Os dias são como os voos das borboletas, simples, belos, desajeitados, sem sentido, voando como se transportassem a sina da vida. São uma espécie de piscar de olhos involuntário, simples, rápido e impercetível. Os olhos sentem-se protegidos evitando o incómodo de ver e de sentir o que se faz e o que corre em redor.
O café era saboroso. O despertar do gozo dos sentidos empurrou-me para a visão do mundo que se perfilava em frente. Conversas triviais, expressões de espanto, trocas de confidências, e trejeitos educados de insultos, emergiam num ambiente cultural. O ritmo de lazer, e do deixar fazer, imperavam graciosa e cinicamente na pequena esfera envolvente. O tempo fazia o seu papel, bocejava, indiferente, perante o trivial espetáculo, à espera de os ver partir para outras andanças, para a missa, para o passeio matinal, para o exercício ou para o almoço que se avizinhava. O tempo aborrecia-se, mas eu não. Via, fingia que ouvia, e pensava na vulgaridade humana. Tão vulgar como um candeeiros de petróleo vazio. A vaidade, enxertada em sensaboria, parecia querer vingar-se do desprezo e da inutilidade de mais um dia. A chávena esvaziou-se, os sentidos despertaram e as leituras dos jornais tonificaram e amplificaram a miséria e a inutilidade de muitas vidas, perdidas, escondidas ou achadas por esse mundo fora. O melhor da vida, além dos desajeitados voos das borboletas, é o esquecimento temperado com adoçante. Uma mania como qualquer outra.
A imagem matinal de um vulgar dia desperta coisas. Coisas banais.
E assim vai o mundo… cheio de um infinito vazio.
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