Segundo a imprensa on-line de ontem, um conhecido
(e veterano) político da oposição, cujo nome tem por iniciais JS, teve
esta interessante afirmação: “ Saída do Euro deve ser estudada, sem aventuras e
caso se justifique”…
Imagino o calafrio que terão sentido os arautos da
saída do Euro (uma saída “ordenada”, segundo afirmam…) ao escutarem esta
opinião de um político habituado a assumir posições marcadas
por manifesto radicalismo…
A ideia da saída “ordenada” do Euro é algo de particularmente
delicioso de ouvir, mas que os proponentes não explicam: na dúvida, poderá
ficar-se com a ideia de que se tratará de uma saída acompanhada por
contingentes da PSP e da GNR, de forma a assegurar a transição pacífica dos cidadãos, do
espaço Euro para um espaço não-Euro, verificando em especial se são portadores da necessária "guia de marcha"…
Mas, quanto à declaração referida no ponto 1,
aqui fica o repto aos ilustres Comentadores para, caso tenham paciência
para tal, identificarem o seu Autor…
Em 1581 Portugal rendia-se a Espanha. Em 1992 capitulava aos pés de uma Comissão Europeia crescentemente instrumentalizada pela Alemanha. Não houve referendo, os eleitores não foram consultados. As elites portuguesas, que esperavam vir a beneficiar largamente dos fundos estruturais europeus, entregaram levianamente a nossa moeda - e com ela a soberania monetária. O resto é história. A partir de 2008, a Comissão Europeia, cortando com toda a sua tradição anterior, tornou-se um órgão ao serviço do novo poder. A economia Portuguesa, asfixiada pelo novo marco, sucumbiu. Mas a tragédia tinha sido anunciada. Na década de 90 várias vozes tinham-nos alertado para os perigos da adesão à moeda única. Uma das mais destacadas e consistentes foi a do Professor de Economia João Ferreira do Amaral. O tempo, infelizmente, viria a dar-lhe razão - e concretizaram-se as suas mais negras previsões. Mas não temos de nos conformar. Podemos e devemos sair do Euro. Explica-nos como e quando; enuncia as condições que têm de estar reunidas para o fazermos com sucesso; e aponta os caminhos para um Portugal pós-Euro. E na mesma medida em que apoia a nossa permanência na União Europeia (com a devida distância) reivindica a imperiosa saída do euro como a única solução possível para recuperar a autonomia. E ultrapassar a crise.
ResponderEliminarSem que me considere - nem de longe - um ilustre seja o que for e ainda menos, comentador, pergunto: e porque não?
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira:
ResponderEliminarCreio que o controleiro do Jerónimo de Sousa já anda atrás dele a pedir satisfação pela afirmação produzida. E ainda teremos uma auto-crítica, não tarda. Caso contrário, as minhas homenagens ao Jerónimo, pelo bom senso evidenciado.
Caro Carlos Sério:
O Professor de economia Ferreira do Amaral, como lhe chama, não tem razão nenhuma no que diz e repete. Arranjou simplesmente um nicho de mercado onde expõe e vende o seu produto. Altamente tóxico. Ficaríamos muito pior com a saída do euro, e estaríamos muito pior se não tivéssemos aderido ao euro.
Penso eu de que...e não sou eu que estou contra quem pense o contrário.
Mas não vejo qualquer ponta de racionalidade no que sustentam. Paciência...
O calaceiro, como lhe chamava o Sousa Tavares pai, deve ter percebido que nada o impede, nem a ele, nem ao Ferreira do Amaral, de saírem do euro. O que eles reclamam é que eu saia do euro, coisa que não vai acontecer. Agora, quem quiser sair do euro pode faze-lo amanhã mesmo, principalmente o Ferreira do Amaral que pode ir pedir ao estado que lhe pague em obrigações de tesouro sem taxa de juro. O contribuinte ficará muito grato ao ilustre professor por ter aprendido as vantagens de sair do euro.
ResponderEliminarNa versão JS, à boa maneira da organização, "saída controlada" deve querer dizer que eu saio do euro mas o JS prefere ficar para o fim para ver o que dá. A mensagem é a mesma que para o professor FErreira do Amaral: não vai acontecer!
