Ser considerado como um "chato" é algo que me perturba e confunde. Não é a primeira vez que fazem essa afirmação. Talvez seja mesmo um chato. Por essa razão sou obrigado a afastar-me de certos locais. Nunca tive a intenção de por um leitor a bocejar e a vomitar fel de mal-estar. Se o fiz, lamento. Não gosto de provocar distúrbios biliares a ninguém. Habitualmente costumo tratá-los!
Venho até aqui por uma questão saudosista. Não sei se faço bem. Tenho dezenas ou, talvez, centenas de escritos guardados. Este surgiu de uma breve reflexão. Não sei se faço bem em o publicar. Quem sabe se não terá alguma ação colerética! Ainda estive tentado a socorrer-me de um citação. Mas o melhor é ser breve…
Citações
Lembro-me de ouvir há muitos anos, na abertura de um simpósio, o discurso de uma autoridade. O senhor era vaidoso e, sobretudo, pretensioso. Não foi difícil fazer o diagnóstico ao fim de algum tempo. Ainda não tinham passado cinco minutos e já tinha bombardeado a audiência com mais de uma dezena de citações. Abri a boca de espanto porque calculei que àquele ritmo iria sofrer a maior saraivada de "eloquência" da minha vida. E assim foi. Nunca vi até hoje algo semelhante. Não fiz grandes comentários nos intervalos, mas mesmo assim larguei uma ou outra frase a testemunhar um certo grau de indignação, recordando um comentário que tinha ouvido há algum tempo, mas sem conseguir citar o autor. Esqueci-me do seu nome, felizmente! Nunca mais larguei uma frase cheia de sabedoria, "a eloquência de um orador é inversamente proporcional ao número de citações". Se houver necessidade de as usar, por motivos de continuidade de um discurso ou realce de um conceito, então, podemos socorrer de uma ou, no máximo, duas. É o que costumo fazer, mas é raro, evito-as quase sempre, até porque a minha memória, apesar de ser boa em termos de conceitos, é péssima quando se trata de nomes e incapaz de recordar as citações com precisão. Fico com a boca "semiaberta" quando ouço ou leio tamanha eloquência. A única vez que fiquei mesmo com a boca escancarada foi a que referi no começo deste texto.
Recordo este episódio, e lembranças associadas, depois de ler que muitas citações, que são usadas a torto e a direito, sofrem de falsa paternidade. Sorri quando acabei de ler o artigo. Uma delas, "Eppur si muove" (e contudo ela move-se), atribuída a Galileu Galilei quando foi obrigado a abjurar os seus achados perante a inquisição para salvar a pele, nunca a considerei como viável. Se Galileu a tivesse dito estaria feito ao bife. É o dizias! Aquele pessoal pintado de hipocrisia purpúrea tinham-no assado. Quem inventou a frase foi um escritor italiano, Giuseppe Baretti, mais de um século depois, ao escrever sobre a vida do homem que podemos considerar como o pai da revolução científica. Digam o que disserem a frase assenta-lhe que nem uma luva e reforça o conceito do valor da verdade quando estamos perante quem a não queira aceitar. Se não a disse, deverá tê-la pensado.
Outra frase, que ouço com frequência, e que sempre aceitei como tendo sido produzida por Abel Salazar, "o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe", é da autoria do médico, filósofo, músico, escritor e poeta espanhol José de Letamendi (1828-1897). Qual a importância deste último comentário? "Dar o seu ao seu dono" seria uma razão suficiente, mas não posso deixar de afirmar que esta citação assenta que nem uma luva ao grande artista, professor e médico que foi Abel Salazar.
Estou convicto de que muitas citações atribuídas a certas individualidades não foram produtos dos seus pensamentos e dizeres mas sim inventadas ou criadas por outros e que lhes ficam não só bem como reforçam certos conceitos que nos ajudam no dia-a-dia.
Caro Professor,
ResponderEliminarSe há coisa que nunca consegue é ser chato.
