Por
coincidência, estive em S. Pedro do Sul nos dias do grande incêndio na Serra do
S. Macário.
À chegada,
no sábado à tarde, em conversa com um proprietário local:
-Então, como
é que as coisas se estão a passar?
- Olhe, uma desgraça
e uma vergonha. Na serra, apenas comandos da protecção civil. Perante os pedidos
de apoio, a orientação era não actuar.
-E como
fizeram?
-O povo da
freguesia organizou um contra-fogo e foi isso que salvou pelo menos uma área
importante. Um grupo , à frente, cortava o mato junto à estrada, seguia-se uma
máquina que o colocava fora da zona e um terceiro grupo munido de reservatórios
de água molhava o local. O contra-fogo resultou.
-E não
conseguiam o apoio da protecção civil?
-Olhe, de
uma da vezes que me desloquei ao comando, chamavam os aviões; e da segunda,
reclamavam o almoço…
No dia
seguinte, com outra pessoa, de outra localidade:
-Olhe, os
bombeiros não actuavam e os comandos estavam longe. A população juntou-se e organizou-se
um contra-fogo, que acabou por resultar. Estranho é que não tivesse havido uma
intervenção atempada. Na passagem do fogo de Arouca para o S. Macário, a
vegetação das encostas era rasteira e facilmente o fogo podia ser travado aí. Ao
atingir a área florestal , tornou-se imparável. O que já me
tinha sido dito pelo primeiro interlocutor.
No sábado à
noite, com o recrudescer do fogo, eram às dezenas os carros de bombeiros dos
mais diversas terras, do longínquo Mourão ao Estoril, passando por todo o
centro do país. E um número infindável de viaturas de comando Mas o mal estava
feito.
No rescaldo,
num bom hotel de quatro estrelas, 8 personalidades de impecável traje preto com as letras de comando impressas
tomavam o pequeno-almoço…
O fogo real estava
extinto.
Nota: O que referi é
factual e objectivo. E não envolve qualquer juízo de valor sobre os critérios de actuação
ou não actuação da Protecção Civil. O inquérito pedido, e bem, pelo Presidente
da Câmara fará luz sobre o assunto.
Pois não, tudo o que o caro Dr. Pinho Cardão referiu,não envolve quaisquer juízos de valor. Esses juízos ficam por conta daqueles que viram surgir-lhes pela frente um monstro incandescente, que lhes devorou os parcos haveres de uma vida, e reduziu a cinzas o cada vez mais reduzido património florestal e animal do país, algumas exclusivas, outras quase extintas, enquanto as viaturas todo-o-terreno dos comandos andaram a cirandar pelas estradas de terra batida num histerismo cinematográfico, ou melhor, mediático.
ResponderEliminarEsperemos que os dois exemplos que referiu e outros que hipoteticamente tenham igualmente ocorrido, possam servir de exemplo futuro, tanto para quem dá ordens aos bombeiros, como para quem quer proteger aquilo que é seu.
Já agora, que não se esqueçam dos incendiários e seus mandatários; há quem opine que em lugar de os prender, enviar a tribunal e depois os ver sair em liberdade mediante pagamento de caução ou com o reconhecimento de inimputabilidade (aos incendiários, porque aos mandatários nunca se chegam a conhecer), os deviam meter no meio do fogo. Penso que para esses, o melhor remédio, com mais probabilidades de os "regenerar" é amarra-los e enfia-los dentro de um poço com água durante um bom par de dias. Pois se eles adoram as chamas, devem abominar a água e os tratamentos de choque "térmico" resultam em muitos casos..
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarO que referi não envolve qualquer juízo de valor, pelo simples facto de, apesar de o relato ser objectivo, não conhecer o enquadramento global da situação. Mas que, em locais diferentes, se repetiu a cena, é coisa que dá que pensar.
Por outro lado, basta conhecer a zona entre Arouca e a serra do S. Macário, de encostas e encostas de mato rasteiro, para verificar que, se o fogo aí fosse atalhado,não passaria o cume da serra para as zonas muito arborizadas da vertente de S. Pedro do Sul. E aí, não fora o esforço das populações locais, o desastre seria inimaginável.
Na zona, ninguém culpa os bombeiros, mas a indignação era grande quanto aos comandos. E aí, eu vi, eram numerosos, e dotados de viaturas de enorme qualidade e envergadura, que aliás nunca tinha visto.
Apesar de analfabeto, consegui ler tudo o que o estimado Amigo escreveu. Li que não faz juízos de valor, mas eles estão implícitos naquilo que escreveu e, nesta flagelante situação, perante os factos inegáveis e incontornáveis, é impossível não estabelecer esses juízos. Percebo que afirme não o fazer para salvaguardar as excepções. Que as houve, inegavelmente. Mas no meio de tanto trigo, também houve muito joio e a sua consciência não quer de maneira alguma, tomar a parte pelo todo. É justo que assim pense, porque pensa com a razão mas, o seu coração obriga-o a revoltar-se com a iniquidade, com a indigência e a subordinação a valores para os quais a vida humana e o património privado e público se colocam a baixo de outros valores mais importantes, como sejam, por exemplo,,, os políticos.
ResponderEliminarAcredito plenamente. Tenho em outros anos assistido ao desenrolar de incêndios florestais e o que acontece na generalidade é uma tremenda falta de operacionalidade e eficácia no ataque aos fogos, reveladoras de um desconhecimento prático real da evolução dos fogos.
ResponderEliminarParece não haver comando ou então um desconhecimento prático de quem comanda.
Ao que parece os bombeiros e os meios aéreos obedecem ao comando da Protecção Civil que, ao que tenho assistido, é de uma incompetência tremenda. Não sei como são escolhidos e nomeados estes comandos, mas uma coisa é certa, tais comandos não têm tido a resposta eficaz e rápida que é necessária.
A Autoridade De Protecção Civil tem um site muito “bonito” e com muitas informações sobre incêndios, têm gabinetes muito bem equipados, no terreno têm jipes muito bonitos, mostram-se com fardas muito bem engomadas, só que no ataque aos fogos é um desastre total.
O que o Pinho Cardão observou passa-se de modo semelhante na generalidade dos incêndios florestais por esse país fora.
E para ajudar à festa,
ResponderEliminarnunca vi o presidente da Liga de Bombeiros
no terreno ou numa das sedes dos bombeiros empenhados.
Mr Soares, empregado ali pelo PM, depois de impedido de continuar na autarquia.
Desmultiplicou-se nas TV, desfazendo nos políticos ignorantes e incapazes, na reforma da floresta & blá-blá do costume.
Quanto ao SNPC, dizia-me alguém, se não se terá tornado num dos problemas da solução?
Quanto ao Aeroporto de Ponte de Sôr, agora na berra por causa do caso filhos do embaixador do Iraque, diz-me alguém: um elemento do SNPC, viaja no dia a dia de sua casa para Ponte de Sôr: de Coimbra. Elevada kilometragem garantida.