Curioso é que o mais relevante da sessão de ontem do Inquérito
Parlamentar ao BES resultou das intervenções dos inquiridos, Ricardo Salgado e
José Maria Ricciardi, e não da inquirição dos senhores deputados.
Não segui toda a maratona, seria impossível, mas do que pude acompanhar e li verifiquei que a
grande preocupação dos senhores deputados prendia-se com datas, conversas e
interlocutores, numa competição fastidiosa em que cada deputado procurava ser o
campeão. Quando se chegava a algum tema de maior relevância, por exemplo a
avaliação ou o valor de bens dados em garantia logo se via a impreparação dos
senhores e das senhoras. Para não falar da carga ideológica subjacente que fez
um deputado referir que não lhe importava saber quem tinha perdido na queda do
BES, o que lhe interessava era algo de muito diferente, como se Fundos de
Pensões destinados a pagar reformas não interessassem a milhares de trabalhadores reformados. Pelos vistos não, que Fundos de Pensões devem ser incompatíveis com os verdadeiros trabalhadores.
Questões sobre o modo como se organizava o Grupo, ligações entre as
empresas, participações recíprocas, prestações internas, capitais próprios, endividamento
consolidado e das partes, evolução do endividamento, investimentos, correlação
da dívida versus investimentos, participação do BES, dos Bancos do Grupo e dos
clientes nos investimentos e na dívida do Grupo, etc, etc, e outros aspectos
relevantes essenciais para explicar o sucedido e a evolução da situação, nada
disso foi perguntado. Coisa pelos vistos de somenos importância,
que saber a causa das coisas para poder corrigir pouco parece importar à inquirição. Importante é mesmo verificar
datas, conversas e conversinhas, que o fim parece ser incriminar, o Governo ou o Banco de
Portugal ou defender a actuação de um ou de outro.
Sinal de que a Comissão nasceu com nome e propósito errado: em vez de
se chamar Comissão de Inquérito à Gestão do BES e do Grupo Espírito Santo
deveria pois mudar de nome para Comissão de Inquérito aos actos do Governo e do
Banco de Portugal na intervenção
no Banco e no Grupo Espírito Santo.
Pouco vi. Mas do que vi e ouvi, pareceu-me haver de tudo. Perguntas interessantes e algumas anedóticas. Intervenções de deputados que, correndo embora o risco de ser injusto, gostam de se ouvir mas não devem fazer ideia do que estavam a dizer. Muito menos a perguntar.
ResponderEliminarMas gente mal preparada na política, é o que há mais...
Não está a ser nada injusto, caro Ferreira de Almeida: eles gostam sobretudo de se ouvir.
ResponderEliminarMas, claro, houve algumas perguntas pertinentes, a excepção para confirmar a regra.
Mas confrange muito a insistência em minudências sem interesse, a intrigalhada subjacente em algumas questões, e a verificação de que Peter estava certamente a pensar nalguns dos inquiridores quando formulou o seu princípio....
Há, e por vezes tiravam de imediato conclusões gerais!
Mas o que se passou ontem, e hoje, é caso para admiração desde quando?
ResponderEliminarSe até a Justiça está completamente partidarizada, direi, balcanizada, na qual, a uma fuga informação de uns aos seus (um segredo de justiça revelado no momento conveniente) se segue outa fuga de sentido contrário, ganhando no balanço final a facção mais poderosa? Porque na política pura deveria ser diferente?
E na sociedade é diferente?
E nas redes sociais é diferente?
Os deputados não são o espelho da nação?
O que se passa no dia-a-dia não é simplesmente a desvalorização de um dado acto se é praticado pelos nossos e a supervalorização se é praticado pelos outros?
Para o que é fundamental a marcação permanente das agendas mediáticas, através da compra de jornalistas, ou através dos «posts» criteriosamente selecionados para o fim em vista.
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P. S. Que impacto teve a notícia abaixo na blogosfera («DN apaga notícia online»)?
Até o próprio teve o desplante de perorar nos ecrãs da TV sobre o assunto, passando por este facto como «cão por vinha vindimada»…
Aqui: http://aventar.eu/2014/12/09/dn-apaga-noticia-online/
Não é há, mas ah! no meu comentário anterior.
ResponderEliminarAh, e por vezes tiravam mesmo conclusões gerais...
Carlos Gaspar, o especialista do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, escreve um artigo hoje no jornal «Público», intitulado «Soares e os complexos da nova direita», que nos ajuda a compreender o «post» e o resto que refiro no meu comentário anterior.
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão,
ResponderEliminarConcordo que é estúpido ter aqueles iliterados todos, na altura em que as investigações ainda correm e em que todas as consequências estão por tirar, a falar do que não sabem só para aparecer na televisão. É uma violação clara do princípio "mais vale estar calado e parecer burro que abrir a boca e prová-lo".
Mas o inquérito ao Banco de Portugal vai ter que ser feito porque dificilmente se encontra uma história de incompetência, seja ela estrutural, seja ela devido aos protagonistas, como aquela que se assistiu. A do Constâncio, que era péssima, comparada com esta até parece uma brincadeira.
Caro João Pires da Cruz:
ResponderEliminarEu apenas me referia ao nome oficial da Comissão...