O meu amigo João Pires da Cruz está extremamente moderado. Diz que "Ferreira do Amaral que pode ir pedir ao estado que lhe pague em obrigações de tesouro sem taxa de juro".
ResponderEliminarEu diria, obrigações perpétuas, sem taxa de juro...
Meu caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarPortugal está no euro como os passageiros de 3ª classe estavam no Titanic: afundar-se-á com ele.
Citando-o: "Ficaríamos muito pior com a saída do euro, e estaríamos muito pior se não tivéssemos aderido ao euro." Se a primeira parte da sua asserção ainda é defensável - não deixando de ser discutível - já da segunda discordo completamente. Há abundante evidência empírica para afirmar o oposto. Vejamos, por exemplo o Reino Unido, o membro da OCDE actualmente com maior taxa de crescimento; se tivesse aderido, estaria hoje, muito provavelmente, em situação semelhante à de Espanha e Itália, economias menores mas comparáveis. Mas há um exneplo gritante, de que ninguém fala, talvez por estar resolvido: a Islândia, esse feliz país que nem da UE faz parte. Se acaso fosse membro da UE e da zona euro, teria ido compltamente pelo cano abaixo.
Mas não penso que devamos preocuparmo-nos muito com a saída ou continudade no euro: o curso dos acontecimentos fá-lo-á, muito provavelmente por nós. O euro acabará por explodir ou desintegrar-se,e ficará na História como tão maléfico como o famoso Padrão Ouro nos anos 30.
Já agora, recomendo esta leitura:
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/eu/11286161/The-euro-is-heading-for-disaster-what-luck-for-David-Cameron.html
Caro Pinho CArdão, o Ferreira do Amaral não era um dos subscritores mais activos do manifesto do calote? Então, só por ser para ele, podem ser a 10 anos.... depois a cada 9 aplicamos uma reestruturação daquelas "não é dizer que não pagamos, é dizer que pagamos mais tarde..."
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarA sua misteriosa interrogação "e porque não?" dirige-se a que ocorrência: a saída do Euro? A saída ordenada do Euro? A necessidade de estudo sem aventuras, advogada por JS?
Se estiver contemplando as duas primeiras ocorrências, fico a arder em curiosidade para conhecer melhor as suas sugestões, vindas de alguém habituado a olhar o Mundo de um invejável posto de observação da zona oeste...
As mais calorosas saudações!
Caro Pinho Cardão,
Devo admitir que JS tenha meditado longamente no assunto, de forma a evitar danos colaterais, como aqueles que refere, provenientes da ousadia de assumir uma atitude de alta prudência em matéria tão sensível para o Politburo...
Caro Pires da Cruz,
Quase perfeita a sua síntese não fora a omissão do elemento essencial entretanto (bem) lembrado pelo Pinho Cardão: a dívida a subscrever, no âmbito da saída "ordenada" do Euro, não pode ter prazo de reembolso, deverá ser do tipo "perpétua", embora possa ser reembolsada à opção do devedor...
O devedor, racionalmente, reembolsará essa dívida quando considerar que pode encontrar no mercado alternativas menos onerosas: dívida igualmente perpétua, mas com juro negativo...
A probabilidade desta última ocorrência é elevadíssima, como facilmente se adivinha...
Particularmente interessante o comentário de Alexandre Burmester no qual me revejo integralmente. É precisamente a implosão do euro o desenrolar que vejo para os acontecimentos. Incidentalmente a actual crise veio dar tempo de vida à moeda única ao mascarar as suas debilidades intrínsecas. Mas essa implosão é certa desde o exacto dia em que o euro nasceu.
ResponderEliminarSerá complicado, duro e mau? Sem sombra de dúvida. Mas, enfim, bad things happen, não é?
