sexta-feira, 14 de março de 2014

Manifesto dos 70, ou Albergue Espanhol de 70?

Também eu penso que o manifesto, dito dos 70, constitui um enorme disparate. Digo porquê.
1. Questão prévia:  Nenhuma reestruturação é eficaz se não der prioridade ao equilíbrio económico. Obtido este, a componente financeira pode ser chamada a ajudar. Mas, se aquele não for previamente conseguido de forma sustentável, as reestruturações financeiras de nada servirão. Volta tudo ao desequilíbrio. Ora o Manifesto não tem uma palavra sobre a reforma do Estado e o equilíbrio das contas públicas antes da função financeira. Isso pouco ou nada lhe interessa. Assim, o Manifesto é um acto falhado. 
2. Oportunidade: Não é a 2 meses de saída da Troyca que se pode levantar a questão da reestruturação da dívida. É deitar pedra na engrenagem. Assim, o Manifesto, pela desconfiança que poderá trazer, configura-se como um acto político a favor da continuação da intervenção externa.
3. Eficácia: A generalidade das restruturações financeiras, sem olhar aos economics, como a presente, têm resultado em autênticos fracassos. Apenas o último exemplo: o PIB da Grécia, apesar da reestruturação financeira, caíu 25%.
4. A falácia da taxa de juro: Segundo dados recolhidos num artigo de artigo de J. Vieira Pereira no Expresso, a taxa implícita de juro da dívida portuguesa era de 5,6% , em 2000, e hoje é de 3,9%. Donde, o problema, como refere o autor, não é a taxa, mas o montante. E mais acentua a necessidade do equilíbrio das contas públicas antes do pagamento dos juros.
5. Implicações no cidadão: A reestruturação, mesmo que apenas da dívida superior a 60% do PIB, abrangeria Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro detidos por particulares. Para além de sofrerem aumentos colossais de impostos, de se verem esbulhados pela CES, os cidadãos que emprestaram dinheiro ao Estado ver-se-iam novamente espoliados. Também os fundos da Segurança Social sofreriam forte quebra. E os Bancos teriam que ser recapitalizados, porventura com dinheiro público. Isto é, aumentava o endividamento público para repor os rácios de solvabilidade dos Bancos. E os PPRs sofreriam forte diminuição. É tempo de assumir que a grande maioria do capital que acorre à dívida pública não é especulativo, mas produto de pequenas poupanças.
6. Ajustamentos necessários: Claro que ajustamentos serão necessários. Mas eles devem ser feitos de forma discreta. O Governo já renegociou segmentos de dívida, prazos e taxas de juro. O IGCP já renegociou, também para segmentos de dívida, prazos e taxas de juro, tendo procedido a recompras e alargamento de prazos. Por enquanto, é este o caminho a prosseguir. Tem tido o acordo do mercado. E, quer se goste ou não, não há outra forma de obter financiamento.
E por aqui me fico. Não sem dizer que consensos do tipo albergue espanhol que a lista de subscritores retrata depressa entrariam em colapso com a concretização da ideia. Até por isso, ela não é exequível.

19 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão

    Estou ansioso por ver a proposta de Reforma do Estado dos ilustres membros do Quarta República.

    Cumpr, JPO

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  2. E, já agora, também vinha a calhar uma propostazinha de combate à corrupção, visto que o meu caro amigo acha que o Paulo Morais é um estafermo que não adianta nada na luta contra a dita.

    Em suma, o que eu quero dizer é que neste blog também se faz muita pregação moral sem a apresentação de alternativas viáveis e credíveis, o pecado que é apontado aos subscritores do manifesto dos 70.

    E se este manifesto contribuir para mandar o Passos Coelho para o diabo que o carregue, já fez muito de positivo.

    Cumprimentos
    Jorge Pacheco de Oliveira

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  3. Caro Jorge Oliveira:

    Creio ter-se enganado na porta: o 4R não é um partido político, nem mesmo uma associação cívica. Não tem que apresentar alternativas. Mas, se alguém quiser aproveitar os textos produzidos ao longo de quase 10 anos, coligirá material suficiente para um excelente programa de governo. E sobre a reforma do Estado, a questão é de vontade dos governos, não de falta de propostas.
    Portanto, o meu amigo bateu à porta errada.

