sexta-feira, 12 de agosto de 2005
Governadores civis e outros Governadores...
O seu mundo é o do ar condicionado e do recebimento certo no fim do mês…
A sua glória é dizer ao motorista que só tem meia hora para percorrer os próximos 100 quilómetros…porque não quer chegar atrasado…
O seu prestígio é medido pelo número de secretárias, preocupadas com a última mala L. Vuiton e pelo número de assessores, consultores e adjuntos, cada qual o mais ignorante, porque quem tem um olho é rei!...
Por isso não sabem, não compreendem, nem sonham qual o drama dos incêndios para as populações rurais…
…Que não é o da área ardida, mas o dos seus pinhais destruídos, das suas sementeiras queimadas, das suas colheitas desaparecidas, dos seus animais mortos, da sua casa calcinada…
…Que não é o da bio-diversidade atingida, mas o do seu sustento imediato e a prazo e o do fim de muita luta da vida e de muitos projectos futuros…
…Que não é o do número de fogos, maior ou menor, mas da perda de bens essenciais ao futuro dos seus filhos!...
O drama dos incêndios, não é o número, nem os hectares, nem a paisagem protegida danificada…que, tecnocraticamente, Governadores Civis, Ministros e Comunicação Social propalam…
…e passado pouco tempo esquecem…
O drama dos incêndios é a tecnocracia e burocracia instaladas atrás do ar condicionado, das secretárias, dos assessores e das câmaras de TV…
O drama dos incêndios é reduzir as tragédias pessoais a números… é a falta de afectividade, de solidariedade e de memória…
Sou muito sensível a estes dramas: afinal, se pude estudar, devo-o muito aos pinheiros que os meus pais iam vendendo, para financiar o curso dos filhos.
Devo muito aos pinheiros que não foram destruídos por incêndios!…
Fico confuso com as atitudes dos senhores governadores civis quando se põe a questão de declaração de calamidade pública. Fogem dela como o diabo da cruz! Não percebo. Um deles chegou a dizer, e eu bem ouvi, então o que se faria quando morressem 200 pessoas? Portanto, enquanto não morrerem 200 pessoas – e provavelmente terão de morrer ao mesmo tempo, senão não conta – é que o senhor governador civil vai pedir, solicitar, recomendar, declarar o que quer seja a dita declaração de calamidade pública...Entretanto, os desgraçados vão ter a certeza de que vão ficar mais desgraçados ainda. Claro que a solidariedade dos compatriotas irá manifestar-se como é usual nestes casos. Para o cidadão comum a situação é entendida como de verdadeira calamidade.
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