"Eu não sou economista" (versão minha do famoso chavão "eu não sou jurista", com que muito boa alma inicia debates sobre temas jurídicos), mas sei que se, no abstracto e antes de alguém ter sequer pensado na peregrina ideia do euro, fosse perguntado a qualquer economista mediamente instruído se fazia sentido Portugal ter a mesma moeda que a Alemanha, eles prontamente diriam que não. Sucede que o euro sempre foi um projecto de natureza política - uma colocação do carro económico à frente dos bois políticos - aliás congeminado em Paris, local conhecido pela erudição filosófica (recentemente enriquecida, como sabemos) mas, desde Bastiat, um verdadeiro deserto em matéria económico-financeira. Achavam então esses filosóficos lutecianos que o Deutsch Mark era o novo panzer que haveria de atravessar as Ardenas, e que havia portanto de lhe pôr cobro. Vai daí, criaram uma nova versão da famigerada Linha Maginot, a que deram o nome de "euro". Os teutónicos, se queriam reunificar-se, tinham que largar o panzer e embarcar no mais modesto Panhard, de fabrico gálico. Mas,sendo eles gente também dada a filosofias mas imbuída de luterana prudência, hesitaram, acabando, contudo, por ceder. Diga-se de passagem que o feitiço acabaria por virar-se contra o feiticeiro, pois asfixiada pelo abraço do novo Deutsch Mark, face ao qual nem moeda tinha para desvalorizar, Lutécia, e a Gália de um modo geral, entrou em dclínio crónico. Do outro lado do Canal há uma aldeia, povoada por gente notoriamente pérfida, que resistiu a toda esta falácia, mantendo o seu sestércio, embora decimalizado, em uso.
ResponderEliminarPelas franjas do Império, alguns, como os lusitanos, acharam que esse tal euro, a exemplo da Expo 98 e do Euro 2004, era um desígnio nacional, uma daquelas vacuidades que haveriam de tramar Viriato Guterres e Sertório Sócrates. A estes, Vladimir Ilyich Ulianov chmaria de idiotas úteis. E eu juntaria: úteis, talvez, mas inconsequentes.
Para ver se percebo, então os meus amigos pensam que o trabalho de um português passa a ser mais ou menos valorizado se for em euros ou em "qualquer porcaria que os tipos que não conseguem perceber o que se passa no BES passassem a imprimir"? (Gostaram da denominação do novo escudo?)
ResponderEliminarO euro não vai implodir porque não há nada para implodir. Mesmo que alguém decida amanhã sair do euro, o resultado vai ser o quê? Alguém acredita que seja possível que os bancos desse país saiam do euro? Ou que convertam os créditos dos clientes em lixo? Não meus caros, mesmo que os políticos queiram que o estado saia, os países não vão sair nunca porque... não é possível.
Caro João Pires da Cruz,
ResponderEliminarEstamos no campo da pura teoria, e aí se deve situar o debate. Argumentar que Portugal deve manter-se no euro porque os indígenas não são capazes de gerir uma moeda própria não é um argumento científico e, como tal, esta assembleia não pode aceitá-lo! ;-)
Um abraço
Saudações benfiquistas, Alexandre! :)
ResponderEliminarO argumento científico não é que os indígenas não possam gerir sua própria moeda (esse argumento é empírico). O argumento científico é que o seu trabalho vale exactamente o mesmo, seja em que moeda for e por isso a entrada (ou permanência) no euro é apenas um detalhe administrativo, não económico. Dessa forma, existe em Portugal, de facto, um problema chamado estado português onde existe um impedimento legal ao ajustamento do valor monetário do trabalho. Mas esse problema é mais facilmente resolvido acabando com o estado, substituindo por um dos que já existe em Bruxelas ou em Frankfurt, que saindo daquele que é hoje o nosso país económico que vai de Lisboa a Talinn. Por outras palavras, se acham que os 10 milhões se vão desvalorizar para que os 700 mil continuem como estão, desenganem-se!
O crescimento da miséria, a pobreza infantil, a brecha entre ricos e pobres, a crueldade dos despejos, a liquidação dos serviços públicos e a destruição do mundo do trabalho geraram uma exploração a níveis deploráveis. A catástrofe é agora. Tornam-se cúmplices dela quem tenta manter a ordem estabelecida à custa de injectar medo na sociedade e de profetizar as chamas do inferno a cada momento em que que os políticos se atrevem a fazer mudanças.
