1. A notícia financeira de maior destaque, hoje, é certamente a do regresso da Grécia ao mercado primário da dívida pública, com uma emissão de € 3 mil milhões, ao prazo de 5 anos: esta emissão teve o melhor acolhimento pelo mercado, traduzido numa procura que terá excedido € 20 mil milhões (quase 7 vezes o montante proposto), e numa taxa média de colocação ligeiramente inferior a 5%.
2. É curiosa esta recepção calorosa dispensada à Grécia, depois de uma ausência de cerca de 3,5 anos e de dois turbulentos resgates, o segundo dos quais em Fevereiro/Março de 2012, envolvendo uma dura reestruturação da dívida pública, que impôs aos credores privados elevadas perdas (forçados a um “hair-cut” de cerca de 50%)…
3. … cumprindo recordar os prejuízos elevados de alguns bancos portugueses que tinham investido em dívida helénica na convicção de que nunca deixaria de ser paga integralmente…
4. Este acolhimento quase caloroso dos mercados deverá constituir um estímulo para que a Grécia, apesar das imensas dificuldades com que se tem deparado para implementar as necessárias reformas - designadamente eliminando excessos quase obscenos de um “Estado Social”, com benesses totalmente incomportáveis (como os 16 salários a funcionários públicos) - prossiga o programa de reformas que já lhe permite apresentar um saldo orçamental primário positivo.
5. Este estímulo poderá ser importante, numa altura em que a dívida pública grega, embora detida em mais de 80% por credores oficiais, atinge a elevada fasquia de 175% do PIB (compara a 130% para Portugal e Itália), e a economia carece ainda de reformas ao nível dos mercados de factores e de produtos que lhe facultem maior agilidade e um crescimento sustentado.
6. Por cá o “mood” é outro, prossegue a ofensiva primaveril dos 74 ou + proponentes da reestruturação, os quais ainda ontem fizeram deslocar à AR uma respeitável delegação para depositar a sua mensagem de esperança no Parlamento.
7. O exemplo da reestruturação da dívida grega, que levou as taxas de juro implícitas na cotação da dívida (yields), no prazo de 10 anos, para níveis superiores a 30%, constituirá certamente um forte estímulo para que em Portugal se dê finalmente ouvidos a esta oportuna e patriótica proposta.
Mais “hair-cut”, menos “hair-cut”, acho que os gregos foram modestos no montante da emissão da dívida pública. A não ser que estejam a pensar empregar a velha tática lusitana de «deixós poisar».
ResponderEliminarAgora, o que acho verdadeiramente extraordinária, é a baixa taxa de colocação; uma conquista de que Portugal, apesar da sua taxa da dívida, relativamente ao PIB, ser manifestamente inferior, só foi conseguida, à custa de muita fome passada pelos Portugueses.
Mas não deixo de estar sintonizado com o meu estimado Amigo, Dr. Tavares Moreira, no que diz respeito à proposta de reestruturação da dívida portuguesa. Assim como assim, quem já entregou os aneis e os dedos, faz mais um pequeno esforço e entrega o resto...
Caro Bartolomeu, não consigo pensar em quem mais estaria depositada a responsabilidade de pagar a dívida atendendo que, ao que sei, quer a assinatura do Sócrates, quer a do Cavaco foram lá impostas por nós e não pelos holandeses...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira, mesmo com as notícias de que não é independente da taxa a adopção do direito inglês na emissão, que impede essa coisa de "ah hoje não me apetece", parece-me que as autoridades europeias encarrilaram bem para a resolução do problema da dívida. Faltam os problemas que levaram à dívida, mas isso vai ser outra guerra. E nesse sentido compreendo perfeitamente os 74. É que o prazo para serem relevantes está a acabar, se é que não acabou já. Como andar a apelar ao default com um mercado da dívida regularizado? E porquê apelar à reestruturação quando se pode rolar dívida todos os dias? Afinal, a nossa tolerância aos ignorantes atrevidos também acaba um dia...
Afinal, a reestruturação da dívida grega, com perdas de cerca de 50%, como diz, deu resultado, positivo, para a Grécia. Afinal foi bom...
ResponderEliminarPorque é que não é bom para Portugal?
Para a Grécia não foi de certeza, muito penaram e continuam a penar. Já para o estado grego parece ter sido neutro. É a história da europa do sul, certo? Estados gordos, funcionários a viver à grande e povos empobrecidos e esmagados pelos encargos. O princípio da igualdade segundo os PIGS.
