1. Rios de tinta foram já gastos em comentários à declaração política do PR, da última 6ª Feira, quando indigitou o Presidente do PSD - na sua qualidade de presidente do maior partido da coligação que ganhou as eleições de 4/X - para a formação de um novo governo.
2. Na sua expressiva maioria, os comentários consideraram a intervenção do PR "excessiva", na parte em que qualificou a solução de um governo apoiado pelas 3 esquerdas como não servindo os interesses nacionais e não cumprindo o requisito da estabilidade governativa (tendo por base as informações que lhe foram prestadas, presumo).
3. Houve mesmo democratas de primeira grandeza - daqueles para quem toda a decisão é democrática quando lhes agrada e anti-democrática em caso contrário - que não se coibiram de utilizar uma linguagem de nível quase sarjetário, atribuindo ao PR os mais vis propósitos, de estar movido por um sectarismo agonizante...
4. Não me proponho qualificar a intervenção do PR como excessiva, brutal, repelente, piramidal, bondosa ou tranquilizadora por uma simples razão: não existe, neste momento, evidência disponível que, na minha perspectiva, permita fundamentar tal qualificação...a intervenção foi de tipo "forward", só com mais tempo será possível ajuizar.
5. O que eu receio - e receio pelo País, que acaba de sair de um tratamento de cuidados intensivos e pode recair com facilidade - é que daqui por um ano (ou talvez menos) se venha a concluir que esta intervenção do PR foi branda...ou mesmo muito branda...veremos se não será tarde demais.
O discurso do PR pode ter parecido excessivo, mas tem de ser entendido no atual contexto político. Recorde-se que um dos objetivos inscritos no programa eleitoral do BE é expressamente "o confronto com as instituições europeias". E quer o BE, quer o PCP defendem o não cumprimento do Tratado Orçamental e a saída de Portugal do euro. Ora, apesar de todos os seus erros, o PS não se apresentou às eleições com esses objetivos. Além disso, António Costa tem afirmado um acordo à esquerda, mas ainda não mostrou esse acordo e os termos dele por escrito. Os eleitores desconhecem-no até agora. Se essa maioria de esquerda é assim tão sólida, estranha-se a demora de tal acordo. E, além disso, tem de ser um acordo para uma legislatura inteira, não se reduzindo a promessas verbais, nem significando acordos meramente pontuais, o que seria, afinal, a negação de um amplo acordo escrito preto no branco. O discurso do PR foi de grande exigência, dadas as circunstâncias. Um tal acordo implicará o não cumprimento dos compromissos assumidos pelo país? Implicará o confronto com as instâncias europeias, defendido expressamente pelo BE? Mas não foi isso o que o PS apresentou eleitoralmente. Além disso, o país não pode pôr em causa os seus próprios compromissos sem que daí resultem graves prejuízos à sua própria imagem e ao caminho de recuperação, apesar de todos os erros, empreendido. Se António Costa pretende derrubar o Governo de Passos Coelho, terá de apresentar garantias escritas de um acordo para quatro anos e que garanta os compromissos assumidos pelo país. No fundo, estas foram as exigências, ainda que implícitas, transmitidas pelo PR. Pode o PCP, o BE e o PS conjuntamente derrubarem o novo Governo de Passos Coelho? Podem. Mas o próprio António Costa afirmou que esse Governo só seria derrubado se tivesse uma alternativa sólida e duradoura. E isso não se garante de boca perante o PR. Tem de haver um acordo escrito e detalhado preto no branco. Caso contrário, o PR pode legitimamente recusar-se a dar posse a António Costa.
ResponderEliminarE há, aqui, um outro aspecto: será apresentado o Governo de Passos Coelho e o seu programa. Veja-se que, apesar de Costa não ter estado minimamente interessado em negociações com a Coligação, esta manifestou-se disponível para acolher algumas propostas. Imagine-se que o programa do novo Governo contenha algumas dessas propostas. Imagine-se que serão apresentados alguns Ministros que se situam na área política que vai do PS ao PSD, ainda que independentes. E a juntar a isso, imagine-se que, nessa altura, Costa não tenha obtido um acordo escrito preto no branco, detalhado, com garantias plenas de cumprimento dos compromissos assumidos pelo país. O PS derrubará o Governo? Veremos até onde vai o PS...
ResponderEliminarO discurso foi duro, isso parece-me inquestionável, mas num ponto, pelo menos, foi escasso: na denúncia da degradação moral que assiste a uma actuação política que, numa audição formal decorrente de uma obrigação constitucional, dois partidos, o PS e o BE (o PC, como de costume, revelou muito mais solidez), mentirem formalmente ao Presidente da República (não foi a Cavaco, foi à instituição Presidente da República) afirmando que havia um acordo que, até hoje, não existe.
