Cá estamos de volta às contas externas, até Abril, agora com alertas para os Crescimentistas...
- Foi ontem divulgada
(BdeP) a habitual informação sobre a evolução das contas externas,
constatando-se que nesta frente a situação se mantém sob controlo mas, ao
mesmo tempo, mostrando alguns sinais que deveriam ser interpretados com muita atenção, em especial por parte dos Crescimentistas cá do burgo.
- Concretizando, o saldo
conjunto das balanças corrente e de capital mantem-se positivo (€ 186,3
milhões) embora em queda em relação ao registado nos 3 primeiros meses (€
350,7 milhões).
- Esta queda não deverá
constituir motivo de especial preocupação, uma vez que se explica,
inteiramente, por um comportamento menos favorável da balança de capital
(de Março para Abril deste ano o saldo positivo aumentou apenas € 174,2
milhões, enquanto que no ano anterior o aumento tinha sido de € 365,3
milhões), algo que poderá ser recuperado, lá mais para a frente.
- Mas há outros aspectos
que justificam uma atenção particular, designadamente o agravamento do
défice da balança de bens, que passou de € 1.690,5 milhões no período até
Março para € 2.543,5 milhões até Abril, ficando agora muito próximo do
défice registado em igual período de 2014 (€ 2.699,1 milhões) quando ainda
não beneficiávamos da enorme redução da factura petrolífera no valor das nossas importações…
- Este forte agravamento
no saldo da balança de Bens em Abril é explicável por uma “explosão” das
importações (+16,4%), que superou largamente o desempenho das exportações
(+9,7%)… e que terá sido resultante do grande dinamismo da procura interna de
bens de consumo duradouro e de investimento.
- A continuarmos neste
ritmo, as medidas de estímulo à procura interna que os Crescimentistas
andam por aí a prometer, com excelentes argumentos teóricos, poderão vir a
revelar-se não apenas desaconselháveis mas mesmo contraproducentes,
arriscando levar-nos de regresso aos défices das contas com o exterior – e,
nesse cenário, a por em causa o crescimento, por dificuldades de
financiamento, o que seria imperdoável.
- Há pois que ter muita
prudência com as promessas de alargamento fácil do rendimento disponível
das famílias, pois pode muito bem acontecer que já tenhamos chegado ao
ponto em que a procura interna não careça de estímulos de política adicionais
– qq estímulo poderá provocar muito mais estragos que benefícios.
Sem estímulos às empresas não vamos lá. E não falo de subsídios.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminarà medida que venho acompanhando este seu precioso relatório (que nos traz informação que, de outra maneira, não iríamos à procura, merecendo o nosso agradecimento por isso) a conclusão de que atingimos o "porto seguro" parece ser razoável. Entre oscilações por isto e por aquilo, o fundamental parece ter sido atingido. Faltam alguns pontos importantes nos salários do estado e nas pensões, falta a RTP que custa uma TAP a cada dois anos, falta acabar com a regulação bancária prudencial que nos custa outro tanto, mas Portugal mostrou a sua força. Basta a república portuguesa se cingir às sua funções básicas que Portugal é dos países mais fortes do mundo em termos relativos. Estou certo que quando os gastos parvos acabarem e a economia se libertar desta parvoíce a balança vai atingir os níveis que seriam adequados à nossa capacidade.
Seria curioso um dia alguém fazer o inventário do disparate que ao longo de 4 anos foram justificando os níveis da balança de pagamentos. A começar na penhora do ouro devido à crise passando pela refinação de petróleo "sem valor acrescentado" e acabando nas remessas dos "emigrantes obrigados a fugir", alguém devia fazer uma compilação das justificações Galambicas.
Caro António Barreto,
ResponderEliminarRepare que me referi à provável desnecessidade de estímulos de política "adicionais": isso significa que, na minha interpretação, os estímulos de política existentes ou programados, serão, no actual contexto, suficientes.
E que melhor estímulo para o investimento das empresas do que uma procura interna e externa robusta e, em especial, a expectativa de que essa procura se deverá manter ou mesmo reforçar?
Caro Pires da Cruz,
As justificações galambicas fazem parte do anedotário nacional, como tal são preciosas, na minha opinião, pois sem elas a vida seria bem mais cinzenta...
O disparate, escrito e falado, faz falta para que haja alguma boa disposição na sala.