ResponderEliminarNão posso deixar de concordar consigo no que respeita às responsabilidades pelas assinatura dos contratos, caro João Cruz. Os maestros foram os citados, coadjuvados pelos contralto das finanças, os barítonos da economia, os contrabaixo dos negócios estrangeiros e mais uns quantos avulso que em Bruxelas desafinaram pa caramba. Em suma, varias orquestras sinfónicas que nunca atinaram com o andamento certo porque a sacana da batuta tanto dava a indicação aos violinos como aos trombones. Uma chinfrineira que deu no que deu e no que ainda irá dar.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarA relação que o meu preclaro Amigo estabelece entre baixa taxa de colocação de dívida e o conceito de "muita fome", aparentemente apenas para o caso português - operando uma curiosa distinção entre o fenómeno da fome, na Grécia (não aconteceu?) e Portugal - soa a soarismo abrilista...será mesmo assim?
Caro SC,
Não deixa de ser curiosa essa conclusão, que consegue "saltar por cima" dos dois anos que se seguiram à reestruturação da dívida da Grécia, com "hair-cut", e esta emissão de dívida...
Evitando, assim, os níveis estratosféricos das taxas de juro (yields) da dívida grega que nesse "ínterim" se verificaram!
Com esse método de erradicação laboratorial da turbulência financeira, não será difícil construir os mais saborosos cenários de reestruturação da dívida...
Caro João Pires da Cruz,
Não deixa de ser interessante a coincidência do seu comentário com a notícia de hoje segundo a qual Portugal terá sido o país da OCDE com maior subida da carga fiscal em 2013...
Mas, para a grande maioria dos comentadores que paradoxalmente zurzem agora este aumento da carga fiscal, o Estado tem ainda muito mais para fazer, muito mais que gastar e sobretudo que distribuir muito mais!
Não há volta a dar-lhe!
Pode "soar" a tudo aquilo que se queira, caro Dr. Tavares Moreira, no espectro político desde a "esquerda" à "direita". Agora, aquilo a que não soa por se tratar de uma evidência clara, é a fantasia, ou a manobra demagógica. Acusam-se os "portugueses" de responsáveis por uma grande cota-parte da dívida, muitos acham até que os mesmos viveram durante largo tempo, criminosamente acime das suas possibilidades. Talvez por terem cometido essa infâmia sofram agora o castigo de pagar com cortes nas magras pensões, a tal dívida. Na verdade, caro Dr. Tavares Moreira, meu estimado Amigo; os portugueses gastaram acima das suas possibilidades, mas os governos, gastaram ainda mais, incomparavelmente mais, acima daquilo que podiam, daquilo para que o povo inculto, manso e confiante, baseado na palavra dada, os elegeu.
ResponderEliminarJá disse uma vez, volto a dizer: não sou filiado em qualquer partido e não sigo qualquer ideologia política, limito-me a constatar a realidade, a pensar e a manifestar desacordo com aquilo que em consciência me "soa" mal.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarEste tipo de querelas, em torno da responsabilidade pelos excessos que levaram o País em que vivemos a uma situação de absoluta ruptura financeira e à necessidade de negociar um resgate que impôs sacrifícios a muita gente, nunca será tema pacífico nem consensual.
Mas o que diz é bem verdade, na minha perspectiva: a maior quota de responsabilidade foi para Governos que gastaram a seu bel-prazer enquanto se puderam endividar, atirando dinheiro para cima de problemas...MAS...
Este último MAS tem a ver com a corresponsabilidade dos cidadãos que acharam sempre muita graça - e continuam a achar - aos governos que mais gastavam...
E assim continuará a ser, meu caro Amigo: veja a enorme pressão que diariamente é feita, nos mais diversos órgãos de comunicação social, para que o Governo acorra em favor das mais variadas necessidades, em qq canto do País, "esquecendo" que quando apontam ao Governo estão inevitavelmente apontando aos nossos bolsos...
O último MAS, pertence também à classe dos temas onde não se logra atingir o consenso, estimado Amigo.
ResponderEliminarVejamos: das necessidades para as quais se exige do governo a solução - mesmo que seja no mais recôndito canto do país - uma parte significativa, faz todo o sentido que seja reivindicada. Isto porque, como bem sabe, os impostos sobre os bens, o consumo e os rendimentos que nos são cobrados pelo governo e que são cobrados também ao comércio e à indústria, assim como às várias outras atividades, tem como finalidade "sustentar" os órgãos e serviços do estado, os quais têm a função de manter em funcionamento tudo o que seja de uso e utilidade comum, público.