ResponderEliminarPermitir que esta actuação, equivalente a uma testemunha que mente em tribunal, ou a um Presidente dos EUA que mente ao Senado sob juramento, passe sem uma condenação formal por parte do Presidente da República (mais uma vez, não de Cavaco, mas do Presidente da República) parece-me excessiva cautela no discurso.
Excessiva porque um ambiente político onde este tipo de actuação passa sem censura é um ambiente político malsão.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminar-Quanto à indigitação de Passos Coelho para formar governo, o PR, na minha modesta opinião, não fez mais nem menos que aquilo que é normal fazer, de acordo com as regras constitucionais.
-Quanto à dialética entre partidos e comentadores, gerada pelas palavras que sobraram ao ato, não me manifesto. Costuma dizer-se que, as ações ficam com quem as pratica, e neste caso, não me parece que as palavras e/ou a forma como foram proferidas, acrescente ou retire alguma coisa ao resultado que se verá a seguir.
-Quanto ao futuro, daqui a um ano... com a entrada massiva de refugiados, duvido que daqui a um ano ainda haja Europa Unida e euro.
Veremos.
Caro Pedro Almeida,
ResponderEliminarNão estou fora das suas oportunas reflexões, mas estou muito curioso de conhecer (como o Senhor também, certamente) o conteúdo do acordo de governo apoiado pelas 3 esquerdas...deverá ser uma obra-prima de redundâncias, prenhe de enunciados de princípios gerais, suportado por uma vasta bateria de advérbios e adjectivos, procurando deixar para tempo futuro as questões práticas da governação.
Quando chegarem ao tempo das decisões concretas, começarem a surgir divergências insanáveis, designadamente em matéria de gestão das finanças públicas e de condução da política económica em especial, lá se vão as redundâncias, os advérbios e os adjectivos, vai ser o "cabo dos trabalhos".
Eu, pela minha parte, preferiria deixa-los "governar", nós cá estaremos para avaliar a excelente qualidade dessa governação; não se perca tempo com cenários alternativos, isso só dá argumentos às ditas 3 esquerdas, ele devem assumir responsabilidades governativas quanto antes, ter a oportunidade de provar o que valem a fazer, a decidir,não apenas a discursar, isso é facílimo e nisso estão treinadíssimos.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarCompreendo o seu ponto de vista. Talvez o melhor seja isso mesmo. O problema é que a fatura vai chegar aos cidadãos...Mas já agora, deixe-me perguntar-lhe o seguinte: quando começarem as divergências a sério das matérias a que se refere, imaginando-se o voto contra do PCP e do BE, o que deverá fazer o PSD e o CDS na AR?
Leia-se "...o que deverão fazer..."
ResponderEliminarO António Costa pode aproveitar-se, agora, deste suposto entendimento com o PCP e o BE para chegar a Primeiro-Ministro e depois perante as matérias difíceis e perante o voto contra do PCP e do BE a elas, mostrar-se muito disposto a negociar com o PSD e o CDS...
ResponderEliminarAliás, ontem o Dr. Marques Mendes referiu esse cenário na SIC.
ResponderEliminarCaro Henrique Pereira dos Santos,
ResponderEliminarO capítulo essencial do acordo das 3 esquerdas resume-se em poucas palavras: afastar, o mias rapidamente possível, o que eles denominam de "governo de direita".
Os outros capítulos deverão ser redigidos em mirandês técnico, para que lhes possa ser dada, em cada momento, a interpretação que a cada um dos 3 melhor convier...
Ou seja, quando chegarem á discussão de temas de política, de natureza prática, como referi no comentário anterior dirigido ao Pedro de Almeida,vai ser um pandemónio, vai ser "o bom e o bonito", mas isso será para mais tarde.
Para já o que verdadeiramente importa, aquilo por que o País inteiro e, em especial, os genuínos democratas reclamam, é que seja dada execução ao 1º capítulo.
Tudo o resto é secundário, como se compreenderá.
Caro Bartolomeu,
Não o fazia tão céptico em relação ao temos dos refugiados...
Mas pode muito bem acontecer que os responsáveis do ansiado e patriótico governo das 3 esquerdas, quando chegar a hora da verdade, venham brandir esse argumento, aproveitando-o, com a arte tão elaborada que cultivam na descoberta de culpas e desculpas para tudo, para justificar o "inesperado" insucesso do seu glorioso consulado governativo.
O ilustre Bartolomeu tem mesmo visão do futuro...