Pelo contrário, queremos é que nos continue a chatear com a frequência de outrora!
Vá lá...
Caríssimo Amigo,
ResponderEliminarPosso garantir-lhe que faz bem vir aqui. Os seus textos sempre bem escritos e sempre repletos de bons ensinamentos, são sempre agradáveis e convidativos à reflexão.
Se por uma razão que desconheço, causam engulhos e refluxos biliares a alguns leitores... temos pena, que marquem consulta e que se tratem.
Mas que não sejam a causa da sua indesejada ausência d'aqui.
Quanto às "citações": a habilidade para sintetizar, com conta, peso e medida, não é comum a todos os que por algum motivo têm de se dirigir a uma assembleia. Aliás, penso até que muitos, poderão duvidar do efeito que as suas frases estará a produzir nos ouvintes. Isto piorará se o orador for uma pessoa insegura, mal preparada ou se a assembleia não estiver preparada para apreender o sentido do discurso.
Mas quando a segurança da imagem que projetamos e do conhecimento acerca daquilo que estamos a dizer é total, o recurso às situações torna-se absolutamente dispensável. Estou certo que é por isso que o caro Professor não faz uso deste recurso.
Como crítico do "chato" posso dar uma alternativa: é prolixo.
ResponderEliminarSe for assim a dar aulas, chiça!
Se bem que não tenha cabeça com memórias (nem eu) aborda histórias erradamente, como a do Galilei. Sugiro que vá estudar o que se passou. À guisa de lembrança, Galilei foi enterrado em chão sagrado, dentro da catedral de sua terra: nunca poderia ter sido excomungado.
Passe bem melhor.
ainda ha,
ResponderEliminarparece que já não há, se é que algum dia houve.
Crítica é algo bem diferente de ofensa. Crítica é contraposição de ideias; ofensa, é manifestação de falta de educação.
Crítica pode ser mais ou menos pretinente, mais ou menos veemente mas, carece sempre de fundamentação.
Ofensa, para além de demonstrar falta de princípios, nada consegue justificar para além dessa mesma falta.
Para mais, o ou a "ainda ha", eu e mais um número indeterminado de outros, somos visitantes; nessa condição, nenhum outro direito nos assiste, que o de ler. Comentar, é uma prerrogativa que os autores do blog simpáticamente nos conferem.
Não é portanto admissível e muito menos justificada, a falta de atenção e de educação que coloca nos comentários que aqui coloca.
Repense a sua atitude. As pessoas que aqui escrevem, merecem no mínimo o nosso respeito.
Caro Professor
ResponderEliminarSe ser chato é deliciar-nos com os seus escritos e as suas lições, então continue a ser chato, que nós gostamos.
Por favor não faça a vontade aos mal dizentes, aos "críticos" venenosos e a todos os perturbadores e vá sempre "falando com a pena" nas páginas deste blog, única maneira daqueles que, como eu, temos de aceder à sua saborosa erudição.
Todos os dias aguardo mais um "post". A sua falta nos últimos tempos, foi muito sentida.
O meu respeito
Bartolo_meu ou Bartolo_delas, você não sabe o que é a ofensa.
ResponderEliminarEu nunca aceitei e nunca respeitei ignorantes ou tolos, tontos.
Encha páginas de blogs como o prof faz. Quem sai aos seus...
Por imposição do destino tenho tropeçado em posts seus. Bye, bye
Cada cavadela... sua minhoca.
ResponderEliminarainda ha, compreenda algo tão simples como o ar que respira; tem todo o direito de não aceitar e não respeitar todos os que insiste em adjetivar mas, naquilo que é seu, não naquilo que é de outros apesar de se achar em sítio público.
Critique, descabele-se mas não ofenda, não adjective. Não se torne a si mesmo num adjectivo... qualificativo.
Percebe a simplicidade da coisa?
Ja tinha saudades de o ler! Obrigada por voltar. Bom fim-de-semana! MM
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