    Caro Jorge Oliveira:
    Desminto o que o meu amigo dizs que eu disse sobre o Paulo Morais. O que eu disse, e no Blog, foi que o Paulo Morais, misturando factos relevantes com outros sem relevância nenhuma, com o intuito de manter o seu nicho de mercado na comunicação social,presta um mau serviço à luta contra a corrupção. Ao fim e ao cabo, na confusão geral, tudo assume igual importância e tudo fica branqueado. O que é mau. Péssimo.
    De qualquer forma, o meu amigo fique certo de que continuaremos a escrever escrever do que nos apetecer, como nos apetecer e quando nos apetecer, expondo ideias e sempre com o propósito, que julgo irmos conseguindo, de não ofender pessoas ou instituições. Criticar ideias, respeitar os seus autores.

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  4. Caro Pinho Cardão

    Por essa ordem de ideias, também os 70 subscritores do manifesto, não sendo um partido político nem uma associação cívica, não tinham nada que apresentar alternativas ou propostas para a Reforma do Estado.

    Cumpr, JPO

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  5. Discordo que o manifesto seja omisso sobre a reforma do estado.

    Pelo contrário, o manifesto é até bastante claro: é necessário "prosseguir as melhores práticas de rigorosa gestão orçamental no respeito das normas constitucionais."

    O estado reforma-se, como é óbvio para todos: sem despedir funcionários, sem lhes alterar as funções ou desloca-los demasiado, sem reduzir os seus vencimentos ou subsídios, sem aumentar o seu horário de trabalho, sem aumentar muito as contribuições para a ADSE ou cortar demasiado as pensões ou prestações sociais, sem desinvestir na escola pública ou no SNS.

    O estado reforma-se sem sequer fechar a MAC, sempre no estrito cumprimento da constituição, da legalidade, das providências cautelares, e das vontades presidênciais.

    Segundo os 7 ilustres que assinaram não só este manifesto, mas o outro em 2009, o estado reforma-se preferencialmente através do investimento público na: "reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação."

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  6. Caro Pinho Cardão,

    No que toca a qualquer assunto, existem assuntos mais relevantes e menos relevantes e ambos podem ser perfeitamente complementares.

    Donde, não há nenhuma confusão geral, os assuntos não assumem igual importância e nada fica branqueado. Este tipo de discurso (de Pinho Cardão) destina-se a confundir tudo misturando tudo na mesma panela. Sem êxito!

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  7. Resumindo : reestrutura-se a dívida para que os devedores não paguem e, em vez deles, paguem os credores. Caro Pinho Cardão, os seus leitores têm que dizer qual é a parte que não percebem

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  8. Penso que o Manifesto é além de uma defesa da Reestruturação da Dívida, também uma critica às politicas da Troika.
    Ao contrário do que a Troika tinha defendido, os portugueses têm empobrecido.


    Há alguma esquerda que diz que um dos objectivos dos nossos credores, é comprar a preços de Saldo empresas Nacionalizadas.

    Na minha opinião, é não só empresas Nacionalizadas, mas também comprar a preços de Saldo empresas privadas.
    São várias as falências, mais do que as esperadas. A insistência da Troika em não aumentar o Poder de Compra (via Ordenado Mínimo), tem agravado a situação. De pessoas em primeiro lugar, mas de muitas empresas.

    Haver vozes da parte da CIP e outros empresários, além de pessoas e economistas de Direita neste manifesto, talvez seja uma indicação que "os ventos estão a mudar".
    Espero que sim.


    nota: não tenho objectivos partidários com este comentário, longe. Embora tenha as minhas preferências politicas como muitas pessoas.




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  9. Esta crítica do manifesto é bastante mais medíocre que o manifesto. Convém que os críticos deste manifesto respondam a uma poergunta:
    Acham possível a manutenção de uma política de austeridade durante 30 a 40 anos em democracia?
    Os 20 anos do Cavaco são uma fantasia. Aqueles excedentes e aqueles crescimentos económicos são uma fantasia e mesmo esses números davam para 20 anos! Anda por aqui muita gente enganada e pior, alguns a crer enganar muitos. A reestruturação da dívida será um facto no futuro. Não existe outra solução.
    Antes um albergue espanhol com meia dúzia de ideias sensatas que especializações enganosas.
    E aquela história do timing...É um dos piores argumentos que existe contra a liberdade de expressão.

