segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Olhando para a nuvem que passa - II

Insuspeita, a Profª Chantal Mouffe, que tem pugnado por uma visão agonística do pluralismo democrático, num dos seus textos previne que "aceitar a posição do adversário é experimentar uma mudança radical na identidade política. Isso tem mais a qualidade de uma conversão do que de uma persuasão racional (...). Na verdade, os acordos são possíveis. Eles são parte de um processo da política, mas deveriam ser vistos como reveses temporários numa confrontação em curso". Por certo António Costa e o PS que o apoia no ensaio de uma plataforma de esquerda parlamentar que suporte um governo, estão conscientes do que valem, numa democracia adversarial, estes acordos que assentam sempre numa precária alteração da identidade política dos atores. Aceitá-la, pressupõe admitir a contingência de uma punição futura em caso de insucesso. Entendo, neste quadro, o caminho que o PS quer trilhar. Esperando que esta procura de um máximo denominador comum entre as minorias tão diversas nos princípios e na ideologia, não seja motivada, afinal, por uma prosaica cedência à necessidade de saciar a fome de poder.

7 comentários:

  1. É um espírito de grande magnanimidade o Ferreira de Almeida que, aliás, junta a muitas outras altas qualidades. Mas aqui pratica mesmo uma virtude heróica, ao expressar uma dúvida metódica sobre os objectivos de Antonio Costa. É que se vem tornando óbvio que na associação das esquerdas que procura com afã está uma delirante febre de poder. E febre significa que por detrás há doença. Já Aristoteles há bastante mais de dois mil anos teorizava sobre a doença de alguns políticos e o que referia aplica-se por inteiro ao Secretario-Geral do PS. Afinal, o mal já tinha sido manifestamente declarado aquando deitou Seguro pela borda fora. E agravou-se.

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  2. Em minha opinião, perfeitamente consciente do seu valor, entendo a atitude de António Costa e de uma parte do PS, ainda muito menos definida que se julga, ainda a atravessar uma "fase de pesagem". Não me parece nada que António Costa esteja interessado neste momento, ser governo. Aquilo que parece ser o interesse numa « associação das esquerdas » é do meu ponto de vista, quanto mais sério conseguir fazer parecer esse interesse, mais eficaz será o resultado da negociação para conceder à coligação PSD/CDS o apoio de que necessita para formar governo.

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  3. Cinismo então ao mais alto grau, tão elevado que já levou hoje a porta-voz do Bloco a dizer publicamente que um governo da Coligação nunca serã possível ?

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  4. Não sei como classificar estas formas de estar na política e de a praticar, caro Dr. Pinho Cardão, mas uma coisa, sei: independente de estar certo ou errado na minha análise, ela não serve os interesses do país e dos portugueses. Concordo com a opinião do nosso amigo Cruz; não se percebe a necessidade de o PR ter aberto portas e janelas para que os partidos chegassem alegres e contentes a este cenário. Portanto, nem ao PR excluo deste agravo à democracia e às suas regras.

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  5. Meu caro Pinho Cardão, o meu Amigo exagera nas qualidades que me atribui. Mas no caso nenhum dos elogios é devido. O cálculo de António Costa e do PS que está com ele era previsível, embora infelizmente inconfessado na campanha eleitoral. Por isso, se me surpreendem os resultados eleitorais, pois nunca esperei que o eleitorado penalizasse mais o PS que os partidos da coligação, já não me espanta a deriva do PS em busca de uma plataforma que viabilize um governo chefiado por um militante seu. Independentemente de questões éticas que fazem apelo à legitimidade política, a verdade é que as regras consentem a investidura de um governo apoiado numa maioria que não incorpore a força mais votada. Mas para além da validade formal (jurídica) de um governo assim formado, e pondo mais uma vez a ética política de lado, é também assim porque os partidos transformaram-se em centrais de satisfação de interesses e necessidades de vastas clientelas, estando os lideres infelizmente prisioneiros dos compromissos feitos com elas. E isso é decisivo na hora de decidir a oportunidade de regressar ao poder...
    Como vê, a minha magnanimidade é, afinal, realismo. Mas o povo é sereno, parafraseando o Almirante no meio das bombardas. Esperemos que as elites também.

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  6. “As direcções do PSD e do CDS mostram-se disponíveis para acolher as principais bandeiras eleitorais dos socialistas: redução do IVA da restauração, maior celeridade na reposição dos salários da função pública e na eliminação da sobretaxa do IRS, recusa do plafonamento da segurança social e defesa da diversificação das fontes de
    financiamento, recusa do cheque-ensino, reposição dos feriados civis, entre outras.

    Depois de ter acusado o PS de ter um programa irresponsável e demagógico, os partidos da direita acabam por reconhecer que existem mesmo alternativas à sua própria governação”.


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  7. Basta ler o próprio programa eleitoral da Coligação para perceber que algumas das propostas para esta legislatura são diferentes das medidas executadas pelo Governo. O que é natural e só prova que também para a Coligação existem hoje condições para alguma mudança. Parece-me, pois, meu caro Carlos Sério, disparatada a conclusão na última frase (cuja autoria se desconhece, a despeito das aspas), pois só num quadro de antagonismo irracional é que, chegado o momento da negociação, as partes não se dispõem a rever as suas posições de maneira a obter consensos necessários. Seria bom que nos habituássemos a ver as coisas pelo lado da sensatez...

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