ResponderEliminarDurante séculos, a ameaça proferida do poder foi o inferno. Quando alguém tentava pensar e actuar de maneira distinta daquela estabelecida pela hierarquia, centenas de ministros e sacerdotes ameaçavam-no com o castigo de Deus. Os que ameaçavam com o inferno não ofereciam a perspectiva do amor, mas o pânico de um poder terrível capaz de nos torturar.
Agora acontece o mesmo com as superstições económicas. Esta ordem é miserável, desigual, injusta, homicida, egoísta, cruel (aí estão os dados), mas, se vocês tentarem mudá-la serão perseguidos pelos mercados ou pelo Banco Central Europeu. Muitos dos autores dos sermões modernos mostram-se orgulhosos de serem sacerdotes de um sistema explorador. Em nome de um deus terrível, desprezam as medidas propostas pelos economistas dispostos a mudar as coisas.
As catástrofes que eles anunciam são a melhor prova de que estes sacerdotes do neoliberalismo servem um canalha: um capitalismo selvagem. (Luis García Montero)
O optimismo e determinismo histórico-messânico dos europeístas é em tudo semelhante aos dos soviéticos: a "construção do socialismo" e sua vitória final eram inevitáveis, e o capitalismo estava irremediavelmente condenado pelas suas "contradições internas". Também não admira muito, pois uma quantidade não desprezável dos hodiernos "europeístas" eram, numa sua anterior encarnação, marxistas-leninistas ou, no mínimo, marxistas "tout court". A estrutura mental de uns e outros é muito semelhante. E, em ambos os casos, a toria estava certa, a realidade é que se enganou.
ResponderEliminarEu, falando por mim, quando vejo um miúdo pobre na rua não lhe perdoo um pontapé nas ventas. Isto para não me esquecer daquilo que aprendi no seminário do capitalismo selvagem....
ResponderEliminarCaro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarA minha interrogação não encerra qualquer mistério, nem tão pouco se refere à forma e ao efeito, mas tão somente, ao "porquê".
Porque não saír do euro?
Sabemos, sem certezas absolutas, porque entrámos. Sabemos em que circunstânscias e conjuntura ocorreu a nossa entrada.
Sabemos que, apesar de nos mantermos no euro, os problemas mais importantes com que o país se debatia, uns agravaram-se, outros mantêm-se e não conseguimos garantir com absoluta certeza, que se nos mantivermos no euro, mais cedo ou mais tarde iremos conseguir resolve-los.
Então, não defendo nem condeno a saída de Portugal do euro. Mas pergunto; porque não? Todos os motivos apontados pelos defensores da não saida, apontam para hipoteses, para suposições, poderia dizer até que apontam para previsões, isto para não dizer, profecias. Então, será racional afirmarmos que mantermo-nos no euro é preferível que sairmos? Ou... poderemos afirmar com mais certeza que a saída do euro seria certamente prejudiciais para todos os que sem investir, sem dinamizar, retiram lucros dos diversos programas de apoio comunitário?
O "capitalismo selvagem" e seu irmão siamês o "neo-liberalismo" substituiram nas histórias infantis o lobo mau.
ResponderEliminarExistem, essencialmente, na mente dos que se lhes referem, e acabam por ganhar existência "real".
Concedo que o "capitalismo selvagem" tem algumas manifestações, nomeadamente na Rússia e na República "Popular" da China, mas algo me faz suspeitar que não é a essas latitudes que os frequentes e compulsivos abusadores da expressão se referem.
Isto são números: desde a criação do euro a economia portuguesa entrou em estagnação, ou pior. Mesmo antes da crise financeira de 2008. A correlação é suficientemente forte para não ser ignorada. O mesmo se diga, por exemplo, da Itália.
ResponderEliminarAgora, a questão é esta: se os que defendem a permanência no euro o fazem por europeísmo, que o assumam, em vez de parafrasearem o Profeta Jeremias.
Culpar o "neo-liberalismo" pelo que é um mal evidente do "europeísmo" é falhar rotundamente o alvo, acrescente-se.