1. Existe uma lei física que afirma que a entropia aumenta com a temperatura. A espuma opinativo é por ela parcialmente explicada. Há que não esquecer que o opinante é pago ao volume sendo um forte incentivo para a conversão de conteúdo líquido em espuma.
ResponderEliminar2. A manipulação do mercado e o bluff são muito interessantes mas enquanto se não transformam em factos são receita para perdas. Costa está na maré alta com muito bluff. Espero que não se estatele a fundo levando o PS com ele.
3. A coligação tem do seu lado fracas expectativas, algo que já vimos no passado...
4. Não deixa de ser interessante ver os boys da coligação branquinhos como a cal perante o risco de perda de emprego...
Caro Dr. Tavares Moreira...
ResponderEliminarDigo, tal e qual como no poema de Pedro Abronhosa, no tema "Quem me Leva os Meus Fantasmas"
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta
E para que servem as palavras
Se a casa está deserta
E nunca como hoje, meu estimado amigo, a "casa" esteve tão deserta... tão deserta de vontades, tão deserta de valores morais, humanos e sociais. Nunca, como hoje, a "casa" se achou tão deserta de ideais, de coragens, de sentido, outro que não seja o de destruir aquilo que todos percebem a necessidade absoluta de erguer.
Também não acho que tenha sido duro, excessivo, brutal ou piramidal. Foi, pela 456ª uma excelente oportunidade para estar calado porque pela 456ª foi botar faladura quando deveria ter estado calado como todos os seus antecessores que estiveram sempre calados. Quer fosse antes das eleições, quer fosse depois.
ResponderEliminarA questão óbvia que se deveria colocar ao PR deveria ser "porque é que aquele discurso do 'vão votar' não lhe chegava?"
Ilustríssimo Mandatário do Réu,
ResponderEliminarRelativamente ao seu inspirado comentário, dois pontos apenas: (i) quando no final do ponto 2 afirma "...espero que não se estatele...", o "não" foi acrescentado por lapso ou é mesmo para valer?; (ii) quanto ao ponto 4, não duvido que ande por aí muita gente amarelada face ao risco de perder o emprego obtido por via político/partidária.
No entanto, caso tenha sido utilizado com "um granu salis", em comentário a este Blog - admito que não, mas em todo o caso é bom esclarecer - posso tranquiliza-lo quanto aos escribas deste Blog, os quais não ocupam cargos de nomeação política e muito menos partidária, são totalmente independentes dessas modas e é esse um dos factores que lhes dá total independência para exprimirem as suas ideias.
Caro Pires da Cruz,
Alguma coisa o PR tinha de dizer e, desde que indigitasse quem indigitou e mais nada dissesse, seria zurzido em igual medida, pode crer.
Repito que não estou a qualificar de boa ou má a intervenção pois entendo que só o decurso do tempo permitirá coljer informação para fundar essa qualificação - neste momento, não existem dados para, objectivamente, podermos apoiar ou anatematizar os pressupostos da intervenção.
Eu tenho uma suspeita ou um "feeling" de que, mais cedo do que mais tarde, esta intervenção vai ser recordada como uma antevisão dos cenários que se vão desenrolar ao longo dos próximos meses, e acabará por ser lembrada como branda ou mesmo muito branda.
Mas não é mais do que uma suspeita ou de um "feeling" - alguns dirão que se trata de pura malvadez - não são dados substantivos.
Meu Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO PS por muito mal que ande é necessário à democracia portuguesa (tal como o BE e PCP).
A sua interpretação nunca me passou pela cabeça. A razão pela qual por aqui vou lendo e comentando é a ar limpo que se respira. É certo que o Pinho Cardão é o mais "clubístico" do grupo, mas hoje está triste coitado (e em boa companhia).
Quanto à intervenção do PR, será esquecida como aquela do "insustentável". Não há que alimentar grandes ilusões -- o anfiteatro cheio do ex-PM assim o demonstra. Penso que o PR também não tem grandes ilusões, foi também por isso que votei nele, espero que contenha o risco de Portugal virar a Argentina da Europa.
Cumprimentos, IMdR
Ilustre Mandatário do Réu,
ResponderEliminarRegisto seu novo comentário, ficando no entanto a dúvida quanto ao uso - ou não uso - do advérbio de negação na frase que assinalei.
O não uso não implicaria, por certo, o desaparecimento do PS enquanto partido necessário para a democracia portuguesa...
Convenhamos que um estatelamento não é o fim da existência, as suas consequências podem ser sanadas em qualquer oficina de reparações...