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  10. Esta crítica do manifesto é bastante mais medíocre que o manifesto. Convém que os críticos deste manifesto respondam a uma poergunta:
    Acham possível a manutenção de uma política de austeridade durante 30 a 40 anos em democracia?
    Os 20 anos do Cavaco são uma fantasia. Aqueles excedentes e aqueles crescimentos económicos são uma fantasia e mesmo esses números davam para 20 anos! Anda por aqui muita gente enganada e pior, alguns a crer enganar muitos. A reestruturação da dívida será um facto no futuro. Não existe outra solução.
    Antes um albergue espanhol com meia dúzia de ideias sensatas que especializações enganosas.
    E aquela história do timing...É um dos piores argumentos que existe contra a liberdade de expressão.

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  11. Anónimo08:53

    O que mais lamento nestes panfletos é que se perca tanto tempo e gastem-se tantas energias a tentar descobrir formas de não pagar aos credores (com todos os efeitos que isso tem) ou pagar mais tarde ou seja o que for, energias e tempo esses que podiam e deveriam ser usados na avaliação do que está mal na economia Portuguesa e em apresentar propostas para tornar Portugal num país atractivo para o investimento, um país capaz de produzir riqueza e, por corolário, um país mais rico e com melhores condições de vida para todos.

    Um é o miseravel caminho da pobreza. O outro o glorioso caminho da prosperidade. Dá-me pena que tantos optem pelo miserabilismo...

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  12. Os subscritores do manifesto, gente com agenda própria no que gastos do estado diz respeito, conseguiram a mesma coisa que os criacionistas americanos: que a estupidez seja discutida como assunto sério só porque sua exas. querem sacar mais algum do dinheiro dos pobres para as suas volumosas e indecentes reformas.

    Claro que a estupidez só tem a ganhar em ser discutida... e a prova aí está, até o Santana Lopes já fala de dívida pública. Imagino que amanhã venha o Jorge Jesus e o Nelo Monteiro.

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  13. Alguns dos críticos mais impacientes deste manifesto exigem que os velhos que o subscreveram saiam da frente e deixem trabalhar os mais novos.

    Será que nesses mais novos se inclui Miguel Relvas, o especialista de que Passos Coelho não prescinde ?

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  14. Como se demonstra....

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  15. Tonibler, soberba a comparação com o que se passa nos EUA. "Na mouche".

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  16. Caro Pinho Cardão

    A liberdade de expressão é exactamente isso mesmo: liberdade para poder exprimir opinião. O conceito de oportunidade é uma questão de quem profere ou ouve e mas não faz parte da liberdade de expressão. Era o que faltava que, a minha liberdade fosse condicionada pelo que, outros consideram como sendo oportuno.
    Nenhum dos subscritores é titular de cargos políticos por eleição geral e, pelo que me recorde nenhum deles tem, sequer, cargos que se relacionem com o pagamento da dívida, ou cumprimento do memorando com os credores. Para o credor, este "pequeno" facto, faz toda a diferença, como se viu pelo comportamento do juros.
    A reestruturação da dívida se e quando suceder, apenas será a confirmação do falhanço das políticas prosseguidass pelas duas geraçoes que governam desde o 25/04.
    Este manifesto é um mea culpa que, sendo essencial no catolicismo do sul da Europa ( mais vale tarde que nunca) tem o problema de não dar de comer, nem saldar dívidas.
    Por isso, é mais reprodutivo equacionar até quando será politicamente sustentável podermos seguir esta estratégia e em que circunstâncias e com que requisitos, podemos ter argumentos negociais para colocar na agenda das negociações com os credores.
    Cumprimentos
    joão

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  17. Invocar a oportunidade para falar no direito à liberdade de expressão no que respeita aos 70 signatários, só por ironia. Pois não estão eles, dese há anos a esta parte, em tudo o que é jornal, rádio ou televisão? Tem algum deles qualquer dificuldade em exprimir publicamente o seu ponto de vista?
    O joão Jardine é que eu não vejo nas televisões. E teria tanto direito de aí se expressar quanto eles.
    Portanto, direito à expressão pública das ideias não sou eu ou o meu amigo que o definem. Quem o define é o critério jornalístico. E que critério!
    Abraço

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  18. Também não me parece que a liberdade de expressão esteja em causa. Não se pode esperar é que a liberdade de expressão de uns lhes dê uma qualidade mínima automática. O facto de haver liberdade de publicar horóscopos, peças de validade científica muito superiores à do manifesto, não quer dizer que se considere orientar as finanças públicas em função do alinhamento planetário.
    O manifesto é um peça de burrice profunda e deve ser vista como tal. Mas a liberdade de ser burro, intensamente praticada durante anos pelos subscritores, essa não mudou em nada.

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  19. Só agora pude ler o dito manifesto. Enfim, mais uma prova da mediocridade das nossas elites. É triste.

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