Vai por aí uma onda de indignação por o governo não ter interferido na venda da PT. Indignam-se aqueles que consideram que Portugal perde mais uma jóia da já depauperada coroa por causa da indiferença do governo. Ou que mais um centro estratégico se desloca de Portugal e da esfera da lusofonia sem que o governo se importe. Ou que, perante a despreocupação governamental, o comprador só tem propósitos especulativos e não pretende manter a empresa na vanguarda da tecnologia pois se torna indispensável investimento para lá do que foi feito na aquisição das participações sociais que, dizem, só resolveram parte do problema de grandes acionistas aflitos. É curioso que estes argumentos são partilhados por gente da esquerda - ou que se afirma de esquerda - e da direita.
Por mim, para além de esperar que a Justiça apure o que tiver de ser apurado no que respeita aos atos de quem foi responsável pela impressionante destruição de valor, louvo o governo pela serenidade, mas sobretudo pela distância que soube manter do processo de venda à ALTICE. A PT chegou ao estado a que chegou porque nunca verdadeiramente se autonomizou do poder político e não resistiu ao apelo de outros poderes, vendendo a sua autonomia e rendendo os interesses dos seus acionistas a relações que num futuro próximo melhor serão apercebidas, estou em crer. Por isso, abster-se o governo de intervir, de influenciar direta ou indiretamente decisões ou de mostrar preferências, é de louvar, em especial quando foram muitas as pressões para que a conduta do Executivo fosse a que era hábito.
Os defensores da interferência do Estado na sorte da PT esquecem-se que se trata de uma empresa privada, que a inteligência posta ao serviço das tecnologias não tem nação mas precisa de capital que o País não tem (e os contribuintes muito menos) e que, a respeito das lógicas lusófonas a Oi é brasileira e...foi o que se viu.
Espero bem que o que aconteceu à PT perdure por muito tempo na memória dos portugueses e sobretudo das elites. Pelas opções que foram a resultante de uma nefasta intervenção do poder político no passado, pela exemplar neutralidade de que o governo foi agora capaz, mas também e sobretudo pela demonstração de que em Portugal podem desenvolver-se projetos empresariais, portadores de futuro, que, bem geridas, ombreiam com os melhores que existem pelo mundo.
Os bons exemplos das companhias estratégicas são a TAP e a SATA. Curiosamente, quando se liberalizaram as rotas para as ilhas, estrategicamente a Ryan e a Easy são bem mais baratas...
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