domingo, 9 de julho de 2017

União Bancária:morte em Veneza...


1.     Encontrei o título teste Post num interessante texto há poucos dias divulgado pelo OMFIF, um notável “think tank” baseado em Londres, dedicado a temas económicos e financeiros.

2.      A autora desse texto, Danae Kyriakopoulou, economista-chefe do OMFIF, questionava as soluções encontradas para os desequilíbrios de dois bancos italianos da região de Veneza – a Banca Veneta e a Banca Popolare de Vincenza que, encontrando-se em situação crítica, foram incorporados no Intesa San Paolo (2ºmaior banco de Itália), através de um forte apoio financeiro do Tesouro Italiano - considerando-as à margem das regras da resolução bancária.

3.     Em concreto, os activos e passivos daqueles dois bancos, com excepção dos activos considerados tóxicos, foram transferidos para o Intesa San Paolo, ao qual o Tesouro Italiano atribuiu uma compensação de € 5,2 mil milhões para equilibrar a dita transferência, mantendo os rácios de capital.

4.      Adicionalmente, os activos tóxicos foram transferidos para um Fundo” (Atlante, de seu nome, fundo privado de private-equity, a servir de socorrista aos bancos), pelo valor contabilizado nos balanços daqueles bancos, tendo o Tesouro Italiano prestado ao dito Atlante uma garantia de (até) € 17 mil milhões para cobrir as perdas que o fundo possa vir a incorrer com a alienação daqueles activos tóxicos.

5.     Nesta emergência, o governo italiano fez “tábua rasa” das regras da DRRB, Directiva de Recuperação e Resolução Bancária, afastando o famoso “bail-in”, que o chamado Mecanismo “Único” de Resolução (M”U”R) tem a incumbência de aplicar em toda a zona Euro, que prevê perdas, não inferiores a 8% dos passivos do banco intervencionado, a suportar pelos detentores de capital, pelos obrigacionistas, subordinados e seniores, e até (se necessário) pelos depositantes, antes de qualquer apoio estatal.

6.     Os accionistas e os obrigacionistas subordinados sofreram perdas em nível muito inferior aos ditos 8%, mas os obrigacionistas seniores foram integralmente poupados (ao contrário do que, por exemplo entre nós, sucedeu no caso BES).

7.     Uma semana depois, solução similar foi encontrada para o Monte dei Paschi di Siena (MPS), em que o Tesouro Italiano injectou € 3,9 mil milhões, que lhe proporcionarão tornar-se o maior acionista, com 70% do capital.

8.    Também no MPS os obrigacionistas seniores foram integralmente poupados, limitando-se as perdas aos accionistas e credores subordinados (igualmente muito inferiores aos 8%).

9.    Não iria tão longe quanto a Dr.ª Kyriakopoulou, profetizando à União Bancária a morte em Veneza - à imagem do imortal filme de Luchino Visconti dos Anos 70 e do seu trágico personagem principal tão bem representado por Dirk Bogard.
10. Mas não posso deixar de concordar com um economista do Bruegel que, a propósito destes episódios e da forma como o M”U”R vem aplicando as normas da DRRB, comentou: “ o MUR pode ser tudo, mas único é que ele não é...

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