segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Mais tarde ou mais cedo, não precisaremos de Moeda própria?


  1. A teoria (e a prática, progressiva e irrecusável) do “Virar de Página da Austeridade”, aliada à promessa de “Reverter o Empobrecimento”(…) e, ainda, o teor das declarações da generalidade dos candidatos à presidência da República sugerem, de modo eloquente, que entramos num tempo novo.
  2. E entramos num tempo que diverge, radicalmente, do tempo que vivemos até às eleições de Outubro e que ficou marcado, de forma indelével, por um enorme esforço de ajustamento económico e financeiro, tornado inevitável pela catastrófica gestão macroeconómica que conduziu ao colapso financeiro de Abril/2011…
  3. …e à celebração de um Memorando de Entendimento entre o penúltimo Governo e os credores internacionais, estabelecendo os termos do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) cujo cumprimento seria essencial para que a República e outros agentes económicos voltassem a ter acesso a financiamento nos mercados.
  4. No tempo que estamos agora a viver, parece que tudo mudou: bastaram o episódio, a todos os títulos lamentável, da resolução do BANIF - tremendamente embaraçoso para o anterior Governo - bem como os episódios, ainda mais lamentáveis, de lapsos gravíssimos no funcionamento de hospitais públicos, para que no discurso político modal o tempo da Austeridade seja hoje tratado quase como um equívoco nacional, uma desnecessidade…
  5. …se não mesmo uma violência injustificada sobre a população, quando poderíamos ter optado, FÀCILMENTE (…), por outras soluções!
  6. Tal como as coisas se colocam hoje, não surpreenderá que volte a ser moda a popularíssima modalidade desportiva que ficou conhecida por “Lançamento de Dinheiro para Cima dos Problemas”, que tão bons frutos gerou - basta recordar o facto de termos sido o primeiro País do Euro a incorrer em situação de défice excessivo, nos já distantes anos de 2001/2…
  7. Só existe um obstáculo, e sério, ao prosseguimento de uma nova era de facilidades na gestão financeira do Estado: o Euro, esse incómodo colete-de-forças que nos impõe um mínimo de disciplina financeira para não termos de incorrer em novo surto de Austeridade…
  8. Mas o caminho está traçado e não tardaremos a viver episódios que demonstrem a terrível incomodidade das regras do Euro face às novas aspirações nacionais…bem sei que o baixo preço do petróleo vai ajudando por enquanto a adiar os efeitos deletérios do “Virar de Página” sobre os equilíbrios económicos alcançados com elevado custo…
  9. …acontece todavia que esta fase de petróleo barato não durará sempre e, quando mudar, a nossa incomodidade dentro do Euro tornar-se-á ainda mais visível.
  10. Daí a pergunta: mais tarde ou mais cedo, não viremos a precisar de Moeda própria?

9 comentários:

  1. Talvez não. A mera mudança de presidente da república pode fazer com que um segundo resgate, queira a troika aturar estes malucos outra vez, possa ter o sucesso que este não teve. Senão, como eu gosto de dizer, eu não vou sair do euro. Se há quem vá sair, força...

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  2. Como certamente terá entendido, o cenário que coloquei como (eventualmente) determinante da opção por moeda própria, tem a ver com a necessidade de não interromper - ou inverter, o que seria ainda pior - a prosperidade fácil associada ao Virar de Página.
    Se nos dispusermos a renunciar a essa prosperidade fácil, poderemos, por certo, continuar no Euro.
    Mas reconheço, em função dos parâmetros actuais, será uma decisão verdadeiramente dilacerante - qualquer que seja o PR...

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  3. Eu já dou como certo o segundo resgate. Afinal, basta a DBRS começar a embirrar com as decisões brilhantes do banco de Portugal que, conjugadas com o Virar de Página. É que será caso de polícia, até para uma agência de rating, insistir em considerar isto um país de gente séria depois das últimas semanas. E sem DBRS, não há BCE...

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  4. Parece-me que sim, caro Dr. Tavares Moreira; mais cedo que tarde, viremos a precisar de moeda própria... mais ou menos pela mesma altura em que já estiver tudo nacionalizado.

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  5. Caro Pires da Cruz,

    Não será assim tão certo, caro Pires da Cruz, a malha preventiva está agora muito mais apertada e os mercados têm os holofotes em funcionamento...por isso é que eu digo que a dado momento o grau de incómodo causado pela camisa de forças do Euro pode tornar-se insuportável, para esta nova geração de salvadores da Pátria, e a tentação de encontrar escapatórias pode tornar-se incontrolável.
    Aguardemos, vamos ter de aguardar ainda um valente espaço de tempo.

    Caro Bartolomeu,

    Quem sabe se o Senhor não terá razão, quem sabe...mas só espero que essa potencial vaga de aquisições/confiscos por parte do Estado/Nação, não atinja os nossos conhecidos FUSO, Capoeira, Valentim, Laurentina, Cave Real, Vela Latina, Coelho da Rocha, O Talho, o Saraiva's e "tutti quanti"...isso seria uma calamidade, transformar essas pérolas da boa cozinha em cantinas do Estado!
    Mas quanto a esse risco sinto-me confortável, pois estou certo de que, antes disso acontecer, os nacionalizadores teriam que se haver com um tal Bartolomeu...e a refrega seria memorável, cruenta até mais não poder, terminando com a vitória das hostes do Bem!

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  6. Deus não ouça - o "escudo novo" seria uma desastre, como o caro Tavares Moreira muito bem sabe.

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  7. A haver contenda, caro Dr. Tavares Moreira, os conjurados terão de se reunir no Capoeira. Ha que respeitar a tradição histórica... as grandes revoluções nascem na Capital Nortenha e vêm conquistando e aregimentando até à foz do Tejo.

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  8. Caro Tiro ao Alvo,

    Eu sei muito bem (ou julgo saber) o que significaria o abandono do Euro e a adopção de uma nova moeda, própria.
    Mas isso não significa que a corrente dos acontecimentos, caso entremos em novo descontrolo, não nos empurre para tal desfecho.
    Tal solução teria sempre, como é óbvio, a nossa mais veemente oposição.

    Caro Bartolomeu,

    Fica combinado, no Capoeira ou no Valentim que é ainda um pouco mais a norte (Matosinhos)! Só falta saber a quem competirá o primeiro grito de "às armas"! Proponho que seja o Bartolomeu, por razões que se me afiguram óbvias.

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  9. Os conjurados que no primeiro dia de Dezembro de 1640 puzeram fim ao domínio espanhol dos Filipes, reuniram-se no Palácio de São Domingos, junto ao Rossio e à igreja votada ao mesmo santo.
    Nós, que não somos "Dom" nem monarquicos, destacamo-nos pela diferença - Ao Valentim!!!

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