Mas, passando á frente, não deixo de notar que do seu primeiro comentário parece ser possível extrair uma segunda derivada, ao reflectir o que por aí irá de ansiedade, nas hostes das 3Esq, para a ocupação de cargos, de nomeação político-partidária, na imensa máquina do Estado (Administração Central não só).
Deverá aliás esse um dos móbeis e factor de coesão decisivos na estruturação da grande coligação que se propõe revolucionar a política portuguesa...uma grande revolução nos deve esperar, cultural e não só!
Relativamente à tristeza do Pinho Cardão, relembro que se trata de um Dragão de Ouro, calculo que não estará muito triste com o pavoroso insucesso das águias...
Caro Tavares Moreira, o PR só teria que dizer alguma coisa por causa do que disse antes das eleições. Não me lembro de nenhum dos seus antecessores ter dito o que quer que seja até à tomada de posse e, mesmo aí, acho que sairam calados.
ResponderEliminarVejam e ouçam o vídeo sobre as maravilhas que parecem avizinhar-se...
ResponderEliminarhttp://www.rtp.pt/noticias/politica/medidas-a-esquerda-aumentam-contas-publicas-em-dois-mil-milhoes_v867944
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarNão comento se o PR deveria ou não ter dito o que disse, pela simples razão de que já disse e, por consequência, esse remédio (não dizer) deixou de ser aplicável.
Nem, volto a dizer, estou a qualificar se o que disse foi ou não bem dito, foi ou não oportuno, pois só o tempo permitirá enunciar tal juízo com base em factos e não em suposições.
Veremos, como referi...embora suspeite que ainda vai ser muito lembrado este discurso, e não será necessário mais de um ano para que tal suceda...
Caro Pedro de Almeida,
Finalmente vamos ter oportunidade de assistir, ao vivo, ao há muito prometido e feérico espectáculo dos amanhãs que cantam.
Dizia-me ontem um amigo atento a estas coisas que este espectáculo poderá ser muito interessante, mas vai custar-nos caro.
Ao que eu retorqui: mas então o meu Caro queria assistir a um espectáculo destes sem pagar?! Ele sorriu e não retorquiu.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarHá, segundo uma tese que li hoje baseada no encaixar perfeito das declarações do Costa à saída da audiência com o discurso do PR, a possibilidade do Costa ter mentido nas declarações à saída da audiência com o PR. E, pelas notícias que correm, isso parece óbvio. Mas aí cabia ao PR dizer com toda a clareza "esse gajo é um aldrabão, aqui não entra mais." e não andar a enrolar com o PCP e o BE. Porque nós, os camponeses, temos o direito de saber e ele o dever de informar, que foi aldrabado; porque isto ainda é uma democracia, ele ainda é PR e nós ainda somos os soberanos disto, não é ele. E é por isto que ele será sempre o pior dos PRs, porque nunca compreendeu que é apenas o mais bem pago dos empregados, não manda nada fora do estado.
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarMas o Senhor pretende exibir alguma surpresa pelo facto de o referido Dr. AC ter mentido ao PR?
Isso muito me surpreende a mim, pois sempre pensei que o ilustre Comentador JPC conhecia, "de ginjeira", as técnicas mais banais utilizadas por um "dealer" de banha-de-cobra" que saiba do seu ofício.
Mentir, ao PR ou a qualquer outro dignitário, nacional ou estrangeiro, singular ou colectivo, será sempre uma arma essencial para este reputado "dealer", o Eurostat e Ecofin que se vão preparando...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarA minha surpresa não é que o Sr. AC minta, a minha surpresa vem do facto de ter mentido naquelas circunstâncias em que compromete a pessoa com quem esteve a falar. E, aparentemente, não sou só eu que fico surpreendido com uma falha de carácter dessa dimensão. Mais surpreendido fico, então, pelo facto de o PR ter deixado confundir os cidadãos quando lhe bastava dizer, logo no dia seguinte: "Este caramelo é um aldrabão, enquanto o PS não arranjar outra pessoa escusa de aparecer". Porque não é o AC que o PR deve defender, é a nós.
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarCom toda a franqueza, o Senhor não considera que do discurso de PR se pode deduzir exactamente isso, ou seja que o seu interlocutor, afamado "dealer" no comércio do dito produto, é uma entidade que não merece confiança?
E que foi exactamente essa parte da mensagem, apesar de dita de uma forma que o Senhor considera excessivamente diplomática, que quase fez "cair o Carmo e a Trindade", como se dizia nos meus bons tempos de estudante no Porto?
O que teria acontecido se o PR tivesse sido tão explícito como o caro Comentador pretende? Quereria ver o Prof. Manuel Alegre a imolar-se pelo fogo e o Prof. Galamba em greve da fome? Deus nos livre de tal tragédia!