quarta-feira, 30 de abril de 2014

Contas Externas: que nos dizem os dois 1ºs meses de 2014?

1.Os dados referentes às contas com o exterior, para os 2 primeiros meses de 2014, há poucos dias divulgados pelo BdeP, já nos vão dando algumas indicações quanto ao que poderá acontecer com esta variável crítica no corrente ano.
2. Recordo que o ritmo de correcção dos desequilíbrios com o exterior - o ajustamento externo de que se tem falado - tem sido a mais notável consequência do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) em vigor desde Maio de 2011...
3. ...concretamente, em 3 anos apenas, foi possível converter um enorme défice corrente (superior a 10% do PIB ainda em 2010) num superavit: isto surpreendeu muito boa gente, incluindo os credores internacionais que, valha a verdade, nunca regateiam elogios a esta radical mudança...
4. Em 2013 foram apurados os seguintes saldos nas contas com o exterior:
- Balanças Corrente + Capital = 2,6% do PIB
- Balança de Bens + Serviços = 1,7% do PIB
- Balança Corrente = 0,5% do PIB

5. Tratou-se de resultados excepcionais, muito melhores que o esperado, que revelam o formidável esforço (ou sacrifício) que Famílias e Empresas foram capazes de realizar, em impressionante contraste com o estilo anafado e reivindicativo das Administrações Públicas, de um modo geral, que defendem "à outrance" os privilégios alcançados à custa dos demais sectores..empurrando para estes todos os sacrifícios e, para cúmulo, queixando-se como se fossem as grandes vítimas!

6. Ora bem, aqui chegados, os primeiros resultados de 2014 (Jan e Fev) dizem-nos o seguinte:

- O saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital (- € 132 milhões) tem uma expressão ligeiramente pior que no mesmo período de 2013 (- € 28 milhões);

- O saldo conjunto das Balanças de Bens e de Serviços também se agravou, passando de - € 25 milhões em 2013 para - € 217 milhões em 2014;

- O saldo da Balança Corrente sofre igualmente um ligeiro agravamento, de - € 377 milhões em 2013 para - € 465 milhões em 2014

7. Estes dados não são muito significativos, ainda, mas permitem-nos antever que não será fácil, ao contrário do que algumas previsões sugerem, uma nova melhoria dos saldos das contas com o exterior em 2014...se forem como os de 2013, será muito bom.

8...não podemos esquecer que o ritmo crescente da actividade económica, com o consumo e o investimento a recuperarem, tem inevitável impacto neste plano; basta referir que apesar de as exportações de bens continuarem a evoluir a bom ritmo (+4%) as importações crescem mais rapidamente (+7,2%), do que resultou nestes dois primeiros meses um défice na balança de bens superior em € 314 milhões ao de 2013, embora parcialmente compensado por uma melhoria de € 122 milhões no superavit dos Serviços.

9. Como dizem os ingleses, "one cannot eat the cake and have it too"...
   

8 comentários:

  1. Vivo num mar de prosperidade e não dou conta disso. A propaganda que diariamente me atafulha a cabeça – desemprego, miséria, fome – esconde-me a realidade de um país grandioso e abundante.

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  2. Pois honras sejam prestadas aos ingleses pela lucidez do seu provérbio, o qual, trasladado para o nosso país teria forçosamente de ser retificado, substituindo a primeira palavra, assim, em lugar de "one cannot eat the cake and have it too" passaríamos a ter "several cannot eat the cake and have it too"...

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  3. Boa piada, caro Bartolomeu, boa piada, tem mesmo graça e (alguma, boa mesmo) aderência à realidade...
    Por falar em aderência à realidade, tem alguma informação quanto ao andamento das inscrições para o repasto do próximo dia 9?
    Será que vamos poder contar com alguns "ferozes" Crescimentistas para fazer frente aos hediondos neoliberais?

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  4. A minha caixa de correio eletrónico, continua estéril em matéria de aderentes ao repasto, caro Dr. Tavares Moreira.
    Nem ferozes, nem resignados; nem crescimentistas, nem minguistas... a crise é demolidora, meu estimado Amigo... demolidora!

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  5. Cito:
    "o estilo anafado e reivindicativo das Administrações Públicas, de um modo geral, que defendem "à outrance" os privilégios alcançados à custa dos demais sectores..empurrando para estes todos os sacrifícios e, para cúmulo, queixando-se como se fossem as grandes vítimas!"
    Não me tinha ocorrido.
    Quer dizer que não há coisa melhor do que as AP's, as EP's e, até, quem sabe, do que a Governança?
    Mesmo apesar do grande sacrifício pessoal e da sempre reivindicada dedicação à Pátria?

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  6. Pois parece que o estilo reivindicativo das administrações públicas tendo do seu lado o presidente de todos os 720mil portugueses venceu, a acreditar na estratégia orçamental para quando a troika se for embora agora anunciada. O chefe de estado pode agora orgulhar-se da saída limpa que ele conseguiu às administrações públicas. Foi limpinho, como diria o outro... O que vale é que isto não funciona como se quer, é como se pode.

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  7. o ps festivo das passeatas e a restante esquerda folclórica olham para o crescimento económico
    como se dependesse dos planos quinquenais de tipo urss

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  8. Caro Bartolomeu,

    A vida não está mesmo nada fácil... veja que até os bilhetes para a final da Taça da Liga esgotaram em 3 horas, após as bilheteiras terem aberto ontem...
    Espinhosa, inesperadamente espinhosa essa função de Secretário Geral, meu Caro!

    Caro João Pires da Cruz,

    Finalmente faz-se justiça aos funcionários públicos, atingidos por um maciço desemprego e por uma gigantesca vaga de emigração...

    Caro Inquieto,

    É capaz de ter razão em supor que esses "estados" serão as coisas melhores que podemos imaginar...

    Caro Floribundus,

    Sim, o crescimento económico é para uma boa parte desse universo um trabalho essencialmente burocrático. O valor acrescentado gera-se com uma boa circulação de papéis, pré-impressos de preferência, tão bem carimbados quanto possível...

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