Ou seja; O "bolo" dos impostos de vária ordem que são coletados pelo organismo do estado competente, têm por finalidade, fazer face às despesas com a saúde, a educação, a segurança, a justiça, etc. O que verificamos na realidade, caro Amigo, é que, para o essencial, o governo corta sistematicamente as dotações orçamentais, obrigando a que os responsáveis pelos serviços, se vejam obrigados também a fazer cortes nas despesas, resultando a menor qualidade dos serviços que prestam e por conseguinte, a dar aso a que a imprensa se faça voz (nem sempre com a sensatez e isenção que seria eticamente esperável e desejável) das necessidades e anseios das populações. Por outro lado, o governo continua a esbanjar uma parte significativa do dinheiro dos impostos dos portugueses com despesa de vária ordem, algumas que podemos considerar vergonhosas, até.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarA única limitação que existe para que redução dos orçamentos possa levar a menor qualidade prende-se com o princípio da igualdade de Belém de que os cidadãos que servem o estado estão acima de qualquer outro. Há um bolo para gastar com serviços de educação, segurança, justiça, etc. em que uma parte é para vencimentos e outra para FST's mas todos são pagamentos a privados. Se está a haver problemas de qualidade, e como os vencimentos estão todos na mesma, então tem que se cortar nos vencimentos para melhorar a qualidade, porque já se cortou demais nos FST's.
Ora aí está, caro João Cruz, uma opinião que não sendo inteiramente na mesma linha daquilo que comentei, é-lhe paralela, acabando por convergir.
ResponderEliminarIsto bem falado, de preferência em torno da mesa de um simpático restaurante, acabaríamos por converter o nosso estimado Dr. Tavares Moreira ao princípio da homogeneidade...
A propósito... desde o ano passado, que não nos juntamos para degustar uma almoçarada. Ainda há dias propus ao nosso estimado Amigo Prof. Massano Cardoso, um almoço na sua caverna gastronómica, com a participação dos quartarepublicanos que se dispusessem nesse dia a envergar a capa e o bordão de romeiros gastronómicos.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarImportaria aprofundar a temática do esbanjamento de recursos que o ilustre Amigo imputa ao Governo (chegando a apodar alguns desses gastos de vergonhosos) - para melhor percebermos onde será possível, e certamente recomendável, gastar menos ou muito menos.
Relativamente à sugestão ínsita no seu último comentário, de degustarmos uma almoçarada, creio que vem perfeitamente a propósito, merece mesmo o meu mais caloroso aplauso.
Vamos então a isso: Dom Feijão ou FUSO, são a minha sugestão de mesa.
Quanto a datas sugiro após o 25/IV, até para podermos comentar as múltiplas incidências que a celebração dessa famosa data por certo vai proporcionar.
A pergunta com que o meu estimado Amigo, Dr. Tavares Moreira, inicia o seu comentário, é retórica, suponho. Digo isto com base no reparo que o caro Dr. faz no comentário anterior à pressão exercida sobre o governo, pelos órgãos de comunicação social. Essa pressão é quase sempre baseada na denúncia dos negócios ruinosos com o sector privado; ou desbaratado em obras públicas que economicamente não fazem qualquer sentido, as despesas com institutos e observatórios´, alguns que nem sequer existem fisicamente, as mordomias com determinados órgãos do estado e para não aprofundar mais a questão, porque não é necessário - os órgãos de comunicação social fazem-no à exaustão - as reformas milionárias. Todos os dias entregamos ao Estado uma parte significativa dos nossos rendimentos sob a forma de impostos. Só ainda não pagamos imposto por respirar, mas a seu tempo lá chegaremos, e acreditamos que o governo irá gerir esse dinheiro de forma conscienciosa. Porém, entra pelos olhos dentro de qualquer um, que não é isso que sucede.
ResponderEliminarQuanto à segunda parte, que é bastante mais consensual, devo dizer que gostei imenso da cozinha do D. Feijão, daí qualquer uma das opções apresentada pela minha parte, é SIM!
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarLá valeu alguma coisa o meu desafio retórico...o meu Amigo apontou, certeiramente, algumas áreas de despesa supérflua ou verdadeiramente inútil.
Mas duma coisa pode estar certo: no dia em que for efectivamente decidido cortar a sério nessas superfluidades ou inutilidades, vão "cair o Carmo e a Trindade", vai ser um nunca mais acabar de ruidosos protestos, alacremente publicitados e adubados por uma inenarrável comunicação social...
Registo, com gosto, a sua democrática anuência à sugestão de local para o repasto.
Falta agora saber a questão da data bem como a composição do Secretariado para a organização de tão relevante acontecimento.
D. FEijão, essa vítima das políticas austeritaristas impostas pelo imperialismo capitalista. É bom porque deve estar às moscas...
ResponderEliminarSim, caro João Pires da Cruz, já me disseram que corre um peditório entre os escassos frequentadores do restaurante para que os proprietários/gerentes o possam manter em funcionamento...
ResponderEliminarÉ um caso típico, ou pequeno negócio/vítima típica se quiser, das impiedosas medidas de austeridade, inspiradas por uma cega política neoliberal, com a cumplicidade dos especuladores do mercado de capitais e das agências de rating!
Já nem atendem o telefone para reserva de mesa, de tão cansados estão por esperar clientes que tardam em aparecer...