ResponderEliminarCaro Alexandre Burmester,
ResponderEliminarConsidera a economia da Irlanda, tal como a Portuguesa, sem futuro dentro do regime económico resultante da adopção do Euro?
Caro Dr. tavares Moreira,
ResponderEliminarA sua pergunta, com que muito me honra, é, creio, essencialmente retórica. Mas tenho muito gosto em responder.
Como decerto sabe, a economia irlandesa tem uma pujança, manifestada por exemplo na sua capacidade exportadora, que não se compara à portuguesa. Além disso, a Irlanda beneficia de "amortecedores" ao colete da moeda única, como seja a sua baixa e competitiva taxa de IRC.
Portanto, para responder: a economia da Irlanda tem futuro mesmo "dentro do regime económico resultante da adopção do Euro", mas fora dele teria, porventura um futuro ainda melhor.
Acesce, Dr. Tavares Moreira, que, como sabemos, as origens da crise irlandesa são bastante diversas das da portuguesa, mas sem dúvida que as baixas taxas de juro da zona euro, que muito provavelmente se não teriam verificado caso a Irlanda não fosse membro da moeda única, muito contribuíram para as "bolhas" que estiveram na origem do "crash" irlandês.
ResponderEliminarCaro Alexandre Burmester:
ResponderEliminarO grande problema da economia portuguesa é o da competitividade e produtividade. Saindo do euro ( ou não tendo entrado nele), mascarava-se a competitividade com desvalorizações da moeda, com resultados no imediato, mas política suicida no médio e até no curto prazo, mercê do aumento de custo das importações, maiores dificuldades no pagamento da dívida, desvalorização dos salários reais, sacrifícios muito maiores principalmente das classes mais desfavorecidas, etc, etc. Não consigo mesmo vislumbrar qualquer benefício estável.
Por outro lado, não podemos comparar a nossa situação com a inglesa, uma grande economia, uma moeda reconhecida e estável, uma legislação eficaz, uma forte atracção do investimento, grandes linhas de orientaçãopolítica estáveis qualquer que seja o governo, etc, etc.
Tudo tão diferente que não permite comparações.
Caro Pinho Cardao,
ResponderEliminarNós já vivemos no país que descreve, portanto conhecemo-lo, o que tem a enorme vantagem de dispensarmos a leitura do Beydecker. Esse país, tão fustigado pelos males da moeda própria, nunca teve uma taxa de desemprego superior a 7/8%. É certo que chegou a ter taxas de inflação superiores a 20%, mas isso deveu-se ao frenesim das impressoras da Casa da Moeda e é perfeitamente possível dê acontecer também com a moeda única, teoricamente falando. Pois se o BCE até tem como vice-governador um ex-governador do Banco de Portugal!
A moeda que desvaloriza também provoca a substituição de importações, melhorando o saldo externo e diminuindo o desemprego, como sabemos.
Se os indígenas não aproveitam as vantagens da moeda própria para fazerem as reformas necessárias, a culpa nunca pode ser assacada àquela.
A minha esperança em ainda vir a ganhar prémios em Economia está na forma como as pessoas percebem tão mal a moeda e os mecanismos económicos...
ResponderEliminarEu só sei que, antes de o Jacques Delors ter tido a brilhante ideia da moeda única, nenhum europeísta/economista português defendia tal coisa. E quando a ideia surgiu, decerto correram a reler os manuais que falavam de política monetária e política cambial, a fim de ajustarem os conceitos que haviam aprendido na faculdade aos dogmas da ideologia europeísta. Claro que ninguém espera que dêem o braço a torcer, mas ao menos que cessasse o seu injustificado e triste triunfalismo.
ResponderEliminarCaro João Pires da Cruz,
ResponderEliminarCom um registo predominantemente humorístico, mas reconheço-lhe carradas de razão...
Nesta matéria das vantagens/ desvantagens/implicações político-económicas da moeda única, após mais de 15 anos de mudança do regime económico, impressiona muito verificar como tanta gente, até gente elaborada, não assimilou este novo projecto...
