Ontem e hoje é notícia (quase ignorada) o facto
de as taxas de juro da dívida pública portuguesa terem atingido níveis muito
baixos: concretamente, no caso da dívida a 10 anos, a taxa de juro implícita
na respectiva cotação (yield) situa-se hoje em 2,906%, o mais baixo de
sempre.
Numa altura em que a atenção da vida política
nacional se encontra voltada para e dominada por factos extremamente negativos,
que denunciam a enorme vulnerabilidade do processo de selecção de elites
políticas e administrativas, é consolador receber notícias como esta,
mostrando que nem tudo vai mal neste confuso País…
É certo que por detrás desta evolução muito favorável
das taxas de juro da dívida se encontram factores não nacionais – a expectativa
de uma mais pesada intervenção do BCE nos mercados, nomeadamente de dívida
pública, à imagem do que tem acontecido com outros bancos centrais (FED e
Banco do Japão, por exemplo); a “furiosa” procura por activos que
proporcionem um rendimento mais elevado, por parte de grandes investidores
internacionais…
…mas isso não deverá constituir motivo de desvalorização
desta boa notícia que, como já aqui referi, está contribuindo para um
desempenho das contas externas melhor do que o previsto, através de uma
significativa redução do défice dos rendimentos…
Basta notar que, sendo certo que tanto as dívidas
da Irlanda, em 1º lugar (yield equivalente já abaixo de 1,5%) como também da
Espanha (yield em 1,9%) e da Itália (yield em 2,2%) vêm beneficiando
igualmente desta tendência, já a yield da dívida da Grécia permanece em
patamares muito elevados (acima de 8%), claramente em resultado de factores nacionais
que impedem que esse País beneficie desta mesma tendência de descida dos
juros.
O que significa, pois, no nosso caso, que
factores nacionais também pesam nesta evolução, designadamente o esforço que,
contra ventos e marés, foi feito no sentido de dar cumprimento aos
objectivos consignados no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro…
Há só um dado menos positivo nesta evolução, que
consiste no apagamento das teses reestruturacionistas…todavia, os distintos autores dessas teses já terão
perdido a esperança a partir do momento em que as altas chefias do (ex?)
Crescimentismo ordenaram, “sine die”, a sua recolha ao congelador…
o efeito da limpeza socrática dá "confiança" aos "investidores"
ResponderEliminarQuer dizer que a subida do índice da nossa Bolsa e a baixa da taxa de juro da nossa dívida pública, nada têm a ver com o escândalo que corre nos meios políticos. Ainda bem: conheço quem já se preparava para sugerir mais detenções.
ResponderEliminarIsto é tudo manobra dos interesses austeritaristas e da política imperialista da sra. Merkel, que começou com o arquivamento da queixa contra as agências de rating.
ResponderEliminarClaro que o manifesto pela reestruturação continua válido. Afinal não era não pagar, era só aumentar o prazo. Uma operação destas tinha três vantagens, uma era o estado pagar menos. Outra era os credores receberem a mesma coisa, quiça mais ainda. Finalmente, permitiria a implementação de políticas de crescimento como aumentar os funcionários públicos, reduzir-lhes o horário de trabalho e os impostos, sem aumentar a despesa. Só quem não compreende as epistemologias do Sul é que não percebe isto!
Caro BICIFILA,
ResponderEliminarDisso não estou tão certo ou nada certo, mesmo, mas creio que, felizmente, esse tema pouco relevará como "driver" do comportamento dos agentes económicos...
Caro Tiro ao Alvo,
A subida do índice bolsista, no caso português, é bem pouco entusiasmante: trata-se de uma "subida" em queda, ou seja de uma "subida" de sinal negativo...por aí não conseguimos retirar qualquer conclusão positiva.
Caro Pires da Cruz,
Faz bem em lembrar essa dolorosa notícia do arquivamento da queixa-crime contra as agências de rating que um grupo de notáveis, todos patriotas de relevante folha de serviços, há mais de um ano depositou junto do Ministério Público, na altura sob grande alarido dos "media".
Esse arquivamento terá sido um dos momentos mais negativos na nossa história de tantos séculos; e é verdadeiramente lamentável que a comunicação social, depois do alarido inicial, tenha agora conferido tão pouca importância a este tristíssimo episódio.