Confesso que começo a simpatizar com
Hollande. Eleito, em nome da cartilha socialista de fim das restrições
orçamentais e invocando uma virtual agenda para o crescimento, com mais
despesa pública, grandes projectos e eurobonds, passado menos de um ano começou
a abjurar do erro, por verificar a insensatez das medidas que defendera.
Afinal,
nesse curto lapso de tempo, a dita agenda transmudou-se no corte da despesa
pública, no aumento dos impostos e numa austeridade bem real, apresentada
solenemente na Assembleia Nacional. Para
que o PIB possa crescer, sustentou, na ocasião.
Também para que o PIB pudesse crescer,
passou a considerar necessária a flexibilização laboral e iniciou negociações
com os sindicatos para esse efeito. E se
os parceiros não concordarem, então lamento, mas o Estado vai assumir as suas
responsabilidades, referiu Hollande.
Pois agora
Hollande propõe-se aprofundar a sua renúncia definitiva às doutrinas que sustentou
na sua candidatura, anunciando diminuição de impostos e mais redução
da despesa do Estado.
Tenho sempre
consideração por quem consegue mudar de uma orientação errada para um caminho
certo, embora não esqueça o enorme prejuízo para a democracia e para os povos das
ilusões criadas por demagogias infrenes, como foram as de Hollande. Mas
persistir no erro é bem pior: junta teimosia, sem tino nem senso, à demagogia
inicial.
Claro que a esquerda o acusa agora de “viragem para os braços do liberalismo. E, coincidentemente ou não,
os media franceses que tanto zelavam pelas públicas virtudes e tanto escondiam
os privados pecados dos governantes do socialismo, a começar por Miterrand e a
acabar em DSK, já vão tratando os pecados de Hollande à moda dos pecados dos governantes
de direita. Esconder pecados privados, sim, mas só à “nossa” gente, de que
Hollande, pelos vistos, deixou de fazer parte.
Por mim,
embora ainda desconfiado, começo a
acreditar em Hollande. Um bocadinho, pouco, mas a acreditar. Avante, pois, Kamarada
Hollande!...
Quando começam a pisar o risco aí está a nomenklatura do estado a fazer chegar as notícias à comunicação social...
ResponderEliminarE isso mesmo !
ResponderEliminarE bastava só uma lei a dizer que o estado tem meios próprios de divulgação e publicitação e fica proibido de o fazer de outra forma...
ResponderEliminarTalvez o maior estampanço político em França desde Napoleão III.
ResponderEliminarO meu Amigo Pinho Cardão é que não acreditou no camarada Seguro que bem disse no momento da eleição do camarada Hollande que o homem ia significar uma "lufada de ar fresco". Cá está.
ResponderEliminarCaro Ferreira de Almeida;
ResponderEliminarMas muito mais fresco do que seguramente previa. Tão fresco, tão fresco que só a lembrança do camarada passou a causar uma tal dor de garganta ao Seguro que definitivamente deixou de o invocar!...
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarCompreendo a simpatia que parece estar a nascer em si por Hollande. Contudo, deve andar um pouco distraído para pensar que Hollande ou qualquer outro líder europeu tenha uma prática política contrária ao “pensamento único” europeu – o pensamento neoliberal.
Escrevi em 2007 2 2009, (já lá vão uns anitos, apesar de hoje tudo continuar igual):
"Esta uniformização politica não distingue os sociais democratas dos democratas cristãos na Alemanha, nem os trabalhistas dos conservadores no Reino Unido, nem os populares dos socialistas em Espanha, nem os Prodis dos Berluskonis em Itália, nem os social democratas dos socialistas em Portugal. Todos usam o mesmo figurino político". (Dezembro de 2007)
“Na verdade, os actuais líderes europeus quer os das “esquerdas”, quer os das “direitas” vêm-se empenhando na construção e consolidação do modelo ideológico hegemónico neoliberal. Não existem quaisquer diferenças entre eles quando se trata de consolidar este pensamento único – o neoliberalismo. Alterar profundamente o papel do Estado, reduzindo drasticamente as suas Funções Sociais, privatizando múltiplos sectores e retirando-o das decisões económicas. Estas “reformas”, segundo os neoliberais, devolveriam aos cidadãos o poder das decisões económicas, garantia a eficácia da Administração Pública, diminuiria os custos do Estado e incentivaria a livre competição do mercado. E neste frenesim de pseudo-reformas, que consideram fundamentais e indispensáveis para o ingresso no novo mundo moderno, os líderes europeus não só transformam a realidade económica e social como também conseguem que tal transformação seja aceite e considerada a única saída para um maior desenvolvimento económico e social”. (Junho de 2009)
Caríssimo António,
ResponderEliminarHollande limita-se a cumprir a regra de fazerem os políticos no governo o contrário do que prometeram quando eram oposição. Uma regra com raríssimas excepções.