Recordo-me das múltiplas intervenções públicas que fiz, há cerca de 12/13, na AR e fora dela, chamando a atenção para as implicações da alteração do regime económico, e para o facto de estarmos a seguir políticas incompatíveis com esse novo enquadramento...
Espantosamente, constato hoje que estive, literalmente, a falar para os peixinhos...não há meio deste assunto alguma vez ser adequadamente entendido!
Por este caminho, o Senhor ainda se arrisca a receber uma distinção Nobel ou similar, neste caso justificada pela percepção correcta do fenómeno da moeda única...
Caro Alexandre Burmester,
Acho muito curiosa a sua avaliação deste tema e, em especial, a justificação para o caso irlandês no contexto da moeda única...
Em última análise, a sua distinção entre a capacidade dos irlandeses singrarem num contexto de moeda única e a nossa incapacidade para lhes seguir o exemplo tem todas as características de uma resignação perante as dificuldades deste projecto...
Não deixo de notar que as nossas actuais dificuldades (embora já algo atenuadas em relação ao cenário dantesco de Maio/2011), são em grande parte explicáveis por erros de política económica, acumulados durante uns bons 15 anos, que nos atiraram para a situação extremamente crítica que enfrentamos há 3 anos e meio...
Se tivéssemos (refiro-me aos decisores de política económica)tido a noção correcta das implicações da moeda única, teríamos, desde 1998 pelo menos, enveredado por uma política orçamental oposta á que foi infelizmente trilhada...
Era perfeitamente expectável que os agentes económicos privados, face à alteração do regime económico e, em especial, à fortíssima descida do custo do dinheiro dela resultante, iriam expandir consideravelmente a sua despesa.
Perante tal quadro, teria sido estricta obrigação dos decisores de política económica adoptar uma política orçamental (incluindo fiscal) anti-cíclica, compensando os estímulos monetários à expansão do consumo e do investimento privado.
Fez-se exactamente o contrário, durante anos a fio, pelo que o resultado só poderia ser o que foi, um desastre a toda a extensão...
Agora culparmos a moeda única pelos erros da política económica nacional não só não é correcto como significa que nunca mais estaremos preparados para gerir uma economia com um mínimo de estabilidade no crescimento, com moeda única ou sem moeda única, tanto faz, não tenhamos ilusões.
Ressalvo, em tudo isto, o seu estilo dialético elegante, bem humorado e com algumas ideias bem interessantes!
Pena, contudo, que siga a vaga de culpar o Euro pelas consequências dos erros a que atrás me referi.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarPeço desculpa de voltar a maçá-lo, mas desde o fim de Bretton Woods em 1971 que as moedas passaram a flutuar livremente, ao sabor de uma coisa que acho que todos prezamos: o mercado. A desvalorização do escudo desde então até à sua funesta extinção reflectiu, portanto, meros mecanismos de mercado, tal como a constante valorização do DM e do yen. Não foi, portanto, fundamentalmente, uma ferramenta que Portugal usou para "mascarar" a falta de competitividade da economia; foi, antes, o reflexo dessa mesma falta de competitividade.
Mas, concedendo até que a falta de competitividade deve ser combatida por outros meios que não a ferramenta cambial, daí se não conclui, muito menos, que a moeda própria deva ser substituída por uma moeda alheia e mais forte, usada inclusivamente pela maioria dos nossos principais parceiros comerciais. É que tal coisa ameaça deitar por terra todos os esforços reformistas.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarAgradeço novamente o tempo que se digna perder com este mero especulador (sem duplo sentido ;-) ).
Sucede que discutíamos as virtualidades ou falta delas da moeda única ou da moeda própria (como diria o moderador nos debates da minha "alma mater", "stick to the point!" ;-) ).
Concordo plenamente com o que refere acerca da profundamente errada política orçamental ao longo dos anos que se sucederam à criação do euro. Ela contribuíu gravemente para o exacerbar dos problemas, como penso ser indiscutível, pelo menos entre os não-sofistas. Mas isso, a meu ver, não permite absolver a moeda única da sua responsabilidade na actual situação. Afinal, até tivemos de ouvir pessoas em lugares de responsabilidade (que hoje em dia ocupa(m) lugares de ainda maior responsabilidade)dizer que, com a moeda única, as contas externas já não eram importantes!
