quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Reestruturação da dívida: uma discussão "pro bono"?


  1. O mote ficou lançado no debate generalista, dos dois últimos dias, em torno da voluptuosa proposta de OE/2016: vamos então discutir as ideias inspiradoras, de Bloco e PC, em vista da realização do sonho da reestruturação da dívida, um exercício de alto mérito intelectual e com raro alcance pedagógico.
  2. O tema não é novo, tendo inclusivamente mobilizado elites bem pensantes do País – recordo o “dream team” dos 77, com uma bem sonhada solução reestruturadora, que levou o País mediático a grau elevado de emoção – mas, desta vez, parece que a AR, depositária das derradeiras esperanças do País, se vai ocupar mesmo da sua discussão.
  3. Todavia, na sessão de ontem salvo erro, o MF (com o beneplácito do PM, obviamente) parece ter deixado claro que uma coisa é discutir a reestruturação – podem discutir à vontade, senhores Deputados, se isso lhes confere especial deleite, como parece – outra coisa é avançar com uma proposta de reestruturação para os credores, que nisso o Governo não está interessado.
  4. Sendo assim, fico com a ideia de que a discussão em torno da reestruturação da dívida se vai resumir a um exercício intelectual, do mais fino recorte literário, que certamente muito galvanizará alguns senhores Deputados, mas que no final repousará, em sono profundo, no arquivo das actas da AR, sem mais consequências.
  5. Fazem-se votos, pois, para que os Senhores Deputados se empenhem na realização pro bono de tal exercício,  deixando para a posteridade apontamentos imorredoiros de elaboração intelectual - outrora impensável, mesmo.
  6. Os credores, esses, poderão dormir descansados, por ora, mas terão certamente o direito de ficar a duvidar da sanidade intelectual de um Povo que tais representantes escolhe…

5 comentários:

  1. Anónimo15:50

    Caro Tavares Moreira, o Parlamento já tem tão má imagem que mais ridículo, menos ridículo já ninguém lhes liga patavina.

    Levar uma discussao dessas ao Parlamento servirá apenas para passarem mais uma vergonha. Aliás, se esta gente soubesse um bocadinho de história nem sequer pensava nessas parvoeiras. Não conheço nenhum país, desde o Século XVI, que tenha restruturado unilateralmente a sua dívida e saído bem do assunto. Inversamente conheço uns quantos que já chegaram até a ter dívidas superiores à Portuguesa (em % do PIB, naturalmente) e conseguiram não apenas ir pagando a dívida como enriquecendo no processo. Um desses países é, por exemplo, a Síria de que hoje em dia tanto se fala. Mas esta última opção, claro, não interessa à vermelhagem que tudo o que procura é a miséria da população. Não sei se conscientemente se por ideologia mas é o que procuram. Isto de enriquecer, ter dinheiro, a população viver bem, não lhes convém absolutamente nada. Já tirar dinheiro aos ricos, mesmo que os pobres fiquem ainda mais pobres, é para essa canalha ouro sobre azul.

    Enfim, é a política Portuguesa. E, enfim, a população que embarca tão facilmente nessas tontices também não é melhor portanto estão bem uns para os outros.

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  2. Dr. Tavares Moreira quais as consequências para quem tem Certificados de Aforro caso houvesse a renegociação da dívida?
    Grato

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  3. Caro Zuricher,

    Se estes excelentes estrategos da reestruturação da dívida fossem dotados de alguma imaginação criativa (da destrutiva estão generosamente dotados), poderiam sugerir aos credores a troca de dívida pública por acções do Novo Banco, ao PAR...
    Poderia ser uma maneira "engenhosa" de nos vermos livres das duas coisas, ao mesmo tempo: dívida e NB...

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  4. Anónimo17:17

    Caro Tavares Moreira, olhe, por acaso o que está a acontecer com os titulos de dívida do Novo Banco talvez pudesse ser uma pista para o que acontece em caso duma reestruturação de dívida. O que duvido é que SExas queiram aprender a lição...

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  5. Caro opjj,

    Que me recorde, a dívida pública vendida ao retalho - CAF e Certificados do Tesouro - foi sempre excluída das propostas de reestruturação.
    Os pró-reestruturação, apesar de criaturas destemidas, dão algum valor à sua pele...

    Caro Zuricher,

    Sugiro também que atentemos nas yields da dívida grega a 10 anos - bem acima de 10%, por estes dias - para termos uma imagem dos efeitos de uma potencial reestruturação que, neste caso, até beneficia do manto protector dos credores oficiais...

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