Foi tema muito noticiado e comentado nos últimos
2 dias o agravamento, em € 926 milhões, do défice da balança de bens com o
exterior em 2014 por comparação a 2013.
Com efeito, segundo as estatísticas divulgadas no
início da semana, as exportações de bens aumentaram apenas 1,9%, de €
47.266 milhões em 2013 para € 48.181 milhões em 2014, enquanto que as
importações aumentaram 3,2%, de € 56.906 milhões para € 58.746
milhões – apurando-se uma diferença no ritmo de crescimento desta duas variáveis, de 1,9% para 3,2%, que,
a julgar pelas opiniões expendidas, se terá revelado astronómica…
Não deixo de notar, de passagem, que este
agravamento de € 926 milhões é inferior ao que se registava até ao final
de Novembro, o qual atingia € 1.097 milhões, o que significa ter havido em
Dezembro uma recuperação de € 171 milhões…
Mas o mais curioso disto tudo é que os
comentadores que se mobilizaram para comentar a “desgraça” que foi este
agravamento do défice comercial, nalguns casos literalmente lavados em lágrimas, são
os mesmos que clamam, incessantemente, pela necessidade de alívio das
medidas de austeridade e pretendem, consequentemente, que a procura
interna possa crescer mais depressa incentivada pelo aumento do rendimento
disponível…
Não há maneira de entenderem que qualquer aumento
da procura interna, seja de consumo seja de investimento, vai necessariamente
traduzir-se num aumento de importações…foi exactamente o que aconteceu em
2014 em que já se registou algum alívio em cortes de salários e pensões,
conduzindo a um aumento da despesa orçamental com pessoal e, naturalmente, a uma maior procura de
bens importados (vidé o forte aumento da compra de automóveis, que aliás
prossegue em 2015).
Ou então entendem mas querem tratar-nos virtualmente como
parvos…
Num registo mais caricato, encontrei num
conhecido diário esta interessantíssima notícia: “Importações da Alemanha
contribuem para o agravamento do défice comercial”…com esta aprendi alguma
coisa, ou seja que as importações, desde que provenientes de outros países
que não a Alemanha, podem não contribuir para o défice comercial…
Só falta referir que, com este resultado para a
balança de bens e tendo em conta o que já se sabia sobre as demais
rubricas da balança de pagamentos até ao final de Novembro, é agora
praticamente certo que o saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital
– o saldo dos saldos – deverá ter sido em 2014 confortavelmente superior
ao de 2013…mas, quando essa notícia chegar, vai passar quase despercebida,
“felizmente”.
Há um par de dias, numa discussão facebookiana eu dizia que se há coisa que nos podemos orgulhar é o facto de o país se ter mostrado uma entidade financeiramente viável e podemos ter todos os maus indicadores no estado que, só isso, é o suficiente para podermos encarar o futuro de forma positiva. E curiosamente, responderam-me que não, porque a balança de bens era muito negativa e que só produzíamos metade da carne que consumíamos.
ResponderEliminarOu seja, anda metade do país erradamente a vender design, matemática, programação, know how, formação, quando se devia pegar nessas pessoas e força-las ao pastoreio de gado vacum.
E ainda há quem se admire disto ter tido uma ditadura de 50 anos e falir de 10 em 10 anos...
Creio que no ponto 7. o Tavares Moreira se refere a um artigo publicado no DN Economia titulado "Alemanha rouba crescimento económico a Portugal" ou coisa que o valha, que depois foi substituido por portugues mais suave, ficando "Alemanha é o país que mais desviou crescimento de Portugal". Uma coisa parva, que me deram a ler.
ResponderEliminarCaro Pires da Cruz,
ResponderEliminarTem toda a razão, com estas notícias enviesadas e irracionais, mobilizam-se muitos espíritos para exercícios da mais completa futilidade mas sob um rótulo de assunto muito sério...
Caro Ferreira de Almeida,
Tanto quanto me recordo a fonte é outra - o Público, jornal que até aprecio bastante e leio com regularidade - mas o exercício mental, de rigorosa falácia, é muito semelhante ao do episódio que refere.
Como vê, pois, esta epidemia opinativa está mais espalhada do que se possa julgar...
Para quem atribuía grandes virtudes à austeridade vivida nestes quatros anos como garante da “mudança estrutural” da economia portuguesa não está nada mal não senhor. Afinal, basta interromper o curso diabólico crescente da austeridade (eleições a quanto obrigam) para que tudo volte ao que era dantes. Chega-se portanto à conclusão que o rasto de destruição social a que conduziu a austeridade de nada serviu a não ser para aumentar o número dos muito ricos bem como o volume das suas fortunas.
ResponderEliminarPassados 2 anos do subsídio de Natal estar a ser pago em duodécimos, ainda há muita gente que berra chamando o governo de ladrões.Pior de tudo é que nas opiniões públicas, jornalistas e comentadores (economistas)não informam. Ainda esta semana um meu conhecido que costumo ir tomar café de 2 em 2 meses, só agora se apercebeu que estava a receber em duodécimos(um homem com cultura).
ResponderEliminarHá gentinha que está doente politicamente e por isso só vê ladrões.
Cumprimentos
Quem dera que em vez de 808 milionários, como diz o B.E. não fossem 80.000, o país estaria certamente melhor.
ResponderEliminarTanta inveja!
http://youtu.be/21CN815v2G0 http://emmanuel959180.blogspot.in/
ResponderEliminarCaro Tavares,
ResponderEliminarO importante é que a política de Austeridade e o pagamento da Dívida continue (como o tem feito até agora) a impulsionar decisivamente o nosso crescimento económico.
Abraço
"o nosso crescimento económico"
ResponderEliminarO índice de produção industrial apresentou uma variação homóloga de -2,0%, em Novembro.
O Índice de Volume de Negócios na Indústria apresentou, em termos nominais, uma diminuição homóloga de 5,2% em Novembro.
O Índice de Volume de Negócios no Comércio a Retalho registou em Novembro uma variação homóloga de 0,2%.
O Volume de Negócios do sector do Comércio estabilizou, mas o número de empresas e pessoal ao serviço diminuíram.
O índice de produção na construção registou uma variação homóloga de -5,8% em Novembro.
Em Novembro de 2014, as exportações de bens diminuíram 0,4% e as importações de bens cresceram 2,8% face ao mês homólogo.
No conjunto do ano 2014, as Vendas na Indústria diminuíram 1,2% (variação média de -0,5% no ano de 2013).
De acordo com as intenções manifestadas pelas empresas no Inquérito de Conjuntura ao Investimento de Outubro de 2014 (com período de inquirição entre 1 de Outubro de 2014 e 19 de Janeiro de 2015), o investimento empresarial deverá apresentar uma taxa de variação nominal de -2,2% em 2015. O principal factor limitativo do investimento empresarial identificado pelas empresas nos dois anos analisados foi a deterioração das perspectivas de venda.
(Dados INE
Caro Opjj,
ResponderEliminarPode bem falar-se de um fenómeno de ilusão financeira neste caso, por contraposição à "velha" ilusão monetária, muito frequente nos tempos de moeda própria, em que as pessoas pensavam que recebiam mais, quando os salários nominais aumentavam, mas na realidade perdiam pois a inflação "comia" mais do que esses aumentos...
A ilusão financeira funciona ao contrário: as pessoas recebem mais mas, como ainda estão sob a influência/choque dos cortes nominais anteriores, ainda raciocinam como se recebessem menos...