Resumindo: eu não culpo exclusivamente a moeda única pelos problemas portugueses, mas era disso que falávamos.
Os meus cordiais cumprimentos
Caro Tavares Moreira, tem estado a falar para os peixes errados. Fala-se bem melhor para uma posta de bacalhau no Feijão ...
ResponderEliminarCaro João Peixe (sorry, Pires) da Cruz,
ResponderEliminarEu não penso que o Dr. Tavares Moreira encare as suas (dele) intervenções neste debate como de cariz didáctico. Não lhe notei esse tom em nenhuma delas.
Mas claro que é muito mais fácil pregar aos conversos!;-)
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarApesar da manifesta falta de sucesso das minhas intervenções públicas, de há 11/12 anos, chamando a atenção para a dura incompatibilidade entre políticas económicas da época, por um lado (laxismo financeiro e completa inoperância do lado estrutural), que favoreceram as actividades económicas de menor valor acrescentado (e depois queixam-se do escasso crescimento do PIB, tem graça) e as regras de comportamento em ambiente/regime de moeda única...
...apesar desse insucesso, dizia, prefiro não desistir, pode acontecer que um dia acabe por ser recompensado, quem sabe, com uma comenda da paciência evangélica...
Caro Alexandre Burmester,
Qualidade didáctica é certamente um atributo que não posso logicamente reclamar, tão elevado tem sido o grau de insucesso nas minhas intervenções mais ou menos públicas nesta matéria...
Tem plena razão, pois, quando pensa (ou não pensa) como acima refere...
Bem, caro Dr. Tavares Moreira, eu deixei no ar algumas perguntas a que nenhum dos meus amigos respondeu.
ResponderEliminarA partir daí sou livre de supôr que o vosso euro-optimismo suplanta a vossa sabedoria empírica.
O problema não é eu manifestar "resignação", mas sim o voluntarismo euro-entusiasta dos defensores da moeda única.
Fazem lembrar-me os defensores do "Acordo Ortográfico", com o devido respeito.
Ah, desculpe, só mais uma coisa: também me trazem à mente os defensores do "aquecimento global antropogénico".
ResponderEliminarMas eu "cogito, ergo sum", e tenho, talvez por deformação luterana, a mania de não engolir dogmas pelo seu valor facial.
Agradeço, mais uma vez, a paciência que demonstrou! ;-) We agree to disagree!
Os meus cordiais cumprimentos
Alexandre,
ResponderEliminareu não respondi porque estavam respondidas. Mas nada dsto tem a ver com euro-optimismo apenas com o facto de a moeda ser irrelevante para as questões levantadas.
Ter a capacidade de emitir moeda só dá a um governante uma capacidade adicional àquela que tem hoje. A de poder lançar impostos sem que os cidadãos saibam. Não vai mudar o valor do trabalho dos cidadãos, não vai melhorar os fundamentais da economia em nada. Se tivesse, países que usam irregularmente moedas representativas de economias mais fortes ficariam mais forte por esse uso irregular.
E mudar para uma moeda representativa de economias mais fortes - leia-se em que o valor médio do trabalho pela qual esse moeda é gerada é superior ao nosso - não teria problema nenhum, nem tem, desde que os mecanismos normais da economia funcionem e em que a quantidade de moeda se ajusta ao valor do trabalho produzido.
Onde é que isto falha? Onde a moeda é entregue a troco de qualquer trabalho produzido, i.e., onde a moeda é entregue não pelo trabalho mas por exigência administrativa. Por outras palavras, estado. Como este não vai entregar o valor do trabalho médio europeu em troca da moeda que consome, o desequilíbrio começa a formar-se e tem que começar a cobrar impostos às claras ou contrair dívida à bruta.
