Guardar um segredo não é um mistério é uma fatalidade destinada a ser contada. Quando alguém se aproxima de nós e começa: - Sabe a melhor? Mas olhe que é segredo. Não conte nada a ninguém. Está bem? Não conta? - Não, não conto! Olham invariavelmente para os lados, para trás e, num sussurro muito típico, debitam o assunto que lhes atormenta a alma. A palavra é mesmo atormentar, porque muitas pessoas, exceto uma diminuta elite, não conseguem guardar um segredo e quanto mais grave ou mais tenebroso for mais dificuldade têm. Ficam aliviadas e deixam de "sofrer". Poderíamos pensar que são uns linguarudos do caraças, mas há evidência de quão penoso e perturbador é guardar um segredo.
Freud, que sabia bem do que falava, afirmou um dia que "nenhum mortal consegue guardar um segredo".
Então, por que razão é que as pessoas não guardam segredos? Guardar um segredo exige um grande esforço mental e obriga parte do cérebro a trabalhar nesse sentido. Ocupar parte do cérebro é um desperdício, assim como também é tentar não pensar nele, logo, o melhor é largá-lo na primeira esquina, na mesa do café, à janela que dá para a viela, à saída da missa ou através do telemóvel, só para citar alguns meios e locais. Tem é de ser feito em voz baixa, porque segredo é "segredo" e não pode ser transmitido em voz normal.
Algumas evidências apontam para alguma dificuldade na realização de testes ou de certas tarefas quando "obrigam" os participantes a guardar um segredo ou esconder algo de mais pessoal. Ou seja, é possível medir esses efeitos, que são nefastos para os seus portadores. Também se conseguiu quantificar que certos segredos, nomeadamente os de maior carga emocional, estão associados ao desencadear ou potenciar o aparecimento de certas doenças quer sejam agudas ou crónicas. Um fator desfavorável, negativo mesmo. No entanto, é possível estimular o sistema imunológico, com as vantagens decorrentes, se escreverem a propósito de experiências desagradáveis. Não há dúvida de que guardar ou não segredos tem impacto na saúde física e mental dos seres humanos. Veja-se o caso dos adolescentes que, ao confiarem os seus segredos ao amigo mais próximo ou aos pais, se tornam mais saudáveis, com menos tendência para a delinquência, são mais simpáticos e menos depressivos.
Por fim uma pequena observação sobre os "repressores", que alguém chamou "elite clandestina", e que são capazes de guardar os mais terríveis dos segredos de forma ímpar, a ponto de quase os esquecerem, evitando assim esforços desnecessários e libertando o cérebro para coisas mais úteis.
Agora compreendo melhor muita da calhandrice que anda por aí, mesmo ao mais alto nível. Afinal querem apenas "proteger" a saúde mental e física.
Pois querem!
Quando ouvirem: - Sabe a melhor? Mas olhe que é segredo. Não conte nada a ninguém. Está bem? Não conta? - Não, não conto! Considerem o ato, não como uma bisbilhotice, mas, como uma forma de se libertarem de um tormento que está a consumir os seus cérebros, já por si muitas vezes consumidos. E assim se explica a epidemia dos "segredos"...
Existem duas espécies de compulsivos: os que não conseguem guardar um segredo e o espalham aos 7 ventos e os que não descansam enquanto não descobrem os outros. Estou a lembrar-me de 2 historietas daquelas que nos infestam as caixas do correio eletrónico. Uma refere-se a um monge budista e ao seu discípulo que um dia lhe pergunta se já sabe do segredo que circula no mosteiro. à pergunta do discípulo, o mestre responde: -primeiro, tens a certeza de que o segredo conta uma verdade?
ResponderEliminar- segundo, aquilo que me queres contar beneficia de alguma forma a pessoa a que se refere?
- terceiro, o segredo que guardas, acrescenta alguma coisa à minha felicidade?
Trabalhei com uma colega que tinha o habito matutino de fazer a ronda pelas secções, com o intuito de atualizar a lista de "segredos" privilegiando os mais "cabeludos". Depois, usando o tal método descrito no post, ocupava-se com a "sementeira". Quando a via aproximar-se com "pezinhos de lã" e um sorriso malicioso, desconfiava imediatamente que vinha com o saco cheio. Parecia bruxo. Mal chegava ao pé de mim, dizia no tal tom de voz ciciado e olhando de ladecos, já sabe a melhor?
Respondia-lhe de imediato: não sei e não quero saber. Mas como por vezes a ânsia de despejar era tão grande, tentava apesar da minha resposta, começar a contar a novidade. Nessa altura dizia-lhe: não tens problemas na tua vida que não consegues resolver? Quando encontrares solução para os teus problemas, conta-me então os dos outros, pode ser que juntos consigamos encontrar solução para eles. Mesmo assim, notava que a inquietação por não ter cumprido o seu intento era enorme, acabando por desandar, em busca de outra vítima auditora.