Num dia particularmente especial, em que toda a gente fala da morte de uma grande individualidade, em que os comentários se sobrepõem uns aos outros, em que as expressões de condolência se misturam com elogios, encómios, reparos e honras capazes de o "divinizar", em que os mais ilustres e os mais desconhecidos exprimem as suas opiniões, regurgitam a sua dor ou mordem a sua raiva, acabei por me confrontar com um pequeno episódio.
Passaram-se muitos anos sobre a última vez que fui a São Martinho do Porto. Na viagem, de repente, guinei para a direita e esbarrei naquele belo local. Recordei esse momento com mais de trinta anos. Acontecimentos que adquiram vida apesar do tempo e da perda da memória. Calcorreei e esbarrei num monumento. Desconhecia quem era o médico. Acabei por saber quem era, in loco, graças às modernices informáticas. Perante o seu olhar fiquei a saber o que fez. Gostei do que li. O humanismo vibra em toda a parte, em muita gente, a maioria da qual é desconhecida. Hoje, fortuitamente, esbarrei numa memória que acabou por enriquecer a minha memória. De memória em memória vou vivendo até esquecer que existo.
Desenhei na minha memória com um traço negro de dor algumas imagens coloridas de esperança e de grandeza humana. Transcrevo do texto um pequeno comentário "...Contam-nos os mais velhos da nossa freguesia, que o Dr. Graça, quando chamado a tratar doentes cujas doenças eram fatais, muitas vezes se via este homem deixar cair do rosto algumas lágrimas por não poder fazer mais nada na defesa da vida dos seus doentes, que também eram seus amigos."
Olho para o seu busto, para o seu nome, para a data de nascimento, para a data da sua morte, para a data da homenagem e fui embora com a minha pobre memória enriquecida com a memória de alguém que, desconhecido para a maioria de nós, e para a quase totalidade do mundo, foi um exemplo do toque do divino. Uns são homenageados à escala mundial e outros à minúscula escala local. No entanto, não são muito diferentes em termos de humanismo, aquela bela forma de viver que não se pesa, que não se mede, apenas se cultiva e se ama.
«...humanismo, aquela bela forma de viver que não se pesa, que não se mede, apenas se cultiva...» Chapeau, caro Professor.
ResponderEliminarAdmirável texto (mais um), caro Professor: só faltou acrescentar - se me permite a ousadia - "sem preocupações mediáticas", a seguir a "se cultiva"...
ResponderEliminarSim, não escrevi, mas pensei...
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