Aliás, quem não se recorda do empenhamento de Hollande em apanhar o primeiro avião para visitar Merkel logo que foi anunciada a sua eleição?
Trata-se tão só de aprender com a social democracia de Alemães e nórdicos e deixar pelo caminho o socialismo de estado francês. Chamar a tudo neoliberalismo é o mesmo que a extrema direita faz, chamando comunismo a tudo.
ResponderEliminarConcordo, caro Luis Moreira
ResponderEliminarCaro Luis Moreira
ResponderEliminarPara os neoliberais, a economia que devotam não se mede pela melhor qualidade de vida da população, pelo melhor salário dos trabalhadores, pela melhor protecção à velhice, à doença e invalidez, pela melhor protecção ao desemprego ou pelos melhores cuidados de saúde e educação. Numa palavra, pela melhoria do bem-estar das populações. Não, para eles, a economia mede-se unicamente pelos ganhos ou perdas dos mercados financeiros.
É esta a “economia” venerada pelos governantes e a quem prestam vassalagem e se submetem aos seus caprichos. Uma “economia que mata” como diz o Papa Francisco, uma economia dos “mercados” e não uma economia a favor das pessoas e do bem-estar social.
Que o país tenha socialmente regredida décadas, que a miséria se alastre entre a população e que as desigualdades sociais se acentuem drasticamente, por imposição desse poder oculto que se corporiza nos “mercados”, pouco importa. O que realmente interessa é que os mercados financeiros voltem a proporcionar rapidamente mais e mais altas ganâncias.
Acredito que num futuro próximo a Social Democracia irá romper com o neoliberalismo. O retrocesso civilizacional a que assistimos não perdurará para sempre. A doutrina do “não há alternativa” cairá por terra seguramente. Desgraçadamente deixará contudo um rastro de grande destruição social.
Talvez um dia o Carlos Sério perceba com o que é que se compram os melões. Que é o mesmo que dizer que talvez um dia perceba com o que é que se paga " [a] melhor qualidade de vida da população, [o] melhor salário dos trabalhadores, [a] melhor protecção à velhice, à doença e invalidez, [a] melhor protecção ao desemprego ou [os] melhores cuidados de saúde e educação. Numa palavra, [a] melhoria do bem-estar das populações.".
ResponderEliminarEu a mim parece-me que os países que melhor garantem tudo isto são precisamente os que mais têm daquela tal coisa com que se compram os melões. Mas, certamente e sem sombra de dúvida, estou enganado. Pena é que sempre que vou à mercearia, se quero algum avio, a senhora só mo deixa trazer se eu lhe deixar umas moedinhas ou umas notinhas.
Não meu caro Zuricher, os países que mais têm daquela coisa são precisamente os países onde a desigualdade social é menor e onde o estado social é mais forte. São os países nórdicos, meu caro.
ResponderEliminarTudo está como é distribuída a riqueza gerada no país.
Acontece que os gastos sociais em percentagem do PIB são menores em Portugal que na média europeia.
Compreendeu bem, digo em percentagem do PIB. Menos PIB menor o valor da percentagem correspondente, compreendeu?
Só que em Portugal nos dois últimos anos aumentou o numero de milionários e as suas respectivas carteiras com aquilo que se compram os melões enquanto a população viu diminuir drasticamente os seus rendimentos.
É caricato, não é?
Acho sempre delicioso os esquedistas Portugueses darem como exemplo os países nórdicos quando estes estão muitos furos acima de Portugal... em liberdade economica. Só para rir, enfim.
ResponderEliminarAntes de falar no Estado Social devia pensar em como ganhar dinheiro para o pagar. Isso sim. Aliás, a experiência Portuguesa mostra claramente que são precisamente os que mais falam em Estado Social que mais o afundam e põem em causa.
Para já não sou “esquerdista”,seja lá o que isso for, sou social democrata. Social democrata e não sou neoliberal. Como alguns outros, Ferreira Leite, por exemplo.
ResponderEliminarO meu caro parece não ter compreendido ainda a questão da despesa pública e dos seus custos em percentagem do PIB. Vamos lá ver. A despesa pública em Protecção social, Educação e Saúde em Portugal estão abaixo da média europeia em percentagem do PIB. É um dado que pode facilmente ser consultado. Portanto não estamos a gastar mais que a média dos países do euro.
