quarta-feira, 5 de março de 2014

O estranho paradoxo da política económica na Venezuela...

1. Têm sido notícia quase diária as manifestações de protesto na Venezuela, ao que parece motivadas por uma forte insatisfação de uma parte expressiva da população quanto ás condições de vida naquele modelar País.

2. Segundo as informações disponíveis (vide, entre outras fontes, a edição do F. Times de hoje), a situação económica está mergulhada num caos: (i) taxa de inflação anual superior a 50% (segundo fonte oficial, se for considerada a chamada “pent-up inflation” talvez chegue aos 100%); (ii) enorme escassez de divisas, da qual resulta que a taxa de câmbio USD/Bolivar seja no mercado paralelo cerca de 14 vezes a taxa oficial; (iii) escassez de produtos de consumo corrente e duradouro, devido a uma política de controlo administrativo dos preços dos produtos, levando à formação de extensas filas no exterior das superfícies comerciais e aos conhecidos fenómenos de açambarcamento...

3. Recordo-me de ter lido há pouco tempo no mesmo F. Times notícia que dava conta de um episódio curioso: uma vez que os preços administrados dos bens de consumo duradouro são artificialmente baixos, quando considerada a taxa de câmbio do mercado, existem grupos de contrabandistas que se encarregam de comprar produtos nas lojas venezuelanas (electrodomésticos, por exemplo) para depois os venderem em países vizinhos (era citado o caso da Colômbia) fazendo com isso chorudos lucros...

4. Trata-se de uma situação inexplicável, direi mesmo PARADOXAL, se atentarmos nas bases em que assenta a política económica do País:

- Forte aposta na procura interna como meio de dinamizar a actividade económica, através de uma política muito generosa de expansão das despesas públicas, especialmente as correntes, financiadas por criação de moeda por um banco central muito colaborante, inundando o mercado com bolívares de grande qualidade estética;

- Controlo administrativo dos preços dos bens de consumo corrente e duradouro, para defesa dos mais carenciados, quando necessário nacionalizando as redes de distribuição ou enviando tropas para os mercados a fim de fiscalizarem “in loco” o cumprimento dos controlos de preços;

- Nacionalização de múltiplos sectores económicos, em ordem a assegurar que a produção segue padrões de interesse nacional e patriótico e não necessariamente aquilo que o mercado lhe impõe;

5. Se bem se percebe, esta política corresponde ao que de melhor tem sido sustentado por muitos sectores dos mais esclarecidos em Portugal, nomeadamente os Crescimentistas “HARD”, uma boa parte dos Crescimentistas “SOFT” e mesmo alguns sectores particularmente sensíveis ás chamadas questões sociais e que invariavelmente apelam ao Estado para que acuda (atirando dinheiro, claro) a toda e qq situação de dificuldade dos grupos sociais mais diversos...

6. Esta política tem todas as condições, segundo a cartilha Crescimentista, para assegurar a felicidade do Povo, cobrindo-o de benefícios e de generoso apoio social...só falta mesmo a mutualização de uma parte da dívida pública ou a reestruturação da mesma, para completar o painel...

7. Absolutamente paradoxal, o insucesso desta politica na Venezuela... Será o resultado de uma conjura internacional, de inspiração capitalista ou fascista como se queixa o governo venezuelano?



9 comentários:

  1. Pelo que já vi escrito, trata-se de manifestações fascistas ou de agitadores a soldo dos interesses imperialistas e do capital financeiro que quer subjugar as forças patrióticas e o regime venezuelano. Pois são essas forças que manipulam a inflação e as taxas de câmbio...

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  2. São os mesmos fascistas de sempre...

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  3. Caro Pinho Cardão,

    E manipulam também , pelos vistos, o défice orçamental que não me ocorreu mencionar no Post: 16% do PIB, um nível absolutamente invejável para os nossos Crescimentistas! E quase totalmente financiado por emissão monetária...
    Que delícia, um tal Bloco & Associados deveriam entrar em êxtase, só de ouvir estes números!

    Caro Luís Moreira,
    Nem mais!

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  4. Por alguma razão o outro nos chamava de país irmão e ao Sócrates o maior político do mundo. E afinal, nós somos a prova viva de que há mais presidentes chavistas no mundo para além do Nicolas...

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  5. Caro Tonibler,

    País mano sempre me pareceu excessivo, para já não falar do outro epíteto, "maior político do Mundo", esse verdadeiramente espasmódico...
    País primo talvez, sobretudo agora em que a presidência dos primos está entregue a um Maduro (Tinto)...

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  6. E será que, com a saída da troika, estamos a chegar ao momento certo para isto:
    http://notaslivres.blogspot.pt/2014/03/solucao-2015-para-portugal.html

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  7. Caro Gonçalo,

    Sobre a "saída" da troika falaremos em próximo Post, se me permite...de qq modo, obrigado pela dica.

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  8. As suspeitas ou "bocas" Venezuelanas, baseiam-se que os modelos Keynesianos sempre deram resultado até meados dos anos 70, quando foram progressivamente postos de lado.
    E em vários papers e literatura.

    Em relação ao ponto 2 iii, é opinião do FT que a escassez se deve à politica de controle de preços (feita para controlar a inflação).

    O ponto 3, diz que a politica por outro lado é um sucesso. Vendedores de electrodomésticos e outros bens, vendem cada vez mais, pois "contrabandistas" compram para levar para o estrangeiro. Isto tem levado a chorudos lucros... dos vendedores e dos contrabandistas.
    (compreendo que a intenção era dizer mal, mas visto doutro ângulo é isso em cima, parece-me.)

    Quanto aos 16%, é realmente bastante excessivo.

    Talvez a nós portugueses, o que nos interesse é descobrir algo da verdade. Seja ela qual for.

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  9. A um judeusito,

    Excelente contributo, vê-se que acompanha o fenómeno com particupar atenção...

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