviço com uma forte componente social.
Ocorrem-me, pelo menos, as seguintes perguntas para as quais ainda não são do domínio público as respostas:
Ocorrem-me, pelo menos, as seguintes perguntas para as quais ainda não são do domínio público as respostas:
- o que vai acontecer aos 30% do capital pertencente ao Estado.
- quem são os novos accionistas, são investidores de longo prazo (estratégicos?) ou são investidores especulativos.
- qual vai ser o quadro regulatório que o governo vai estabelecer para a prestação do serviço público essencial e universal que é o correio.
- como vai a empresa rendibilizar os activos de que dispõe.
Aguardemos, então, esperando que a optimização da função financeira não dificulte o futuro...
2006 - Os CTT - Correios de Portugal registaram um resultado líquido recorde de 66,9 milhões de euros…
ResponderEliminar2007 - O lucro consolidado dos CTT subiu 8,7 por cento no ano passado, face a 2006, para 72,7 milhões de euros…
2008 - Os CTT-Correios de Portugal lucraram 58,2 milhões de euros...
2009 - Os CTT-Correios de Portugal lucraram 60,5 milhões de euros...
2010 - O lucro dos CTT foi de 56,3 milhões de euros…
2011 - Os CTT vão entregar 53,9 milhões de euros em lucros ao Estado…
2012 - O resultado líquido dos CTT caiu 9,1%, para os 50,7 milhões euros…
O Estado vai encaixar 578 milhões de euros com a venda de 70% do capital…
Ou seja, os CTT têm dado um lucro médio anual de cerca de 60 milhões euros. Ao vender 70% da empresa a privados, o Estado fica privado de um lucro anual de 42 milhões euros (70%).
Donde, o Estado arrecada agora (578 milhões de euros) vendendo 70% dos CTT, o mesmo que iria buscar ao fim de 14 anos (587 milhões de euros)se mantivesse a posse a 100% dos CTT.
Que mentecapto é que faria um tal negócio? Ninguém, evidentemente! Porque «os nossos representantes» que negociaram este roubo ao Estado estão manifestamente a soldo dos novos acionistas.
ResponderEliminarA privatização de monopólios de serviços públicos só pode compreender-se por imposição da situação das contas públicas.
Porque é difícil vislumbrar que se evite uma propensão natural do monopolista capturar o regulador.
Quem será o "monopolista" neste caso não sabemos. O que podemos ter a certeza é que, mais tarde ou mais cedo, viremos a saber.
Como no "Jardim da Celeste" "se não for a mãe da frente é o filho lá detrás"
Caro Diogo
ResponderEliminarOs 70% do capital dos CTT foram vendidos pelo máximo preço do intervalo fixado. O mercado acreditou que a empresa vale hoje cerca de 830 milhões de euros.
O mais importante é sabermos que CTT vamos ter no futuro. As incertezas são muitas. Importante é sabermos qual vai ser o modelo que melhor garanta o futuro da empresa, que serviço público postal vai prestar e como vai fazer face ao declínio do correio tradicional.
Caro Rui Fonseca
Os monopólios podem ser privatizados. A questão relevante, a meu ver, prende-se com as condições dos contratos de concessão de exploração e com a qualidade da regulação (competência e independência). No caos dos CTT o Estado regulou antes de privatizar, mas o contrato de concessão termina em 2020. Como vai ser depois? Não se debateu que serviço postal queremos ter. Temos aliás sido confrontados com alterações na acessibilidade ao serviço postal decididas pela empresa, sem que se perceba qual é o plano.