Agora, atente bem, se o nosso PIB desce, se a riqueza que se produz no país desce, descerá proporcionalmente o valor monetário das despesas ainda que se mantenha a mesma percentagem do PIB. Se o país empobrece haverá menos dinheiro para as funções sociais do estado mas o que se gasta em percentagem do PIB continua o mesma. Portanto, quando se fala em percentagem do PIB, a questão não reside em termos ou não termos dinheiro, a questão será se pretendemos convergir ou divergir da União Europeia. A questão colocada em termos dinheiro ou não termos dinheiro não faz assim sentido algum ainda que seja muito útil como propaganda política para enganar a população.
Quanto aos países nórdicos estarem uns furos acima de Portugal, é verdade, mas isso não é por acaso. Isso tem a ver precisamente com as políticas que foram seguidas no fortalecimento do estado social que se reflecte na alta percentagem do PIB que é atribuído às funções sociais do Estado. Ao contrário do que é comum pensar-se foram precisamente as políticas das despesas sociais, da diminuição das desigualdades, que lançaram os nórdicos para “uns furos acima” e não o contrário.
Carlos Sério, terá reparado, por ventura, que o OE Português está onerado com uma série de dívidas para pagar. É natural que sobre menos dinheiro para o Estado Social. Foi precisamente isso que disse com "a experiência Portuguesa mostra claramente que são precisamente os que mais falam em Estado Social que mais o afundam e põem em causa". Quando não se acautela o futuro, pois essa é uma consequência natural e normal.
ResponderEliminarPaíses nórdicos, não sei se reparou mas eu referi-me a furos acima em termos de liberdade económica. Ou seja, preocupam-se em criar as condições que permitem gerar riqueza. Mas gostava de saber como é que consegue ter políticas de despesas sociais antes de ter dinheiro para as pagar.
Meu caro Zuricher.
ResponderEliminarA questão é simples. Se gastamos nas funções sociais do estado menos do que a média dos países do euro, e se não temos dinheiro para suportar aquilo que os outros países conseguem com gastos ainda de maior percentagem do PIB, então é porque o PIB português, a riqueza nacional criada, está mal distribuída, uns poucos apropriam-se da maior fatia dessa riqueza deixando para a maioria da população uma pequena parte. Estamos portanto perante uma questão de grande desigualdade social e o governo o que tem a fazer é atenuar as desigualdades e não queixar-se de que “não tem dinheiro”. Foi o que os nórdicos fizeram e pelos vistos saíram-se bem.
Acabe-se com as “assessorias e os pareceres milionários”, as PPP, os Sawps e os múltiplos órgãos parasitários do estado (as tais gorduras). Pratiquem-se impostos justos e reforme-se a administração do estado com a eliminação dos órgãos parasitários e seguramente que haverá dinheiro para o estado social. Mas não é esta a escolha do governo. Nenhum governo do PSD depois do 25 de Abril colocou em causa o estado social. Foi preciso surgir este Passos Coelho saído da JSD. É uma vergonha para um partido que se diz social democrata.
A evolução da socialdemocracia a partir dos fins dos anos 50 foi nitidamente esta: a conciliação dos valores liberais fundamentais com um regime económico que rejeita o capitalismo liberal. Para que as liberdades sejam desenvolvidas e se dê satisfação à justiça social a social-democracia rejeitou, e bem, o capitalismo liberal e enveredou por outras formas económicas em que é mais importante uma política de preços de rendimentos, de salários, de justa distribuição de rendimentos, de participação dos trabalhadores nas empresas e nas próprias decisões conjunturais do que propriamente da propriedade dos meios de produção.
ResponderEliminarNuma social-democracia, o que é característico é o apoio dos trabalhadores industrializados: e esse apoio é tanto mais significativo quanto mais o País estiver industrializado. As sociais-democracias do Norte da Europa, por exemplo, nasceram com o apoio dos operários da indústria, mas também de agricultores, de pescadores e de pequenos comerciantes, tal como no nosso país. A nossa base social de apoio é tipicamente social-democrata. O nosso programa é um programa social democrático avançado, em relação, por exemplo, ao programa do S.P.D. alemão - e, portanto, isto afasta qualquer deturpação que se queira fazer no sentido de nos apresentar como partido liberal ou democrata-cristão, o que são puras especulações tendenciosas que não têm qualquer base.
É que a social-democracia, que defendemos, tem tradições antigas em Portugal. Desde Oliveira Martins a António Sérgio. É a via das reformas pacíficas, eficazes, a caminho duma sociedade livre igualitária e justa. Social-democracia que assegura sempre o respeito pleno das liberdades.
Francisco Sá Carneiro
Caro Pinho Cardão e completamente off topic, apenas porque vem de uma conversa mais antiga:
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/ecosfera/noticia/constantinopla-e-aquecimento-global-1620369
Como disse já estava escrita antes do seu outro post, mas bem que lhe podia ter dedicado a crónica.
henrique pereira dos santos