Uma notícia preocupante:
ResponderEliminarOs portugueses canalizaram o aumento de rendimento para o consumo em vez de o guardarem. A taxa de poupança das famílias recuou para 6,8% do rendimento disponível nos primeiros três meses deste ano, um registo que só encontra paralelo com o que foi observado logo a seguir à falência do Lehman Brothers, em 2008. Os economistas admitem que este comportamento pode levar a mais descidas da taxa de poupança no futuro, tendo em conta que tanto a coligação como o PS prevêem que a reposição de rendimentos vai continuar na próxima legislatura.
http://economico.sapo.pt/noticias/familias-comecaram-2015-a-consumir-em-vez-de-poupar_221929.html
Pergunto: será que a situação do país aconselha a redução da poupança das famílias e o aumento do consumo ou é ainda prematuro começar-se já a ir por aí?
ResponderEliminarDr. Tavares Moreira,
Fez a seguinte observação:
"E que melhor estímulo para o investimento das empresas do que uma procura interna e externa robusta e, em especial, a expectativa de que essa procura se deverá manter ou mesmo reforçar?"
Entendo a observação, mas não será ainda prematuro o incentivo ao consumo? Não será preciso mais tempo para as empresas se adaptarem no contexto das mudanças já levadas a cabo pelo Governo?
"A continuarmos neste ritmo, as medidas de estímulo à procura interna que os Crescimentistas andam por aí a prometer, com excelentes argumentos teóricos, poderão vir a revelar-se não apenas desaconselháveis mas mesmo contraproducentes, arriscando levar-nos de regresso aos défices das contas com o exterior – e, nesse cenário, a por em causa o crescimento, por dificuldades de financiamento, o que seria imperdoável.
ResponderEliminarHá pois que ter muita prudência com as promessas de alargamento fácil do rendimento disponível das famílias, pois pode muito bem acontecer que já tenhamos chegado ao ponto em que a procura interna não careça de estímulos de política adicionais – qq estímulo poderá provocar muito mais estragos que benefícios."
Caro Dr. Tavares Moreira,
Esse é precisamente o meu receio...
Nas minhas discussões políticas com os meus amigos socialistas (quem não os tem?) era precisamente esse ponto que sempre coloquei um enorme ponto de interrogação: porquê insuflar a procura se cada vez mais se verifica que ela está a assumir contornos pré-crise? Nunca o entendi e cada vez menos entendo...
ResponderEliminarCaro Pedro de Almeida,
ResponderEliminarCompreendo as suas mais do que razoáveis preocupações quanto ao risco de cairmos uma situação em que o dinamismo da procura interna, especialmente da componente despesas de consumo das Famílias, acabe por nos levar de volta a dificuldades financeiras.
Creio, todavia, que o nível de incentivos em vigor e o que se encontra previsto no "pipeline" para os próximos seja excessivo, ao ponto de comprometer o equilíbrio externo, por exemplo.
Mas já me parece muito arriscado prever/prometer incentivos ainda maiores, pois aí sim poderemos rapidamente cair numa situação de excesso e, como bem sabemos por experiências anteriores, depois é muito difícil voltar para trás...
No tocante ao melhor dos incentivos ao investimento a que me referi - uma procura robusta, interna e externa - pretendo apontar, claro está, a situação vigente, em consonância com a avaliação que faço da conjuntura/fase do ciclo.
Vivo fora de Portugal e venho periodicamente ao nosso País. Verifiquei na minha ultima estadia, que existe uma renovação impressionante do parque automóvel. É uma observação que carece de números estatísticos e feita na zona onde estive a residir por uma semana, mas reveladora de velhos hábitos. Não admira o crescimento das importações. Como todos sabemos é dinheiro mal gasto e mesmo ofensivo face as dificuldades de tantos.
ResponderEliminarCaro Brytto,
ResponderEliminarUma interrogação perfeitamente justificada...já tenho pensado que estas boas criaturas não desarmam de pretender estimular a procura interna, porque estão comprometidos numa cruzada contra a realidade, a qual só poderá terminar quando a realidade os encurralar de novo num cenário macroeconómico de sufoco financeiro.
Não há maneira de aprenderem, concluo.
Caro Agitador,
A sua observação é curiosa, mas posso dizer-lhe que dados estatísticos não faltam, todos os meses são divulgadas estatísticas da compra de automóveis de todos os tipos, a taxa de crescimento continua este ano acima dos 30%.
Quanto a ser dinheiro mal gasto, aí cada um será dono da sua verdade, trata-se de decisões individuais de despesa, que atendem a múltiplos factores...
O que eu questiono, como terá percebido, é a oportunidade, advogada pelos Crescimentistas (do Largo do Rato e não só...), de se estimular ainda mais a procura interna - ou seja as importações - em nome de objectivos de crescimento pouco claros...