O que o caro Tavares Moreira quis dizer quando diz que os ajustes teriam que ser feitos na altura, seriam ajustes ade natureza meramente administrativa, i.e., lei fundamental, lei comum, etc. E o que eu me farto de dizer é que a saída do euro só pode acontecer por acordo entre todos. Não vai haver saída do euro, haveria eventualmente fim do euro. Não havendo esse fim, nenhum agente económico com relações com a europa, a começar pelos bancos, vai sair do euro porque as alavancagens já estão todas em euro. O estado até pode sair de Portugal(e se as transformações administrativas não acontecerem isto vai acontecer), mas Portugal não vai sair do euro. Nem a França, nem...
João,
ResponderEliminar"(...)desde que os mecanismos normais da economia funcionem e em que a quantidade de moeda se ajusta ao valor do trabalho produzido."
Neste tipo de "desde ques" reside o busílis da questão. Será que estou a interpretá-lo correctamente, se pensar que aquilo que sugere acima - em linguagem hermética ;-) - é o que adquiriu a designação de "desvalorização interna"?
Agora, eu próprio disse, citando a metáfora do Titanic, que Portugal, por si só, não sairá do euro.
Um abraço
PS Saudações portistas - e não se enerve muito esta noite! ;-)
Alexandre,
ResponderEliminarNem vi o jogo, eram favas contadas... :)
Realmente esse desde que está muito mal aplicado. Os mecanismos da economia funcionam sempre, o problema aqui é o que deixa de funcionar. Mas também, é um problema se o estado português deixar de funcionar, tendo nós mais dois níveis de estado?
Caro Alexandre Burmester,
ResponderEliminarINFELIZMENTE, o nosso amigo Pires da Cruz está cheio de razão.
E digo infelizmente, pois caso assim não fosse, "bastaria" a saída "ordenada" do Euro para que a economia portuguesa resolvesse os seus problemas estruturais...
Ora a economia portuguesa teve décadas em regime de moeda própria, e, durante esse longo período, os problemas estruturais, em vez de serem resolvidos, foram-se acumulando...
Mas mais, pode estar certo de que, com moeda própria e a política económica dos últimos 15 anos até 2011, a violenta crise financeira que deflagrou no 1º semestre de 2011, teria ocorrido bem mais cedo, sob a forma de uma crise cambial, obrigando-nos a adoptar um programa de ajustamento do mesmo tipo daqueles que tivemos de suportar em 76/77 e em 83/84 sob a égide do FMI...
Repito, pois, não culpemos o Euro por aquilo que foi falha da política económica doméstica, essa postura é não só reveladora de resignação face às dificuldades de gestão da economia - recuar, face às dificuldades, em vez de procurar esconjurá-las - como aporta uma enorme ilusão quanto ao resultado das políticas.
Note, até, o seguinte: tem sido neste período de 3,5 anos que se notaram algumas alterações estruturais ao nível da composição dos grandes agregados económicos: o peso das exportações (bens+serviços) no PIB passou de cerca de 28% em 2010 para cerca de 41% no corrente ano...
Esta alteração estrutural, se for mantida e até ampliada, pode fazer muita diferença no futuro, permitindo um crescimento mais sustentado da actividade, sem os altos e baixos que se verificaram no passado.
Ainda não estamos ao nível da Irlanda, longe disso (na Irlanda as exportações valem mais que o PIB), mas o progresso realizado é muito positivo - tendo sido possível em regime de moeda única...
E aceite os meus mais cordiais cumprimentos.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarQuem me dera, obviamente, que Portugal conseguisse "dar a volta" mesmo dentro do euro. Se o fizer - e concordo que há sinais encorajadores - será óptimo para todos. Não faço disto uma questão dogmática.
Mas se não devemos culpar o euro pelos dislates da política económica portuguesa dos +ultimos 15 anos - e concordo que não devemos - também me não parece que devamos culpar o escudo pelos dislates do tempo em que esta moeda vigorava. Não é essa, obviamente, a questão.
De novo agradeço a sua disponibilidade e "fair-play".
Os meus cumprimentos
A single currency will only work with a single economic policy, a single treasury, a single system of taxation and spending, a single national parliament and single political identity...
ResponderEliminarWas this achieved before the EMU was established ? No ? Than a crime has been made !
Who will pay for that gigantic crime whith endless victims ?
Can the euro experience be considered a crime against humanity ?